A Polícia Civil de Pernambuco investiga um caso de racismo, preconceito e discriminação após o Babalorixá Ivo de Xambá registrar um Boletim de Ocorrência contra um grupo de fiéis cristãos, que, segundo ele, proferiram xingamentos contra frequentadores do Terreiro de Xambá, em Olinda, na Região Metropolitana do Recife. O caso ocorreu no dia 19 de janeiro, quando evangélicos promoveram um culto em frente ao terreiro, que é considerado Patrimônio Vivo de Pernambuco. O caso foi formalmente registrado na última sexta-feira (24).
Em um vídeo divulgado nas redes sociais, Pai Ivo relatou que, ao perceber um grupo de aproximadamente 100 evangélicos realizando uma pregação com três carros de som na frente do terreiro, ele se aproximou e solicitou que se deslocassem para outro local. “Eu desci, falei com aquela liderança daquele momento e solicitei que ele saísse da frente do terreiro, porque não era justo. Eles não queriam que nós do terreiro de Xambá fossemos fazer um xirê na frente de vossas igrejas”, explicou o Babalorixá.
Segundo Pai Ivo, embora a maioria tenha aceitado o pedido, alguns membros do grupo teriam proferido ofensas, sendo uma delas alegando que seria necessário “extirpar o mal daquele lugar”, como informa o Boletim de Ocorrência.
Diante dos ataques verbais, o pai Ivo formalizou a denúncia na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no bairro do Cordeiro, na Zona Oeste do Recife. Em nota enviada à CNN, a Polícia Civil informou que trata o caso como racismo, preconceito e discriminação, e segue investigando os responsáveis pelas ofensas.
O episódio gerou indignação nas redes sociais e, como forma de protesto, foi realizado um movimento neste domingo (26), no próprio Terreiro de Xambá. O ato contou com a presença de várias entidades culturais, incluindo outros terreiros, além de movimentos como samba, capoeira e ciranda, que também se mobilizam contra a intolerância religiosa.
Fundado em 1930, o Terreiro de Xambá é o único de nação Xambá na América Latina e está situado no Portão de Gelo, o primeiro quilombo urbano do Brasil. Com 94 anos de história, o local é reconhecido como Patrimônio Vivo de Pernambuco.