A oferta de café para abastecer o mercado global no primeiro semestre de 2026 está comprometida. O aperto na comercialização deve acontecer por baixos estoques no mundo, sem perspectiva de recuperar no próximo ano, além da antecipação e velocidade nas vendas de café da safra brasileira de 2024/25 em razão às altas nos preços do grão.
“Vamos chegar ao primeiro semestre de 2026 com oferta apertada”, afirmou Oscar Schaps, diretor global de soft commodities da StoneX, nesta sexta-feira (4/7), durante o Coffee Dinner Summit, evento promovido pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), que se encerra hoje em Campinas (SP).
Ele e outros analistas alertaram que a forte dependência do grão brasileiro representa um risco para o mercado global, que fica exposto às condições de campo, clima e dinâmica de comercialização do país. Para a próxima safra, 2025/26 — que será colhida até setembro — não se espera um desempenho excepcional.
Ainda assim, Schaps demonstrou otimismo em relação à liquidez do mercado, destacando que, a partir de janeiro do próximo ano, entram em cena os volumes da colheita da Colômbia e de outras origens sul-americanas.
Segundo ele, a valorização das cotações em Nova York e Londres influenciou os produtores a venderem de forma mais acelerada, enquanto outras origens enfrentam dificuldades de escala e produtividade, como ocorre no continente africano.
“Há forte preocupação com a África, onde está a origem do café no mundo, mas que hoje está atrasada em relação às evoluções do mercado, sem capacidade de recuperar esse atraso”, lamentou.
O cenário de mercado invertido — no qual os contratos de curto prazo valem mais do que os de longo — deve continuar no segundo semestre deste ano, com possíveis reflexos no abastecimento em 2026. A preferência pelas vendas imediatas, por conta dos preços elevados, tem influenciado até mesmo as operações de hedge, que atualmente são feitas com prazos máximos de três meses, segundo representantes de exportadoras e traders ouvidos pelo Valor durante o evento.
Outra região fornecedora de café, mas que não tem expandido sua produção no mesmo ritmo da demanda, é a América Central. Assim, a responsabilidade pelo abastecimento recai ainda mais sobre o Brasil. A concentração excessiva preocupa também Charles Chiapolino, chefe global de Pesquisa de Café da Louis Dreyfus Company (LDC), em Genebra.
Segundo ele, os próximos seis meses exigem atenção redobrada ao clima no Brasil. A combinação de estoques baixos ao redor do mundo e a falta de uma safra robusta aumentam os riscos de desabastecimento. “Está ficando difícil resolver esse problema em um ano como este”, afirmou.
Independentemente da origem, os estoques globais vêm registrando quedas nos últimos dois anos. Mesmo com o consumo estável, o volume armazenado continua diminuindo, enquanto a cadeia produtiva busca soluções para a recomposição, observou Germán Bahamón, presidente da Federação dos Cafeicultores da Colômbia.
Para Schaps, o único caminho para recompor estoques é acelerar a produção – com mais plantas, por exemplo – em relação ao consumo. Segundo ele, os mercados internacionais precisam colaborar na construção de um ambiente mais cauteloso para 2026, evitando depender apenas da queda de preços para incentivar o armazenamento.
“A estrutura invertida do mercado não ajuda ninguém na formação de estoques. Vamos observar como essa recomposição vai ocorrer e influenciar os preços futuros nas bolsas”, destacou o executivo da StoneX, que vê os próximos 18 a 24 meses como decisivos para repensar a estrutura do mercado.
“E assim que a próxima safra do Brasil entrar, será necessário começar a formar estoques fora do país também”, concluiu, demonstrando otimismo com a colheita potencialmente recorde de 2026/27.