Um mapeamento por satélite identificou que o plantio de algodão de primeira safra cresceu 82,2 mil hectares na safra 2023/2024 no Brasil, que se tornou este ano o maior exportador mundial da pluma. A expansão da cultura representa um acréscimo de 15,8% na comparação com o ciclo anterior, de 2022/23. Os dados foram coletados pela Serasa Experian.
Entre uma temporada e outra, o crescimento de milhares de hectares fizeram o plantio saltar de 518,3 mil para 600,5 mil hectares, mapeados recentemente ao fim da colheita da safra 2023/24, segundo as informações captadas por satélites.
A maior representatividade em expansão de área são nos Estados de Mato Grosso e Bahia, o que tem despertado interesse de produtores em arriscar-se na cultura, até substituir o milho safrinha por algodão, além de empresas que têm estimulado essa expansão.
Segundo o diretor de novos negócios agro da Serasa Experian, Joel Risso, o mapeamento das culturas brasileiras traz diversos benefícios para toda a cadeia do ponto de vista das “tomadas de decisão no agronegócio”.
“Conhecer a dinâmica de expansão das principais culturas permite um melhor posicionamento no mercado pelos clientes, antecipando possíveis oscilações na oferta e demanda e, consequentemente, nos preços das commodities”, avaliou.
O mapa revela o “endereço” de cada plantio e permite verificar o cumprimento sobre critérios socioambientais, oferecendo o benefício da rastreabilidade da origem, um requisito cada dia mais demandado pelos mercados de nossos clientes locais e globais, acrescenta ele.
No caso do algodão, esse tipo de monitoramento também apoia o sistema de controle de royalties, “para auxiliar a identificação e a regulamentação necessária”, detalhou Risso.
Monitoramento
De olho no mercado da pluma em expansão, a Syngenta, multinacional de insumos, utilizou sua plataforma de monitoramento, Cropwise, também durante a safra 2023/24 para monitorar 54% das áreas de plantio do algodão, que representam 1,9 milhões de hectares semeados e, agora, já colhidos.
Primeira vez usada para essa cultura, a plataforma disponibiliza dados para que o produtor possa entender a dinâmica da cultura, especialmente aqueles que estão em sua primeira temporada, já que o algodão demanda altos investimentos para alcançar o valor agregado que rentabilize exportações ou abasteça a indústria têxtil local.
Mesmo não estando na lista da lei antidesmatamento da União Europeia, há uma preocupação latente de comprovar as certificações e a qualidade do algodão para que a commodity possa ser aceita em outros países e seja melhor paga por isso, porque abastece também cadeias de moda sustentável.
“Diante disso, garantir o retorno sobre o investimento e manter os custos de manejo sob controle foi um grande desafio para os cotonicultores. E a ferramenta ajudou a monitorar e minimizar os impactos do clima e pragas, decidindo no tempo certo o manejo mais estratégico”, explicou à reportagem Matheus Tobias Fernandes, gerente de tecnologia, planejamento e controle da Santa Colomba, empresa focada na produção em larga escala de algodão e cliente da Syngenta desde 2021.
Estas iniciativas de monitoramento tem se intensificado e juntado outros tipos de companhias, como startups, para que o Brasil permaneça no posto de maior exportador por mais de um ano, pelo menos. Isso porque, ao ocupar o lugar dos Estados Unidos que passou por problemas de déficit do volume de produtividade ano passado e perdeu a liderança na venda da pluma, a corrida no Brasil pelo plantio e beneficiamento do algodão no Brasil só aumentou, como acontece no Grupo Bom Futuro, de Mato Grosso.
Por outro lado, analistas de mercado não garantem que o país permaneça nessa posição, pois este ano as previsões de produção norte-americana foram retomadas para o campo positivo e a competitividade externa vai mover o desenvolvimento tecnológico da cultura, particularmente no Brasil.
“Tudo isso só contribuiu para que o Brasil atingisse o patamar de maior produtor e exportador de algodão do mundo. Este ano ultrapassamos os Estados Unidos pela primeira vez”, ressaltou o chefe de Agricultura Digital da Syngenta, Bruno Muller.
Os dados monitorados pela Syngenta foram apresentados pela primeira vez no Congresso Brasileiro do Algodão (CBA) deste ano, que aconteceu no início de setembro, em Fortaleza.
Na ocasião, a companhia firmou uma parceria com a Perfect Flight, startup que oferece tecnologia em pulverização aérea para as plantações da pluma, mais uma sinalização de que a multinacional está de olho no crescimento desse mercado no Brasil.
Líderes de produção
Ao calcular os dados sobre a 1ª safra 2023/24, o estado da Bahia ganha destaque com o plantio de algodão em 274,6 mil hectares, aponta a Serasa Experian.
“Importante ressaltar que, no recorte analisado é natural que a Bahia marque dados expressivos, já que a região tem esse período como foco para plantação em função do clima. Com a junção dos dados da 2ª safra (não apresentados aqui, mas que também tiveram crescimento neste ano) o Mato Grosso se destaca, já que a unidade federativa é consolidada como aquela que, de longe, produz mais algodão no Brasil”, explicou a nota da entidade.
Apesar disso, ao mirar nas variações da 1ª safra que comparam os anos de 2022/23 com 2023/24 é possível identificar um recuo de 4,2 mil hectares em solo baiano, enquanto o cultivo mato-grossense registra expansão de 75 mil hectares no mesmo intervalo.
Os mapeamentos agrícolas produzidos pela Serasa Experian são realizados com técnicas de processamento e tratamento de dados de sensoriamento remoto com dois tipos de satélites, que permitem revisitar a mesma localidade entre 2 e 5 dias, favorecendo a identificação das lavouras e a captação dos dados em tempo real. Outras áreas de plantio devem se espalhar por outros territórios. Hoje, no Brasil, cinco Estados são polos de produção.