A consolidação de negócios no setor de café, liderada por grandes empresas globais, pode se tornar inevitável para marcas de menor porte e torrefações, que vêm enfrentando dificuldades financeiras diante dos preços recordes do grão. A avaliação é de presidentes de algumas das maiores exportadoras e traders do mundo, reunidos nesta quinta-feira (3/7) em um evento do setor, em Campinas (SP).
Segundo David Neumann, presidente do maior grupo de comércio de café verde do mundo — a Neumann Kaffee Gruppe, com mais de 60 empresas em 27 países —, a tendência é de grandes companhias absorverem as menores.
“Na Europa, algumas empresas já estão sumindo”, afirmou durante o 10º Coffee Dinner Summit, evento internacional organizado pelo Conselho dos Exportadores de Cafés do Brasil (Cecafé).
De acordo com Neumann, os negócios enfrentam margens de lucro cada vez mais estreitas. O custo elevado e a oferta limitada dificultam a aquisição de café. A expectativa é de recomposição dos estoques globais só em 2026, a depender da colheita do Brasil.
Consolidação se intensifica
O processo de consolidação no setor agrícola, especialmente no café, se intensificou nos últimos anos. Custos elevados e exigências de rastreabilidade para acesso a mercados colocam negócios sob pressão, segundo participantes do evento.
Entre médias e pequenas empresas, o movimento ocorre por meio de fusões, aquisições ou parcerias com grupos maiores, que oferecem infraestrutura, capital e canais de exportação. Torrefadoras e exportadoras regionais acabam sendo incorporadas a conglomerados como a Neumann Kaffee Gruppe, que ampliam sua presença com estruturas integradas e maior controle sobre a cadeia produtiva.
Segundo Neumann, o modelo adotado pelo grupo de origem alemã visa garantir “sinergia nas operações das 60 empresas” e promover colaboração entre elas, evitando desequilíbrios entre ativos e passivos.
Nicolas Tamari, presidente da Sucafina, outra importante comerciante global de café, destacou que a logística está mais cara para as tradings. Os custos operacionais aumentam, enquanto a demanda global continua em alta e países produtores — especialmente na África — enfrentam desafios estruturais.
“O custo alto de operação, por exemplo, também estimula a consolidação dos negócios, porque são tempos difíceis para traders e torrefações sobreviverem”, observou.
Fortalecer a origem do café
Sob a ótica do volume, os traders dependem de uma ampla rede de clientes-fornecedores. Muitos não são produtores diretos e estão sob forte pressão financeira.
Segundo Tamari, será necessário fortalecer o conceito de origem do café nas estratégias comerciais, com foco em países que ainda têm capacidade de expandir a produção — como Uganda —, mas que exigem avanços em sustentabilidade.
O executivo também destacou a dependência estrutural das comercializadoras globais em relação ao Brasil e ao Vietnã, o que consolida o principal fundamento do mercado: a oferta e a colheita brasileira.
Os preços elevados, por sua vez, têm impacto profundo em regiões como a África, que, segundo ele, é “a maior perdedora com a alta das cotações” devido à ausência de incentivos financeiros e à falta de valor agregado na cadeia local do café.
“A África vai precisar da mudança no setor cafeeiro que o Brasil fez há 30 anos”, afirmou o executivo.