Os preços mundiais do café, que subiram 38,8% em 2024, podem aumentar ainda mais em 2025, alerta a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). O motivo é a redução da oferta nas principais regiões produtoras do mundo, como Brasil, Vietnã e Indonésia, especialmente devido a problemas climáticos. Exportadores já temem uma falta da disponibilidade do produto no mercado.
Diante deste cenário, a indústria nacional de café não acredita que a isenção de alíquota para importação do produto, que começou a valer nesta sexta-feira (14/3), deve gerar mudanças na atual alta de preços no Brasil. A Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) destaca que a busca por alternativas para redução do impacto da inflação sobre o preço dos alimentos não é uma novidade e já era esperada pelo setor, pois foi a mesma medida tomada em 2022, durante a pandemia.
“Vale lembrar que, em 2022, no contexto inflacionário pós-pandemia, a tarifa de importação sobre o café torrado foi zerada pelo período de março a dezembro daquele ano, sem ter produzido alterações profundas no mercado”, escreveu a Abic.
A alta do preço do café é um fenômeno mundial decorrente de uma combinação de fatores. “A indústria nacional de café vivencia um dos momentos mais difíceis de toda sua história”, disse a Abic.
Desde 2020, a produção nacional e internacional tem sido afetada por questões climáticas, aumento da demanda global pelo café, questões geopolíticas e o aumento do custo de produção. No caso dos problemas gerados pelo clima, de acordo com a FAO, a prolongada falta de chuvas no Vietnã reduziu a produção em 20% na safra 2023/24, com as exportações caindo 10% pelo segundo ano consecutivo.
Já na Indonésia, as chuvas excessivas em abril e maio de 2023 danificaram as cerejas de café, resultando em uma queda de 16,5% na produção e uma redução de 23% nas exportações.
No Brasil, maior produtor e exportador do mundo, o clima seco e quente afetou as plantações e gerou uma quebra de 1,6% na safra 2023/24. Os problemas climáticos também já influenciaram a colheita 2024/25 e agora geram incertezas para o ciclo 2025/26, com temores de uma quebra de oferta.
O aumento nos custos de transporte marítimo foi outro fator que contribuiu para a alta global dos preços do grão.
Dados preliminares indicam que, em dezembro de 2024, o aumento dos preços globais se refletiu em um café 6,6% mais caro para os consumidores nos Estados Unidos e 3,75% na União Europeia, em comparação com o mesmo período de 2023. No Brasil, o café moído registra uma alta de 20,25% no primeiro bimestre de 2025, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Vendas da safra no Brasil
Segundo levantamento semanal da consultoria Safras & Mercado, as vendas de café do ciclo 2024/25 chegaram ao patamar de 93% no Brasil, restando apenas 7% do grão para comercialização interna e externa. Se comparado com o ritmo das vendas do mês passado, é um avanço de cinco pontos percentuais em relação ao mês anterior.
A corrida para as vendas se dá pelos preços recordes do café. De acordo com a Safras, as vendas também estão à frente da média dos últimos cinco anos (2020-2024), que é de aproximadamente 86% para o período.
Para o consultor Gil Barabach, a escassez de café nas mãos dos produtores deve continuar a marcar o final da temporada comercial 2024/25, o que contribui para a firmeza das cotações.
A previsão preliminar de Safras e Mercado é de que as vendas antecipadas da safra 2025/26 de café, somem 13% do potencial produtivo no país. Os números estão bem abaixo da média dos últimos cinco anos (2020-2024), quando as vendas corresponderam a 22% no início de março.
Baracha destaca que há um temor com a falta de café, e complementa que a lenta comercialização está apoiada no “receio climático”, em razão da falta de chuvas. “Além disso, o preço da safra nova, mais baixo do que o atual, limita as vendas antecipadas. Esses fatores continuam dificultando o fluxo de negócios”, diz.
A tendência das próximas semanas é um ritmo de vendas lento, segundo a Safras.