As negociações do acordo entre os blocos comerciais Mercosul e União Europeia (UE), que já duram 25 anos, parecem estar prestes a chegar ao fim.
A expectativa é que o anúncio do tratado, que se arrasta desde 1999, ocorra entre esta quinta (5) e sexta-feira (6), durante a Cúpula de Chefes de Estado do bloco sul-americano, em Montevidéu.
Os sinais do entendimento entre os dois lados ganhou força nesta quarta-feira (4), com a confirmação da ida da presidente da Comissão Europeia, Ursula Von Der Leyen, ao Uruguai, segundo fontes de três países ouvidas pela CNN.
O diplomata eslovaco Maros Sefcovic, que assumiu há dias como comissário de Comércio da UE, também faz parte da comitiva a caminho de Montevidéu.
As discussões de mais de duas décadas entre os dois blocos comerciais para finalização do tratado de livre-comércio envolvem 31 países: 4 membros do Mercosul e 27 da UE.Play Video
O acordo Mercosul-UE tem sido amplamente discutido com a iminência de sua finalização e recentes polêmicas, como protestos de agricultores franceses e declarações do CEO do Carrefour em novembro deste ano.
O caso gerou repercussões no Brasil, inclusive um boicote de frigoríficos do país, que deixaram de fornecer carne às lojas da rede varejista.
Posteriormente, a rede varejista recuou, e a situação voltou à normalidade.
O que é um bloco comercial
Os blocos comerciais são conjuntos de países que possuem interesses comuns em comércio, como o Mercosul.
Leonardo Trevisan, professor de relações internacionais da ESPM, explica que, apesar da América Latina inteira não ser uma grande potência industrial, a região conta com várias commodities de interesse global, como agrícolas, minerais e de petróleo.
“Há diferentes commodities que o mundo quer negociar aqui”, diz.
A formação dos países no bloco Mercosul visa justamente fortalecer tais negociações. Segundo ele, a tratativas país por país, isoladamente, é mais frágil do que negociar pela região inteira.
O especialista ainda explica que o bloco do Mercosul seguiu um caminho aberto pela União Europeia, o primeiro grande bloco comercial dos tempos modernos.
Sobre a União Europeia (UE)
Apesar de negociada desde 1950, a União Europeia saiu efetivamente do papel após 43 anos de discussões, em 1993.
“A UE é um planejamento de economia de um bloco inteiro comercial para jogar no mundo, não como um país isolado, como um grupo de países, que deixa muito mais forte na hora de abrir negociações.”, explica Trevisan.
A moeda em comum nos países-membros do bloco comercial se tornou realidade em 1999.
Confira lista dos países que fazem parte da UE:
- Alemanha
- Áustria
- Bélgica
- Bulgária
- Tchéquia
- Chipre
- Croácia
- Dinamarca
- Eslováquia
- Eslovênia
- Espanha
- Estônia
- Finlândia
- França
- Grécia
- Hungria
- Irlanda
- Itália
- Letônia
- Lituânia
- Luxemburgo
- Malta
- Países Baixos
- Polônia
- Portugal
- Romênia
- Suécia
Mercosul e negociações com UE
O Mercosul, também conhecido como Mercado Comum do Sul, é composto pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, além da Venezuela, atualmente suspensa do bloco.
A Bolívia se encontra em processo de adesão ao Mercosul.
Confira lista dos países que fazem parte do bloco:
- Brasil
- Argentina
- Paraguai
- Uruguai
- Venezuela (em suspensão)
O objetivo principal do Mercosul é garantir um espaço comum com novas oportunidades comerciais e de investimentos a partir da integração competitiva das economias nacionais ao mercado internacional.
O acordo de liberalização de comércio entre dois blocos, União Europeia e Mercosul, enfrenta desafios de ambos os lados, mas nos últimos anos ficou muito forte do lado francês.
“O agronegócio francês tentou de todas as formas demonstrar um apoio só para o lado da entrada de produtos industriais europeus na América Latina sem a contrapartida da entrada de produtos, especificamente brasileiros, do agronegócio brasileiro no contexto europeu”, explica Trevisan.
Negociação levam anos para finalização
A finalização de um acordo comercial entre blocos econômicos costuma levar muitos anos, já que envolve diversos aspectos a serem discutidos e aceitos pelos países.
“Todos os acordos comerciais são muito lentos e difíceis, porque envolvem centenas de produtos com diferentes interesses econômicos presentes. Às vezes, produtos entram em diferentes regiões do país, e também tem o problema de cotas”, diz o professor de RI.
“Não é que entram todos os produtos, entram a determinadas cotas de produtos. Tudo isso leva muito tempo para ser negociado”, acrescenta.
A negociação de um acordo depende também da macroeconomia internacional. Segundo ele, o contexto atual é diferente do início das negociações do acordo Mercosul-UE, há 25 anos.
“Quando o acordo começou a ser negociado e avançou, o mundo tinha uma visão mais de globalização, de abertura de comércio, de portas abertas para que os comércios enriquecessem todos.”
Além disso, a primeira eleição de Donald Trump como presidente dos EUA alterou e impactou as dinâmicas comerciais, acordos e negociações entre os países. Segundo o professor, desde a chegada do republicano ao poder, o país tem uma atitude protecionista.
“É o maior mercado do mundo. Todos vendem para os Estados Unidos. Essa atitude mudou completamente o clima de todos os outros negócios”, completa.