Os novos dados do PIB (Produto Interno Bruto), divulgados nesta terça-feira (2), reforçam a tendência de desaceleração da economia brasileira ao longo de 2025. A visão é hegemônica entre especialistas consultados pela CNN.
Segundo informações do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o PIB brasileiro avançou 0,4% no 2º trimestre. O dado reflete uma perda de fôlego frente ao resultado do 1º tri, quando a economia avançou 1,4%, impulsionado pelo avanço do agronegócio.
O resultado veio ligeiramente acima do consenso do mercado, que projetou expansão de 0,3%. Na comparação anual, o avanço foi de 2,2% — em linha com as expectativas de analistas.
“O cerne da mensagem é resiliência, a desaceleração segue válida. O PIB só coloca em dúvida a velocidade da mesma”, analisa Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos.
Destaques positivos
Para os analistas do mercado, o agronegócio foi o destaque positivo do PIB também no 2º trimestre. “Menos sensível ao ciclo econômico, o setor primário subiu 10% na comparação anual. Em meio à safra recorde de grãos, ele contribuiu bastante nesta primeira metade de 2025”, explica Rodolfo Margato, economista da XP.
Pelo lado da oferta, os serviços, que têm o maior peso na economia, cresceram 0,6%, impulsionados por praticamente todos os seus componentes.
A indústria, por sua vez, foi beneficiada pelo forte avanço extrativo (5,4%), o que compensou o recuo de 0,5% na indústria de transformação e resultou em um crescimento de 0,5% do setor.
Queda de investimentos
Do lado da demanda, os sinais foram mistos, refletindo um ambiente doméstico ainda aquecido, mas em processo de desaceleração.
Por um lado, o consumo das famílias avançou 0,6%, e o setor externo contribuiu positivamente, com aumento das exportações (0,7%) e queda das importações (-2,9%).
Por outro lado, a Formação Bruta de Capital Fixo (que mede o aumento da capacidade produtiva de uma economia por meio dos investimentos) caíram 2,2%.
Segundo Rafael Perez, economista da Suno Research, o resultado que reflete os efeitos da política monetária restritiva.
“As perspectivas de manutenção da Selic em 15% até o início do próximo ano, somadas a condições menos favoráveis para o crédito, devem continuar limitando os investimentos e dificultando a sustentação do crescimento do setor ao longo de 2025”, avaliou o especialista.
Ele não é o único que crê que os juros altos seguirão corroendo os dados ao longo deste ano.
Igor Cadilhac, economista do PicPay, entende que, apesar do cenário apontar para um bom momento econômico — cortesia de um mercado de trabalho em pleno emprego, uma massa salarial robusta e o pagamento de precatórios — alguns dados de alta frequência têm sinalizado que os juros elevados vêm restringindo de forma mais acentuada as condições financeiras.
“Para o Banco Central, o resultado confirma o cenário de estabilidade da Selic em patamar contracionista, reforçando a visão de cortes apenas em 2026”, adiciona Natalie, da SulAmérica Investimentos.
Previsões para 2026
A tempo dos fogos rolarem na praia de Copacabana, o prognóstico dos especialistas é de uma desaceleração ao longo do ano. Segundo Igor Cadilhac, do PicPay, o PIB deve crescer 2,2% em 2025 — “sustentado, em grande medida, pelo elevado carrego estatístico e pelo bom desempenho de setores exógenos, como o agronegócio e a indústria extrativa”, diz.
Aperto de crédito de um lado, impulsos de renda do outro, a XP também mantém a projeção de crescimento de 2,2% para o PIB.
“A leitura do 2º tri veio apenas ligeiramente acima da nossa estimativa, com uma abertura similar ao que esperávamos. Portanto, não vemos motivo para alterar essa projeção”, afirma.
“O quadro geral reforça a tendência de desaceleração da economia nos próximos trimestres. A política monetária restritiva tende a impactar com mais força a atividade na segunda metade do ano, ao mesmo tempo em que o elevado endividamento das famílias, as incertezas fiscais e as turbulências externas podem adicionar riscos”, adiciona Rafael, da Suno.
“Ainda assim, a resiliência do mercado de trabalho e a expectativa de maior expansão dos gastos públicos no segundo semestre devem suavizar um arrefecimento mais intenso da economia brasileira”, finaliza.