A Polícia Civil deflagrou na manhã de quarta-feira (7) a Operação Krypteia, que investiga uma organização criminosa especializada em fraudes envolvendo a venda de veículos clonados. Ao todo, foram cumpridos 22 mandados de prisão preventiva e 25 de busca e apreensão no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Rio de Janeiro. A ação mobilizou mais de 120 policiais civis e contou com o apoio da Polícia Penal gaúcha e das polícias civis dos outros estados.
Segundo as investigações, o grupo criminoso atuava em diferentes frentes. O esquema começava com o roubo ou furto de veículos que, em seguida, eram clonados por uma célula especializada em adulterar os sinais identificadores. A partir daí, o golpe passava para o meio digital.
Um dos integrantes da quadrilha, um jovem de 24 anos residente no Rio de Janeiro e estudante de tecnologia e programação, invadia contas GOV.BR por meio de engenharia social. Com o acesso à conta do verdadeiro proprietário do carro clonado, ele conseguia gerar a documentação necessária para realizar a falsa transferência do veículo para o nome da vítima do golpe.
Conforme o diretor da Delegacia de Repressão a Crimes Cibernéticos (DRCC), Filipe Bringhenti, esta vítima era um comprador de boa-fé, atraído por anúncios em marketplaces, geralmente com valores abaixo do mercado. “Uma vítima comprava um carro, pagava por ele, via a transferência feita para seu nome dentro do GOV.BR e acreditava estar tudo certo. Só na hora da vistoria no Detran descobria que se tratava de um veículo roubado”, explica.
A organização era composta por diferentes núcleos: responsáveis pelos roubos, pela clonagem dos veículos, pela invasão das contas e pela lavagem de dinheiro. A movimentação financeira era coordenada por uma facção baseada em Santa Catarina, que utilizava empresas de fachada para ocultar os valores arrecadados com os golpes.
O líder do grupo, segundo a Polícia Civil, é um homem já condenado a mais de 70 anos de prisão, que comandava o esquema de dentro de uma penitenciária gaúcha com o auxílio de familiares e comparsas externos.
Ao menos 16 suspeitos foram presos, sendo 12 no Rio Grande do Sul, um no Rio de Janeiro e três em Santa Catarina. A polícia ainda tenta localizar outros alvos cujos mandados não foram cumpridos nas primeiras horas da operação.
A investigação começou a partir do registro de uma vítima em Gravataí, que pagou R$ 80 mil por um veículo Volkswagen T-Cross anunciado no Facebook. Após receber o carro e a documentação, foi ao Detran e descobriu que se tratava de um veículo furtado em Porto Alegre dias antes.
Quatro vítimas já foram identificadas no Rio Grande do Sul, mas esse número pode aumentar com a análise do material apreendido. Foram recolhidos celulares, documentos e outros dispositivos que serão periciados para identificar novas fraudes e rastrear os valores movimentados. “Acreditamos que os crimes vinham sendo cometidos há pelo menos um ano, mas esse prazo pode ser ampliado conforme o aprofundamento da investigação”, afirmou Bringhenti.
A operação é denominada Krypteia pois assim como a antiga “Krypteia” espartana vigiava, controlava e agia nas sombras em defesa da ordem de Esparta, a ação também se constitui em uma ofensiva sigilosa e altamente técnica, voltada à neutralização de elementos criminosos que operam à margem da visibilidade do Estado.
O diretor do Departamento Estadual de Repressão a Cimes Cibernéticos (Dercc), delegado Eibert Moreira, destacou que a ofensiva realizada na terça-feira é um marco para a nova divisão da Polícia Civil, criada há exatos 30 dias. “O combate ao crime cibernético é uma prioridade institucional da Polícia Civil. Ao longo dos últimos anos, os crimes violentos tiveram uma redução brutal. Por outro lado, a gente vê uma crescente nos crimes cometidos em ambiente virtual. Por isso, a Polícia Civil resolveu implementar estratégias para ampliar o potencial investigativo desses crimes”, afirma.
Como evitar cair em golpes
O diretor da Delegacia de Repressão a Crimes Patrimoniais Eletrônicos, delegado Thiago Albeche, reforça a importância de a população ficar atenta aos sinais de golpe e adotar práticas de segurança ao lidar com compras e vendas online.
Albeche também ressalta que é importante ter disposição para se informar um pouco a respeito das tecnologias que a gente está utilizando. “A gente verifica que muitos golpes são aplicados a partir de vulnerabilidades dos sistemas do próprio celular, dos aplicativos que as pessoas utilizam. Então, por exemplo, colocar a dupla autenticação de fator é algo que evita bastante que se consiga invadir dispositivos, roubar contas das redes sociais”, diz.
O delegado também explica que é necessário ter atenção, principalmente, a e-mails, links e mensagens recebidas. “Essas mensagens e esses links podem trazer aplicações maliciosas e é a partir daí que eles acabam roubando nossos perfis”, acrescenta.