A cantora Nana Caymmi morreu nesta quinta-feira (01/05) no Rio de Janeiro, aos 84 anos. Ela estava internada desde agosto do ano passado em uma clínica para tratar de uma arritmia cardíaca.
“É com muito pesar que eu comunico o falecimento da minha irmã, Nana Caymmi. Estamos, é lógico, todos muito chocados e tristes na família, mas ela também passou nove meses de sofrimento em hospital, UTI. Um processo muito doloroso, várias comorbidades”, disse Danilo Caymmi em vídeo postado em suas redes sociais.
“O Brasil perde uma grande cantora, uma das maiores intérpretes que já teve. Uma técnica apurada, sentimento. Ela era muito emotiva, e carregava isso para dentro da música, com uma categoria enorme”, acrescentou o irmão da cantora.
Nana Caymmi estava internada há mais de sete meses na Casa de Saúde São José, na Zona Sul do Rio de Janeiro, onde deu entrada para tratar uma arritmia cardíaca.
Segundo o G1, que cita o hospital onde ela era atendida, a morte se deu em decorrência da disfunção de múltiplos órgãos.
Filha do compositor, cantor e violonista Dorival Caymmi e da cantora Stella Maris, Nana foi uma das vozes mais emblemáticas da música brasileira.
Nascida em 28 de abril de 1941, no Rio de Janeiro, teve uma carreira que abrangeu várias décadas e estilos. Seu repertório incluiu boleros, sambas, sambas-canção, bossa nova e MPB de diferentes épocas.
Ao longo de sua carreira, Nana Caymmi se notabilizou por sua habilidade em interpretar músicas de compositores de peso, como Tom Jobim, Chico Buarque e Caetano Veloso, com uma voz marcante e uma interpretação única.
Ela também ajudou a perpetuar o legado de seu pai, Dorival Caymmi.
Um de seus maiores sucessos foi “Resposta ao tempo” (Cristóvão Bastos e Aldir Blanc, 1998), na abertura da série Hilda Furacão, exibida em 1998.
A cantora deixa três filhos e duas netas.
Arritmia cardíaca: o coração em descompasso
O Instituto Nacional de Coração, Pulmão e Sangue (NHLBI, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, explica que o coração tem uma espécie de sistema elétrico, que é responsável por ditar o ritmo em que o órgão trabalha para bombear o sangue a todo o organismo.
“É normal que os batimentos cardíacos subam durante a atividade física e diminuam durante o descanso e o sono. Também é esperado que esse ritmo do coração sofra pequenas irregularidades ocasionalmente”, explica o instituto.
Nos quadros de arritmia, porém, essas batidas do coração ficam irregulares demais. Elas podem se tornar muito rápidas ou muito lentas, ou assumir um comportamento absolutamente inconstante.
E esse comportamento errático do órgão faz com que uma quantidade insuficiente de sangue seja distribuída para o corpo — o que gera uma série de problemas, desde tontura e falta de fôlego a desmaios e palpitações.
Ainda segundo o NHLBI, existem diferentes tipos de arritmia, que são classificados de acordo com o local onde elas acontecem.
Há, por exemplo, as arritmias supraventriculares, que começam no átrio (as câmaras superiores do coração) ou nas estruturas que marcam a fronteira com os ventrículos (as câmaras inferiores).
Dentro desse grupo, encontra-se a fibrilação atrial. Esse é o tipo de arritmia mais comum, que afeta entre 2% e 4% da população mundial, segundo diversos levantamentos internacionais.
Nesse quadro, o coração chega a bater mais de 400 vezes por minuto (em repouso, o normal é que esse órgão bata entre 60 e 100 vezes por minuto).
Além disso, as câmaras superiores (os átrios) e as inferiores (os ventrículos) não trabalham em conjunto, como o esperado.
Esse descompasso faz com que os ventrículos não recebam a quantidade de sangue suficiente para suprir toda a demanda do organismo.
Também fazem parte do grupo das arritmias supraventriculares o flutter atrial e a taquicardia paroxística.
Há também o grupo das arritmias ventriculares, que começam nas câmaras cardíacas inferiores. O NHLBI pontua que elas podem ser bastante perigosas e necessitam de cuidados médicos imediatos.
Um artigo de 2012 publicado no site do Instituto do Coração (Incor), de São Paulo, estima que “até 20% da população tem algum tipo de arritmia cardíaca, incluindo aquelas que levam à morte súbita”.
“Trata-se de uma doença grave na qual a qualidade de vida do paciente é comprometida, podendo chegar ao ponto de ele perder totalmente a autonomia”, diz o texto.
A Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac) calcula que, a cada ano, mais de 300 mil pessoas são vítimas de morte súbita no Brasil, grande parte delas vítimas da arritmia cardíaca fatal.
Os sintomas e o diagnóstico da arritmia cardíaca
A British Heart Foundation, uma organização sobre saúde cardiovascular do Reino Unido, lista os sinais mais comuns de uma arritmia:
- Palpitações no peito;
- Enjoo e náusea;
- Sensação de desmaio;
- Falta de fôlego;
- Desconforto no tórax;
- Cansaço.
A entidade aponta que os sintomas podem variar de acordo com o tipo de arritmia que o paciente tem.
Mas como é feito o diagnóstico da condição?
O NHS, o serviço de saúde pública do Reino Unido, explica que quando esses sintomas persistem por muito tempo ou existe um histórico familiar de morte súbita por problemas cardiovasculares, é importante passar por uma avaliação médica.
Um dos métodos mais usados para detectar as arritmias é o eletrocardiograma. O exame faz um registro do sistema elétrico do coração, para ver como está o ritmo de batidas do órgão.
“Mesmo se o eletrocardiograma não encontrar nenhuma alteração, pode ser necessário fazer outros monitoramentos”, diz o NHS.
Outro teste comum é o holter, um pequeno dispositivo que avalia o funcionamento do coração por um período de 24 horas (ou mais, se o especialista achar necessário).
Caso a arritmia aconteça em momentos de atividade física, o médico pode ainda sugerir a realização de testes de esforço, que são feitos em esteiras ou bicicletas ergométricas.
Por fim, também pode ser necessário fazer um monitoramento contínuo do coração ou outros exames, como um estudo eletrofisiológico ou um ecocardiograma (um ultrassom do músculo cardíaco).
As causas da arritmia cardíaca
O NHLBI, dos EUA, explica que as arritmias “são geralmente causadas por um problema no sinal elétrico do coração”.
“Frequentemente, a condição se desenvolve a partir de um gatilho. Em alguns casos, a causa da arritmia não é conhecida”, diz o instituto.
Entre as possíveis origens da doença, destacam-se:
- Idade: conforme envelhecemos, o coração pode sofrer algumas lesões ou sentir as consequências de longo prazo de condições crônicas, como colesterol alto, hipertensão, problemas na tireoide e diabetes;
- Genética: algumas arritmias que aparecem em crianças e adolescentes estão relacionadas a defeitos congênitos ou problemas herdados das gerações anteriores;
- Estilo de vida: estudos revelam que o risco de ter uma arritmia é maior entre fumantes, usuários de drogas ilegais, como cocaína e anfetaminas, e quem bebe muito álcool;
- Remédios: alguns fármacos prescritos para tratar outros problemas de saúde, como hipertensão, alergias, infecções bacterianas ou transtornos psiquiátricos, podem gerar uma arritmia. Antes de interromper o uso deles, no entanto, é importante passar por uma avaliação para ver se é possível fazer um ajuste de doses ou trocar o princípio ativo;
- Outras doenças: as arritmias também são mais frequentes em indivíduos com cardiomiopatias, defeitos cardíacos congênitos, inflamação cardíaca, doenças renais, pulmonares, obesidade, apneia do sono, gripe, covid-19, entre outras.
Existem também alguns fatores que podem engatilhar as arritmias em determinadas pessoas.
É o caso de aumentos ou baixas na quantidade de açúcar no sangue, cafeína, drogas, quadros de desidratação, falta de eletrólitos (potássio, magnésio e cálcio, por exemplo), atividade física, questões emocionais (como estresse, ansiedade, raiva, dor e surpresa), vômitos e tosses.
Nesses casos, uma das maneiras de prevenir as arritmias é justamente evitar sempre que possível esses gatilhos — embora isso não descarte a necessidade de um acompanhamento médico e uma busca por tratamentos efetivos, sobre os quais falaremos adiante.
Nana Caymmi enfrentou um câncer de estômago em 2015. Na última terça (29/4), ela passou por reposição de glicose e teve medicação ajustada pelos médicos, segundo o jornal O Globo.
Como é o tratamento da arritmia cardíaca
O NHS destaca que o controle da arritmia depende do tipo do quadro — e se o coração está batendo mais rápido ou mais devagar do que o esperado.
Também há a necessidade de tratar as condições que estão por trás do descompasso cardíaco.
Se o paciente está com diabetes, pressão e colesterol fora das metas, por exemplo, é importante lidar com esses fatores também.
Já os tratamentos específicos da arritmia envolvem:
- Remédios, como os betabloqueadores e os bloqueadores dos canais de cálcio;
- Cardioversão-desfibrilação (dar um choque elétrico no peito para que o ritmo do coração volte ao compasso);
- Ablação por catéter (técnica cirúrgica que “queima” e destrói o tecido cardíaco doente, onde se origina a arritmia);
- Instalação de marca-passos ou outros pequenos dispositivos que mantêm o ritmo adequado das batidas do coração;
A British Heart Foundation lembra que a maioria das arritmias são tratáveis. “Isso significa que, com a terapia correta, o paciente pode seguir a vida normalmente”.
“Viver com um ritmo cardíaco anormal pode ser emocionalmente desafiador para a pessoa e a família. E é importante lidar com a ansiedade e o estresse relacionados ao quadro”, conclui a instituição.
Segundo o jornal O Globo, Nana Caymmi foi submetida ao implante de um marca-passo no ano passado, quando foi admitida no hospital para tratar da arritmia.
A cantora chegou a ter alta, mas retornou uma semana depois com dores no peito e precisou realizar um cateterismo cardíaco. Na ocasião, Nana passou por uma traqueostomia para auxiliar na respiração e enfrentou desafios relacionados à mobilidade e à recuperação física, diz o jornal.