O ambiente econômico do país, com a disparada da taxa Selic, tornou o Plano Safra 25/26 o mais difícil dos últimos anos, admite o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. Ele sinaliza para um aumento de juros na próxima temporada, mas reforça que haverá diferenciais nas alíquotas para o financiamento dos médios produtores, principalmente para o cultivo de itens de consumo doméstico.
Sem folga no orçamento, Fávaro busca alternativas para ampliar a oferta de recursos sem pressionar o cofre do Tesouro Nacional. Ele defende, por exemplo, a discussão sobre o aumento do direcionamento dos valores captados nas emissões de Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) para o Plano Safra e a ampliação das linhas em dólar para grandes produtores.
“Sem sombra de dúvidas [é o plano mais difícil de ser elaborado desde o início da gestão]. A alta da Selic dificulta a formação de um Plano Safra do tamanho da necessidade da agropecuária brasileira. O aumento da área plantada demanda mais recursos que sejam viáveis e estimulantes aos produtores. Por isso, o desafio do Plano Safra 2025/26”, afirmou o ministro ao Valor, em Cacuso, durante missão a Angola na semana passada.
Fávaro ressaltou que os últimos planos foram recordes, com mais recursos e mais efetividade na ponta, por conta da redução do custo de produção no período. Segundo o ministro, há apoio político do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e suporte técnico do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para anunciar um Plano Safra “melhor, mais efetivo e que garanta o crescimento da economia”.
Para atender a demanda crescente por recursos, Fávaro apoia aumento do direcionamento das LCAs ao crédito rural, hoje em 50%. “É algo que tem que ser ponderado com o Banco Central. Temos que entender também que o aumento dos recursos direcionados, de depósitos à vista e da poupança rural, já estão bastante avançados. Acho que é possível avançar um pouquinho mais nesse direcionamento das LCAs também”, indicou.
Ele admitiu dificuldades para aumentar o orçamento destinado à equalização de juros. A subvenção da União paga a diferença entre o custo que os bancos têm para captar dinheiro mais as suas remunerações e aquilo que os produtores pagam na ponta. Com a alta da Selic, esse “gap” aumenta ainda mais e demanda mais verba.
Segundo Fávaro, em 2024, em um cenário melhor que o atual, houve aval de Lula para ampliar em R$ 3,6 bilhões o orçamento para a equalização de juros dos financiamentos da safra 2024/25. A temporada teve R$ 16,7 bilhões inicialmente em recursos para equalização, com previsão de gasto ao longo de vários anos. Desses, R$ 6,3 bilhões foram para agricultura empresarial e R$ 10,4 bilhões para a agricultura familiar. Para 2025/26, o setor produtivo pediu R$ 25 bilhões de verba federal.
“Possivelmente, não teremos mais R$ 3,6 bilhões a incrementar, por isso precisamos buscar novas alternativas de fontes de recursos”, apontou. A Selic está em 14,75% e pode subir a 15% antes do próximo Plano Safra, a partir de julho. A taxa era de 10,5% em julho de 2024.
Fávaro citou a linha em dólar, que financiou o equivalente a R$ 8 bilhões via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a compra de máquinas. O ministro disse que o orçamento da União não deve ser o “único instrumento garantidor” de um Plano Safra de sucesso.
“Criamos um novo Moderfrota sem a participação do Orçamento Geral da União com a linha dolarizada. É essa criatividade que precisamos ter no momento de criar um Plano Safra eficiente, com juros atrativos, mas que pese de acordo com a capacidade do orçamento”, disse.
Para Fávaro, cada vez mais os recursos livres e em moeda estrangeira devem atender grandes produtores. “Para quem tem a produção voltada à exportação, vamos inovar. Vamos estimular as linhas dolarizadas, que têm um hedge natural, que têm uma captação de juros internacionais muito mais baratos, sem custos ao Tesouro”.
Juros
No cenário geral, Fávaro indicou que deve haver aumento de juros, mas que ainda tenta blindar médios produtores que produzem itens da cesta básica. “Vamos priorizar o Pronamp aos moldes da prioridade que é dada aos pequenos produtores através das linhas de crédito com bastante subsídio”.
Segundo ele, esse estímulo ao plantio de culturas como arroz, feijão, mandioca, batata e fruta, vai ajudar a controlar a inflação dos alimentos, tema que tem abalado a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ontem, no Congresso da Associação Brasileira dos Produtores de Milho e Sorgo (Abramilho), em Brasília, o secretário de Política Agrícola da Pasta, Guilherme Campos, disse que o aumento de juros é “inevitável”. “O setor está mais cauteloso para investir e, neste ano, os agentes financeiros sofreram muito com a questão das recuperações judiciais. Com crédito muito mais restritivo, algumas linhas ficaram represadas. Precisamos fazer um balanceamento total”, afirmou.