O Plano Safra da Agricultura Empresarial 2025/26 terá R$ 516,2 bilhões em crédito para médios e grandes produtores, valor que foi um “desafio gigante” do governo, reforçou, nesta terça-feira (1/7), o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. Os números foram anunciados em cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Foi um desafio gigante para fazer esse Plano Safra, com esforço do Ministério da Fazenda. O presidente Lula determinou o esforço orçamentário para chegar a um Plano Safra tão impactante”, disse o ministro.
Ele destacou que o governo absorveu a alta da Selic com a equalização. “Além de ser um Plano recorde, ele é estimulante. Ninguém gosta de pagar juro alto, e é indicador de recessão, mas estamos conseguindo superar esse desafio”, agregou.
“Confesso que achava muito difícil conseguir fazer esse Plano Safra recorde. Com Selic de 15% ao ano, e com todo respeito ao [Gabriel] Galípolo e a equipe do Banco Central, não consigo entender. Temos inflação controlada, gastos públicos completamente controlados ao contrário de fake news, com crescimento da economia, renda da população crescendo, desemprego caindo, e a Selic de 15%”, afirmou no evento.
Fávaro reforçou que a prioridade é apoiar a contratação de custeio, já que há uma avaliação de menor apetite pelos investimentos diante do cenário macroeconômico e dos juros mais altos. Na ocasião, ele defendeu os arranjos orçamentários do governo a fim de gerar um “valor recorde pelo terceiro ano consecutivo”.
“Estamos priorizando o custeio e comercialização, atendendo ao pedido das entidades, para priorizar o custeio”, disse Fávaro no evento desta terça-feira.
O valor é 1,5% maior que os R$ 508,5 bilhões da temporada anterior, com acréscimo de R$ 8 bilhões em recursos, destacou Fávaro.
Os juros das linhas de crédito para médios e grandes produtores vão subir até 2 pontos percentuais. Para médios, a taxa do custeio será de 10% ao ano. Para os grandes, de 14%. Os investimentos terão alíquotas entre 8,5% e 13,5%.
Os juros altos são uma preocupação, tanto para o ministro da Agricultura quanto para produtores e instituições financeiras. Fontes do setor admitiram que o aumento era inevitável, mas que o cenário encarece custos de produção e podem respingar em maior inadimplência.
Fávaro disse ontem, em entrevista exclusiva ao Valor, que as taxas não ficaram impeditivas. Segundo ele, houve um grande esforço do governo para não aumentar mais as alíquotas e que o presidente Lula autorizou incremento do orçamento da equalização para evitar essa alta mais intensa das taxas.
Fontes de recursos
O ministro disse ainda que o cenário piora a geração de funding, ou seja, de disponibilidade de fontes de recursos para o Plano Safra. “A poupança rural não é mais atrativa. Temos dificuldade de captar recursos para fazer o Plano Safra”, apontou.
O ministro destacou que os juros subiram entre 1,5 e 2 pontos percentuais, com o piso representando cerca de um terço da escalada da Selic desde julho de 2024, de 4,5 pontos percentuais. “Mas é melhor que juros livres”, disse um dirigente bancário.
No setor financeiro, a preocupação é maior. Bancos já identificaram aumento da inadimplência nas carteiras, que passaram do patamar de 1% para perto de 2% e 3% em grandes instituições que atuam no agronegócio. “O tema da inadimplência está sério. A meu ver, vai se agravar nos próximos meses”, disse um diretor de um banco.
No setor financeiro, a análise é parecida. “Haverá menos procura por investimentos”, disse um executivo. “Os juros para os pequenos produtores também ficaram pesados”, alertou outro diretor.
Descontos para boas práticas de sustentabilidade
Fávaro, defendeu nesta terça-feira (1/7) a inclusão de outras técnicas sustentáveis de produção no rol das boas práticas aptas a acessar o desconto de 0,5 ponto percentual nos juros de custeio para médios e grandes produtores. A iniciativa, anunciada na temporada passada, ainda patina.
Segundo Fávaro, produtores que usam bioinsumos e que aplicam técnicas de conservação do solo precisam ter acesso ao rebate nos juros.
“Precisamos dar mais um passo nos descontos, não só nos 0,5 ponto percentual para quem tem CAR [Cadastro Ambiental Rural] aprovado. Quem usa bioinsumos tem que ser reconhecido e ter desconto na taxa de juros, quem faz conservação de solo também”, disse em cerimônia de anúncio do Plano Safra 2025/26, em Brasília.
Fávaro também defendeu a ideia de que parte dos recursos que serão captados por meio do leilão do programa Ecoinvest, iniciativa de mobilização de capital estrangeiro para linha de blended finance, sejam direcionados para a recuperação dos solos do Rio Grande do Sul. Ele citou o programa 365 da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que estimula a manutenção de cobertura verde no solo durante todo o ano.
“O programa 365 trata da conservação do solo para suportar momentos de veranico. O Ecoinvest deve destinar recursos para produtores gaúchos fazerem a recuperação de solos”, disse.
O leilão do Ecoinvest foi anunciado para captar recursos para a recuperação de pastagens degradadas. O certame seguirá aberto até 21 de julho.
A expectativa de Fávaro é que sejam mobilizados até US$ 1,5 bilhão, cerca de R$ 12 bilhões para a conversão das áreas degradadas.
O ministro disse ainda que esse é o terceiro Plano Safra com a oferta de R$ 7 bilhões na linha de crédito do RenovAgro, para recuperação de pastagens, com “as menores taxas de juros”. Segundo o ministro, a medida ajuda na modernização do campo e ajuda a preservar a “floresta em pé”.
Fávaro disse que já foram recuperados 3 milhões de hectares com os recursos do Plano Safra. “Vamos chegar até os 40 milhões de hectares, estimulando, fazendo a economia crescer e preservando o meio ambiente”, completou.