Políticos de oposição ao governo federal e lideranças ligadas ao agronegócio reforçaram a defesa da diplomacia e da negociação com os Estados Unidos sobre as tarifas de importação de produtos do Brasil. As declarações foram feitas nesta segunda-feira (11/8), durante a cerimônia de abertura do Congresso Brasileiro do Agronegócio, promovido pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e pela B3, em São Paulo.
“Temos a lei da reciprocidade, mas não quer dizer que temos que retaliar”, disse o deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), vice-presidente da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA). “Vamos continuar buscando o caminho da negociação, para ter uma justa proteção aos produtores”, afirmou.
O presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luis Carlos Corrêa Carvalho, disse que a geopolítica atual demanda, ao mesmo tempo, serenidade e senso de urgência. Classificou o tarifaço dos Estados Unidos como um “reposicionamento estratégico” dos Estados Unidos em um mundo fragmentado.
“Diálogo e negociação são o caminho essencial para assegurar o equilíbrio ao comércio. Protecionismos sob a manta de subsídios, ou mesmo com o uso da força, recomendam alianças”, ressaltou Carvalho, em referência ao tema do Congresso da Abag deste ano: Agroalianças.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), também defendeu que haja “muita negociação”. Em sua visão, por mais que se tenha a opção, não é possível aplicar medidas de reciprocidade contra uma economia que é 15 vezes maior que a do Brasil.
“É fundamental que a gente entenda o que está acontecendo e retome a boa diplomacia. O Brasil sempre viu o americano e o chinês no salão, sempre tirou para dançar e nunca pediu em casamento”, disse o governador, para quem o Brasil não pode ser o “país do conflito”.
Representando o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, no evento, o secretário de Política Agrícola, Guilherme Campos, vinculou a adoção de medidas como a dos Estados Unidos à competência do agronegócio brasileiro. Em sua visão, ao conquistar uma posição de protagonista global, o país passou a “incomodar”.
Campos afirmou que o Brasil mantém seu compromisso com a abertura de mercados para resguardar os setores afetados pelo tarifaço americano. Em sua visão, a geopolítica mundial está mudando e os países estão tentando aproveitar oportunidades.
“O Brasil não está fora disso. E quando um lado não quer negociar, é difícil fazer oferta, porque a gente parte do pressuposto de que todo mundo quer fazer negócios. Se um não quer fazer negócios, não tem o que fazer. Tem que procurar alternativas”, afirmou à reportagem.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que, diante dos efeitos do tarifaço, adotou medidas, especialmente, de concessão de crédito para setores afetado pelas sanções americanas. O Estado é o maior produtor nacional de café, produto que tem nos EUA seu principal mercado.
Em entrevista coletiva, após a cerimônia, Zema foi questionado sobre recentes declarações do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), defendendo as sanções americanas contra o Brasil. O governador mineiro não mencionou diretamente o nome do parlamentar. Disse que o interesse do país deve estar acima do de qualquer pessoa.
“O interesse de um país, de milhares de empresas, de milhões de trabalhadores, deve estar em primeiro lugar. Uma nação deve estar acima de qualquer pessoa. Espero que o governo americano venha a retaliar aqueles que têm criticado e causado problemas para os Estados Unidos, não uma nação toda.”