A evolução dos tratamentos contra a obesidade se tornou uma corrida da medicina, mas faltava uma ferramenta para medir quais medicações funcionam melhor em cada organismo e como elas agem modificando o balanço corporal.
Para resolver essa lacuna, um grupo internacional de 80 pesquisadores, incluindo investigadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade de São Paulo (USP), criou uma nova forma de medir quanta energia o corpo gasta.
No artigo, o consórcio de pesquisadores apresentou um conjunto de unidades uniformizadas de medida de calorimetria, ou seja, formas de medir a quantidade de calorias que o organismo gasta. São elas: um teste de respiração que mostra o consumo de oxigênio e produção de dióxido de carbono medidos em mililitro (ml) por hora; a medição do gasto energético em quilocaloria (kcal)/h do organismo (em testes combinados de nutrição e respiração); e a ingestão de água em ml/h; entre outros.
Os cientistas apontam que o novo método pode substituir a fórmula antiga e mais simplista de dividir as taxas metabólicas pelo peso do indivíduo. Essa padronização, publicada em artigo na revista Nature Metabolism na quinta-feira (24/9), pretende facilitar a repetição e comparação dos resultados. O método ajudará a criar um banco de dados único e permitirá usar ferramentas mais avançadas, como a inteligência artificial, nos estudos.
Melhores tratamentos para a obesidade
A forma de medir a taxa metabólica abre caminho para testar novos remédios contra a obesidade e outras doenças, como diabetes. O foco desses futuros medicamentos será aumentar a queima de energia pelo organismo.
O médico Licio Augusto Velloso, diretor do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC) da Unicamp, é um dos autores da pesquisa. Ele explica que com a padronização é possível reduzir as doses de cada um dos medicamentos individualmente.
“No caso da obesidade, mesmo com a revolução dos últimos anos nos tratamentos, os estudos mostram que os novos medicamentos só reduzem a fome, sem aumentar o gasto energético. A terapia ideal para obesidade é que ocorram as duas coisas: que o paciente sinta menos fome e gaste mais energia. O grande problema era padronizar os métodos para medir esse gasto energético”, destaca Velloso em entrevista à Agência Fapesp.
A busca por queimar mais calorias
Nos últimos anos, o tratamento da obesidade melhorou com remédios que imitam o hormônio GLP-1, como a semaglutida (Ozempic) e a tizerpatida (Mounjaro). Eles e toda uma nova geração de drogas com princípios parecidos atualmente investigadas atuam no cérebro e no sistema digestivo para dar a sensação de saciedade e reduzindo o apetite.
Ainda há uma grande chance de desenvolver remédios que estimulem a gordura corporal a gastar energia para produzir calor. O processo é chamado de termogênese e é um caminho para a perda de peso.
O professor José Donato Júnior, da USP, ressalta que a falta de um padrão causava confusão na ciência. “Cada pesquisador, e muito em decorrência da maneira como o equipamento fornece a informação, acabava apresentando o dado de uma forma diferente. Então, a ideia dessa publicação foi juntar um consórcio internacional, com credibilidade científica, para propor novos padrões”, explica.
De acordo com os cientistas, a iniciativa vai aumentar a precisão e a qualidade das pesquisas sobre o metabolismo. Isso ajudará a descobrir efeitos pequenos, mas importantes, que estudos isolados geralmente não conseguem ver. Mais de um bilhão de pessoas no mundo têm obesidade, doença ligada a cerca de 1,6 milhão de mortes anuais. No Brasil, aproximadamente 31% da população adulta é obesa.