A hipertensão arterial é uma das doenças crônicas mais comuns e prevalentes no mundo. Ela pode aparecer em qualquer idade, mas costuma ter incidência maior após os 50 anos, principalmente entre pessoas sedentárias ou com predisposição genética para a condição. Mas um estudo recente chama atenção ao mostrar que a prevalência global de crianças e adolescentes com pressão alta tem aumentado.
Ao comparar dados de saúde de crianças e adolescentes coletados entre 2000 a 2020, pesquisadores chineses e britânicos identificaram que a incidência de hipertensão arterial em jovens de até 19 anos dobrou, passando de 3% para 6%. Cerca de 114 milhões de crianças e jovens têm a condição no mundo. O resultado do estudo foi publicado na revista científica The Lancet Child & Adolescent Health em 12 de novembro.
Na avaliação do cardiologista Renault Ribeiro Júnior, coordenador de cardiologia do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, um dos principais motivos que explica a alta na porcentagem é o estilo de vida inadequado, com uma rotina alimentar repleta de alimentos ultraprocessados e pouca atividade física. Ou seja, um ciclo que começa na infância e tem se refletido cada vez mais cedo nos jovens.
“Devemos procurar ser o maior exemplo para nossos filhos de como evitar um quadro de hipertensão. Se quisermos ter uma geração saudável, isso deve começar dentro de nossas casas”, aponta o médico.
O que mais preocupa no aumento dos casos são os reflexos no sistema cardiovascular. Quanto mais cedo a hipertensão arterial começa, maiores são as chances de desenvolver condições preocupantes ainda na juventude, incluindo acidente vascular cerebral (AVC), infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca, alterações renais, rigidez arterial precoce, além de impacto negativo no crescimento e desenvolvimento.
“Crianças hipertensas têm alta chance de se tornarem adultos hipertensos, criando um ciclo que aumenta o risco de mortalidade cardiovascular ao longo da vida”, alerta a nutricionista Manuela Dolinsky, presidente do Conselho Federal de Nutrição (CFN).
Fatores que levam jovens ao diagnóstico de hipertensão precoce
Má alimentação
A má alimentação é o principal fator para mais jovens estarem com hipertensão. O consumo excessivo de alimentos ultraprocessados — repletos em sal, açúcar e gorduras — e a falta de alimentos saudáveis aumentam o sobrepeso e a obesidade infantil, fator que eleva o risco de hipertensão arterial.
“Há uma mudança importante no padrão alimentar de jovens: mais refeições fora de casa, maior consumo de fast food, bebidas açucaradas e snacks salgados. A adiposidade elevada favorece resistência à insulina, inflamação crônica e hiperatividade do sistema renina-angiotensina, todos mecanismos fisiológicos que elevam a pressão arterial precocemente”, explica a presidente do CFN.
Prática de exercícios físicos abaixo do indicado
Por conta do uso excessivo de telas, os jovens estão passando cada vez mais tempo em casa e se exercitando menos. É essencial estar em movimento desde cedo para promover um melhor desenvolvimento físico e mental, fortalecer ossos e músculos, além de prevenir doenças crônicas, incluindo a hipertensão arterial.
Estresse e ansiedade
Sobrecarregados com as obrigações comuns da idade, principalmente na adolescência, a liberação de hormônios ligados ao estresse e ansiedade em excesso influencia na ocorrência precoce da pressão alta.
“Jovens expostos a níveis altos de estresse, seja acadêmico, social ou decorrente de ambiente familiar, têm risco significativamente maior de hipertensão, especialmente quando associados a padrões alimentares de baixa qualidade”, diz Manuela.
Excesso de telas e privação de sono
Além de diminuir a quantidade de atividades físicas, ficar no celular por longos períodos prejudica o sono. Sem dormir direito, o risco de desregulações hormonais e estresse aumenta. Como consequência, a alimentação fica pior e a hipertensão arterial encontra um ambiente propício para se estabelecer.
Falta de acesso a alimentos de qualidade
As desigualdades também têm espaço para influenciar esse processo. Sem acesso a alimentos de boa qualidade, o público infantojuvenil recorre a comidas mais baratas e menos saudáveis, como alimentos ultraprocessados e industrializados.
O que comer e o que evitar para prevenir a hipertensão
O quer incluir na dieta:
- Frutas e vegetais diariamente (fontes de potássio, magnésio e fibras);
- Leguminosas, como feijão, lentilha e grão-de-bico;
- Cereais integrais, como arroz integral e aveia;
- Oleaginosas, como castanhas e nozes;
- Fontes magras de proteína, como peixe, frango e ovos;
- Laticínios com menor teor de gordura, como leite desnatado e ricota;
- Ter a água como principal bebida, reduzindo o consumo de sucos processados e refrigerantes.
O que evitar:
- Alimentos ultraprocessados;
- Refrigerantes e bebidas açucaradas;
- Fast food;
- Embutidos e carnes processadas;
- Produtos ricos em sódio e gorduras saturadas.
Como evitar a condição
O aumento dos casos de pressão alta entre crianças e jovens é reflexo do ambiente em que estão inseridos. Por outro lado, mudanças no estilo de vida, como melhorar a alimentação, fazer mais exercícios e dormir melhor, são atitudes simples e capazes de alterar o cenário.
O acompanhamento com profissionais de saúde também é importante. “Quanto mais cedo começarmos, maior a chance de garantir uma vida adulta saudável e livre de doenças cardiovasculares”, ressalta a nutricionista Manuela Dolinsky.







