A poluição do ar, a desigualdade social e a instabilidade política estão entre os fatores que aceleram o envelhecimento, segundo um novo estudo publicado no último dia 14 na revista científica Nature Medicine. A pesquisa, que contou com pesquisadores brasileiros apoiados pelo Instituto Serrapilheira, revela que fatores políticos, ambientais e sociais de um país influenciam na saúde física e mental da população, aumentando o risco de declínio cognitivo e demência.
Para realizar o estudo, os pesquisadores analisaram dados de 161.981 participantes em 40 países, incluindo o Brasil. A pesquisa usou modelos avançados de inteligência artificial e modelagem epidemiológica para análise das “diferenças de idade biocomportamentais”, termo usado para avaliar a diferença entre a idade real de uma pessoa e a idade prevista com base na saúde, cognição, educação, funcionalidade e fatores de risco.
A partir disso, foi possível verificar uma relação direta entre o envelhecimento da população e os contextos políticos, sociais, econômicos e ambientais específicos de cada país.
“Nesse estudo, avaliamos fatores ambientais, sociais e políticos e seu impacto no envelhecimento cerebral. Os resultados mostram de maneira marcante que o local onde vivemos pode nos envelhecer de forma acelerada, aumentando o risco de declínio cognitivo e funcional. Em um país desigual como o Brasil, esses achados são extremamente relevantes para políticas públicas”, comenta Eduardo Zimmer, professor da UFRGS e pesquisador apoiado pelo Serrapilheira, e um dos autores do estudo.
Globalmente, o envelhecimento acelerado pode estar associado a níveis mais baixos de renda. Além disso, outros fatores para o envelhecimento mais rápido incluem má qualidade do ar, desigualdade econômica, desigualdade de gênero, migração, falta de representação política, liberdade partidária limitada, direitos de voto restritos e democracias frágeis.
Em comparação, países europeus e da Ásia apresentaram um envelhecimento mais lento, enquanto o Egito e a África do Sul, mais rápido. Já o Brasil ficou no meio desses extremos.
“A importância desse estudo é a comprovação de como o contexto de vida mais amplo influencia a saúde cerebral. O local de nascimento e de moradia influenciam de maneira desigual o cérebro de todos. Viver na Europa, na África ou na América Latina tem níveis diferentes de impacto no envelhecimento por causa da disparidade na disponibilidade de recursos e acesso à saúde”, explica Wyllians Borelli, pesquisador da UFRGS apoiado pelo Instituto Serrapilheira e também autor do estudo.
Instabilidade política como fator de risco
Já em relação à instabilidade política — esse foi o primeiro estudo que mostrou que esse pode ser um fator para o aceleramento do envelhecimento –, os autores acreditam que elementos como polarização política, falhas de governança e instabilidade institucional estão diretamente ligados ao declínio cognitivo e de capacidades físicas em algumas regiões.
Segundo os autores, esses elementos impactam a saúde pública ao comprometer a alocação de recursos, a coesão social e a estabilidade dos sistemas de saúde, ampliando as disparidades entre diferentes grupos sociais.
Os pesquisadores observam, também, que países com altos índices de corrupção, com baixa qualidade democrática e pouca transparência têm maiores índices de envelhecimento acelerado.
“A confiança no governo está associada a melhores condições de saúde, enquanto a desconfiança e a polarização política aumentam a mortalidade e enfraquecem as respostas de saúde pública”, escrevem os pesquisadores no artigo.