A tosse alérgica é um dos sintomas respiratórios mais comuns na infância e pode afetar significativamente a qualidade de vida das crianças, principalmente à noite. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), doenças alérgicas acometem de 30% a 40% da população pediátrica. Entre elas, a tosse relacionada à exposição a alérgenos é recorrente e, muitas vezes, negligenciada.
Embora seja frequente, não é uma doença isolada, mas um sintoma de uma reação do sistema imunológico, geralmente ligada à rinite ou à asma. “Ela ocorre como resposta inflamatória após a inalação de substâncias como ácaros, pólens, pelos de animais ou fungos”, explica o pneumologista pediátrico do Prontobaby Hospital da Criança, Cláudio D’Elia.
A Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) reforça que, em casos de asma, a tosse pode ser o único sintoma presente, o que torna o diagnóstico ainda mais desafiador. A entidade também aponta que a asma é subdiagnosticada em até 60% dos casos na faixa pediátrica.
Por que a tosse piora à noite?
Cláudio esclarece que fatores hormonais e ambientais explicam a piora do quadro durante o sono. “À noite, os níveis de cortisol estão mais baixos e, como esse hormônio tem ação anti-inflamatória, sua redução favorece a inflamação das vias respiratórias. A posição deitada também facilita o gotejamento pós-nasal, outro fator que agrava a tosse”, comenta.
Além disso, o contato prolongado com alérgenos presentes em colchões e travesseiros durante a noite contribui para a crise. O médico lembra ainda que o resfriamento do ar nesse período pode desencadear uma resposta exacerbada nos pulmões, especialmente entre crianças com histórico de asma.
A tosse alérgica costuma ser seca, prolongada e sem secreção, diferentemente das causadas por infecções virais, que podem regredir em uma ou duas semanas e vêm acompanhadas de febre, prostração e dor de garganta.
“Quando a tosse persiste por mais de quatro semanas, já é considerada crônica e precisa de investigação médica. Em bebês, qualquer persistência deve ser avaliada com mais rigor”, orienta o especialista.
Rinite mal tratada é um gatilho
Segundo o pneumologista, um dos fatores mais comuns e negligenciados é a rinite alérgica mal controlada. “Ela aumenta a produção de muco nasal, que escorre para a garganta e irrita terminações nervosas, causando a tosse. Também interfere na respiração, já que a obstrução do nariz obriga a criança a respirar pela boca, agravando o quadro”, enfatiza o médico.
Alguns sinais exigem atenção imediata dos pais, como tosse persistente após engasgo com alimento ou objeto, respiração rápida ou com esforço, retrações entre as costelas, lábios arroxeados, febre alta e contínua, recusa alimentar, presença de sangue nas secreções ou episódios de tosse em bebês com menos de três meses.
“Quando houver dúvida, é melhor consultar o pediatra. Muitos pais hesitam em buscar ajuda, mas é preferível errar por excesso do que por omissão”, alerta Cláudio D’Elia.
Tratamento e prevenção
O tratamento envolve medicamentos, controle ambiental e, em casos indicados, imunoterapia. “A imunoterapia subcutânea ou sublingual é segura e eficaz em crianças com sintomas persistentes ligados a alérgenos específicos”, explica o pneumologista.
Entre as principais medidas preventivas estão lavar as roupas de cama a temperaturas acima de 60°C, usar capas antialérgicas em colchões e travesseiros, aspirar os colchões duas vezes por semana, evitar objetos que acumulem poeira no quarto da criança e manter os ambientes bem ventilados e secos.
Para brinquedos e cobertores, recomenda-se colocá-los no congelador por 24 horas e lavá-los em seguida para reduzir a presença de ácaros.
Tosse alérgica pode evoluir para asma
De acordo com a SBPT, de 15% a 40% das pessoas com rinite alérgica desenvolvem também sintomas de asma. “A tosse pode ser a única manifestação da chamada asma variante, que precisa ser reconhecida e tratada para evitar o agravamento do quadro respiratório”, explica o especialista.
O médico reforça que o acompanhamento com um pediatra ou pneumologista é fundamental para orientar os pais, controlar os sintomas e evitar complicações futuras.