Os preços da mandioca estão em alta, impulsionados por fatores climáticos, entressafra e oferta. Após um período de queda acentuada em 2023, que levou muitos produtores ao limite, a seca nas principais regiões produtoras, como o Paraná, acabou impactando os valores da matéria-prima. Entenda os efeitos para o consumidor final.
Do campo à cidade: por que o preço subiu?
Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, já são 24 semanas consecutivas de alta no preço da mandioca. Entre 11 e 15 de novembro, a média nominal do prazo da raiz para a indústria foi de R$ 687,95 a tonelada. Em 12 meses, a valorização real (tendo o IGP-DI como deflator) é de 10,7%.
“De 2022 até o início de 2023, tivemos preços recordes por conta da baixa oferta. Mas, ao longo de 2023, com a recuperação da safra, houve aumento de produção e os preços despencaram. Isso desestimulou o plantio e, agora, a escassez combinada com a entressafra fez os preços voltarem a subir”, explica Ivo Pierin, diretor da Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (Abam) e presidente do Sindicato Rural de Paranavaí (PR).
O aumento no preço da mandioca também é resultado dos problemas climáticos nos últimos anos. Em 2020, grandes períodos de seca e altas temperaturas afetaram a produção. Embora a mandioca seja resistente, o excesso de calor ou a falta de chuvas afeta o teor de amido nas raízes, que é o principal fator de comercialização.
A condição de falta de umidade também favorece a ocorrência de pragas, como é o caso da mosca-branca (Bemisia tabac). O inseto pode provocar a redução de 6% a 8% de amido contido nas raízes.
O preço da tapioca vai subir?
Embora o preço da matéria-prima tenha subido ao produtor, o impacto nos derivados, como a tapioca, tende a ser diluído. Isso porque, há um intervalo entre a colheita e a comercialização dos produtos processados. Segundo a Abam, as indústrias trabalham com estoques que ajudam a regular o mercado. Então, mesmo com a alta, o consumidor não deve sentir uma diferença significativa no curto prazo.
“A mandioca processada entra gradualmente no mercado. Esse ritmo impede que os aumentos sejam repassados de imediato aos derivados, como a tapioca,” afirma Pierin.
Ao mesmo tempo, apesar das flutuações sazonais, a mandioca segue como uma das raízes mais acessíveis para o consumidor quando comparada a outras, como batata e inhame. Segundo a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), o preço médio da raiz caiu 3,9% em novembro, passando de R$ 1,80 para R$ 1,75 o quilo.
Questões climáticas e a próxima safra
Para 2025, a expectativa é de que a oferta de mandioca continue em processos de reajuste, mas o cenário ainda depende do clima. As chuvas regulares nos próximos meses podem ajudar na recuperação do teor de amido e garantir melhores resultados para a próxima safra.
Isso seria fundamental para manter os preços equilibrados e evitar oscilações abusivas no mercado dos derivados.
“A mandioca é uma cultura de ciclo longo e bastante volátil. A previsão é que os preços se estabilizem, mas tudo dependerá do volume plantado e do comportamento do clima nos próximos meses,” diz Pierin.