Os preços da soja no mercado internacional entraram em uma espiral de queda em 2024 — e, segundo indicam atualmente os fundamentos de oferta e demanda, no primeiro trimestre 2025, devem ficar abaixo do patamar de um ano antes.
As perspectivas para a oferta são o elemento que mais pesa sobre as cotações da soja no momento. Diferentemente do que ocorreu no ano passado, quando a produção de soja no Brasil e na Argentina decepcionou, a colheita nos dois países é promissora, o que não tem deixado espaço para as cotações irem além dos US$ 10 o bushel na bolsa de Chicago. Em janeiro do ano passado, a média dos contratos futuros girava em torno de US$ 12 o bushel.
Além dos indícios de que Brasil e Argentina terão safra cheia, também o bom rendimento das lavouras americanas tem pressionado as cotações. Nos últimos 12 meses, a desvalorização da soja foi de mais de 25%, segundo cálculos do Valor Data.
“Nós temos um quadro de boa oferta encaminhado para 2025. Em janeiro, a indicação é de clima bom [como foi em dezembro], o que nos leva a crer que teremos de fato uma boa produção”, diz Francisco Queiroz, analista da Consultoria Agro do Itaú BBA.
Ana Luiza Lodi, especialista de inteligência de mercado de grãos da StoneX, também acredita que os indícios de que a oferta será abundante vão seguir pesando sobre os preços no mercado internacional. “Esse fator [de oferta] tem feito com que a alta do preço não se sustente. O Brasil pode colher uma safra recorde, e a Argentina também está com uma safra muito boa. Se isso se confirmar, a oferta de soja vai continuar folgada”, diz.
No relatório de oferta e demanda que publicou em dezembro, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) estimou que o Brasil vai colher 169 milhões de toneladas em 2024/25; no ciclo anterior, a produção foi de 153 milhões de toneladas. Para a Argentina, que colheu 48,21 milhões na safra anterior, o USDA prevê 52 milhões de toneladas.
Pouco espaço para reação
Com a oferta de 2025 praticamente consolidada, há poucos fatores com peso para forçar uma reação das cotações. Um deles é a demanda, para a qual se prevê aumento. “A demanda mundial por soja pode crescer 5% em 2024/25, o dobro da média para o período. O consumo tem boas projeções, mas caso elas não se confirmem, é mais soja para a conta dos estoques e ainda mais pressão sobre os preços”, avalia Queiroz, do Itaú BBA.
Para Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, o mês de maio, quando começa o plantio da safra americana de grãos, será um momento particularmente importante para o mercado da soja. Para o analista, se o bushel da oleaginosa estiver abaixo de US$ 10,20 nessa época em Chicago, é provável que os produtores americanos reduzam a área de soja e plantem mais milho. Se isso ocorrer, o preço da soja pode voltar a subir na segunda metade do ano.
Sob um cenário de queda dos preços da soja neste ano, as vendas da safra 2024/25 estão aceleradas. Os produtores têm tentado evitar uma pressão de venda ainda mais forte na época da colheita, já que o país tem uma notória insuficiência de estrutura para a armazenagem de grãos.
De acordo com a Brandalizze Consulting, os agricultores já negociaram 35% do volume de soja que vão colher a partir deste mês. Na mesma época do ano passado, os produtores haviam negociado antecipadamente 20% da produção. A média dos últimos dez anos é de 30%.
“O produtor está assustado”
“O produtor está assustado com a safra grande e comercializou acima da média. Nós provavelmente teremos uma super safra, e, quando isso acontece, vemos preços muito baixos até três meses depois da colheita”, afirma Vlamir Brandalizze. O consultor acredita que o setor enfrentará problemas com armazenagem por falta de estrutura para estocar a produção, que, ao que tudo indica, será recorde.
Brandalizze estima que, na fase da colheita da safra sul-americana, os preços da soja ficarão entre 10% e 15% abaixo das cotações atuais. No fim de dezembro, os contratos de soja para entrega em abril e maio de 2025 estavam entre R$ 130 e R$ 131 por saca nos portos. O contrato da oleaginosa para julho estava a R$ 135 a saca, e o para agosto, a R$ 137.
Milho
Nas negociações do milho, a venda antecipada está mais lenta do que a da soja. A menos de dois meses do início do plantio da safrinha no país, os produtores haviam negociado antecipadamente menos de 20% do volume de produção previsto. A média para essa época do ano é de 30%.
“O produtor de milho está esperando porque acredita que o preço pode subir mais”, diz Brandalizze. A saca do milho nos portos tem sido negociada por R$ 75, em média. Para as entregas em julho, o preço está em R$ 70 a saca.
Segundo ele, com os incêndios nos canaviais no ano passado, a demanda por milho no país para a fabricação de etanol está em patamar recorde, e a demanda por milho para ração animal também está aquecida. “Vamos virar o ano com estoque baixo de milho e ficar totalmente dependentes da nova safrinha, que terá que, no mínimo, manter a área de 2024 para que a oferta fique ajustada [à demanda]”, diz.