Ao menos 49 dos 55 vereadores da Câmara Municipal de São Paulo informaram à CNN que pretendem concorrer a um novo mandato nas eleições municipais deste ano.
O número é semelhante ao observado nos pleitos de 2016 e 2020, quando 49 e 50 vereadores, respectivamente, foram às urnas em busca da reeleição.
Em 2016, dos 49 vereadores que se candidataram à reeleição, 32 (ou 65%) renovaram seus mandatos. Quatro anos depois, dos 50 que concorreram à reeleição, 33 (ou 66%) foram eleitos novamente.
Para cientistas políticos consultados pela CNN, esse quadro — que aponta que 89% dos parlamentares paulistanos buscarão manter seus cargos na eleição de outubro — é natural da política, com a busca pelo poder na democracia.
“A primeira coisa que os políticos fazem quando assumem o mandato é pensar na reeleição”, disse Eduardo Grin, cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo. “Porque a política significa poder, que, no caso das democracias representativas, é sinônimo de mandato eletivo”.
Políticos mais votados fora
O segundo e o quinto vereadores mais votados em 2020 disseram à CNN que não irão buscar permanecer em seus cargos para mais um mandato.
- Milton Leite (União), atual presidente da Câmara: 132.716 votos
- Fernando Holiday (PL): 67.715 votos
Em vez de tentar permanecer na Câmara — na qual está desde 1997, tendo chegado a sete mandatos seguidos –, Leite tenta ser vice na chapa encabeçada pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB), pré-candidato à reeleição.
“Coloquei meu nome à disposição do União Brasil e o partido, se assim julgar necessário, o indicará ao prefeito Ricardo Nunes”, disse o vereador à CNN em meio à indefinição sobre quem estará ao lado do nome de Nunes nas urnas.
Já Holiday afirmou à CNN que sente ter cumprido seu papel como vereador da capital. Para ele, o momento é de contribuir com a direita fora de um mandato. “Hoje, percebo que minha nova missão é fazer com que outras pessoas possam ter a oportunidade que tive em representar o povo paulistano”, acrescentou.
Ele também disse não querer que sua reaproximação com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) “seja mal interpretada, como um interesse puramente eleitoral”. “Acredito que, nesse momento, minha contribuição para a direita deve se dar fora de um mandato”.
Sem definição ainda
No universo de 55 vereadores da Câmara paulistana, quatro ainda não decidiram se disputarão a reeleição daqui a pouco menos de oito meses.
- Ricardo Teixeira (União Brasil),
- Ely Teruel (Podemos),
- Atílio Francisco (Republicanos),
- Ricardo Tripoli (PV).
Procurada, a assessoria do vereador Ricardo Teixeira disse à CNN que, “se for da vontade do partido, o vereador disputará a reeleição. A equipe de Ricardo Tripoli declarou que a decisão será tomada pelo vereador em junho.
O gabinete de Ely Teruel informou que a vereadora não irá se manifestar sobre a situação no momento. A CNN tentou contato com a assessoria de Atílio Francisco para entender a indefinição, mas não obteve retorno.
O que explica a busca da maioria pela reeleição?
Na avaliação de Eduardo Grin, o quadro observado na capital paulista não é atípico.
Quem faz política, se não tem cargo, não tem dinheiro, estrutura parlamentar, apoio nem com quem conversar. As pessoas vão pedir apoio para quem tem capacidade de voto. Então, é normal que vereadores busquem a sua recondução ao cargoEduardo Grin
Para Marco Antonio Teixeira, cientista político e professor da FGV-SP, “quem está no mandato tem recursos como emendas parlamentares”.
No fundo, a briga é por dinheiro, para levar para as bases eleitorais sob a forma de políticas públicasMarco Antonio Teixeira
Durante as campanhas, a escolha pelos partidos de quem irá receber maior parcelas da verba do fundo eleitoral para fazer campanha acaba estimulando as candidaturas de quem já possui cargo, lembram os cientistas políticas.
“O que o presidente do partido vai fazer? Dar espaço para uma cara nova que ninguém conhece ou apostar numa cara conhecida, em que ele tem garantia de reeleição? É claro que ele vai apostar no vereador que já tem mandato, mesmo que isso seja exercido por décadas consecutivas”, opina Grin.
Qual o efeito disso? Reduzimos a renovação na política porque um novo candidato vai ter menos apoio da estrutura partidária, o que consolida a permanência de caras conhecidasEduardo Grin
O especialista indica ainda que a renovação é muito influenciada pela conjuntura política do período que antecede a votação.
“Historicamente, São Paulo tem uma renovação de cerca de 40%, ou seja, 90% buscam a recondução do mandato e 60% conseguem renová-lo. Essa renovação é aleatória e influenciada pela conjuntura política do período”, expõe Grin.
Já para Marco Antonio Teixeira, é preciso discutir um limite para reeleição de parlamentares, algo que não existe atualmente.
Tem parlamentares com 40 anos no cargo. O debate sobre limitar reeleição precisa ser enfrentado. Talvez permitir até 3 mandatos consecutivos seja um caminho. A certeza é que necessita de mudançaMarco Antonio Teixeira
O professor cita como exemplo os casos das famílias Tatto e Leite, que têm representantes em outras esferas da política nacional, além da Câmara Municipal.
“Nós temos fenômenos como o de Arselino Tatto, eleito suplente de deputado federal [em 1994], que preferiu não assumir o mandato. Ele iria assumir o mandato, mas permaneceu na Câmara, porque numa cidade como São Paulo você tem a capacidade de levar serviços. Isso garante a eleição de deputados estaduais e federais”, explica.
“Não à toa a família Tatto tem aí vários parlamentares. O Milton Leite, por sua vez, tem dois filhos – um deputado federal e outro estadual. Certamente têm muita influência sobre outros parlamentares. Nós estamos falando de candidatos que são muito mais avulsos do que partidários”, finaliza.
Saiba quem irá disputar a reeleição na Câmara de São Paulo
MDB
- Marlon da Luz
- George Hato
- Marcelo Messias
- Paulo Frange
- Dr. Nunes Peixeiro
- Janaina Lima
Novo
- Cris Monteiro
PL
- Isac Félix
- Thammy Miranda
Podemos
- Danilo do Posto
- Milton Ferreira
Progressistas
- Rodrigo Despachante
- Major Palumbo
PSB
- Adriano dos Santos
- Eliseu Gabriel
PSD
- Coronel Salles
- Rodrigo Goulart
- Waldir Júnior
PSDB
- Beto do Social
- Xexéu Tripoli
- Gilson Barreto (eleito suplente em 1988 e 1992, está em seu 7º mandato consecutivo, sendo o segundo vereador mais longevo no momento)
- Aurélio Nomura
- João Jorge
- Fabio Riva
- Rute Costa
- Sandra Santana
PSOL
- Elaine do Quilombo Periférico
- Silvia Ferraro
- Toninho Vespoli
- Celso Giannazi
- Jussara Basso
- Luana Alves
PT
- Luna Zarattini
- João Ananias
- Jair Tatto
- Arselino Tatto (em seu 9º mandato consecutivo, é o vereador mais longevo atualmente)
- Senival Moura
- Alessandro Guedes
- Hélio Rodrigues
- Manoel Del Rio
Republicanos
- André Santos
- Sansão Pereira
- Jorge Wilson Filho
- Solidariedade
- Sidney Cruz
União Brasil
- Rubinho Nunes
- Sandra Tadeu
- Eli Corrêa
- Adilson Amadeu
- Rinaldi Digilio
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