O impacto das mudanças climáticas também pode ser sentido na qualidade nutricional dos alimentos, de acordo com um novo estudo apresentado na Conferência Anual da Sociedade de Biologia Experimental em Antuérpia, na Bélgica, no último dia 8.
Segundo os pesquisadores, a combinação de um maior nível de dióxido de carbono (CO₂) atmosférico e temperaturas mais altas contribui para a redução do valor nutricional de culturas alimentares, com implicações para a saúde e bem-estar dos humanos.
De acordo com Jiata Ugwah Ekele, doutoranda na Universidade John Moores de Liverpool, no Reino Unido, e líder do estudo, as mudanças climáticas afetam desde a fotossíntese e taxas de crescimento de folhas — como rúcula, espinafre e couve — até a síntese e o armazenamento de nutrientes das culturas.
“É crucial compreender esses impactos porque somos o que comemos e as plantas formam a base da nossa rede alimentar como produtoras primárias do ecossistema”, afirma Ekele, em comunicado à imprensa. “Ao estudar essas interações, podemos prever melhor como as mudanças climáticas moldarão o panorama nutricional dos nossos alimentos e trabalhar para mitigar esses efeitos”, completa.
A pesquisa concentra-se em vegetais folhosos populares cultivados em câmaras de crescimento com ambiente controlado na Universidade John Moores de Liverpool. No projeto, os níveis de CO₂ e a temperatura ambiente foram alterados para simular os cenários climáticos futuros para o Reino Unido.
“Marcadores fotossintéticos, como fluorescência da clorofila e rendimento quântico, são avaliados à medida que as culturas crescem, enquanto o rendimento e a biomassa são registrados na colheita”, explica Ekele.
Após as plantas serem cultivadas em condições de mudanças climáticas, a qualidade nutricional foi analisada usando cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) e perfil de fluorescência de raios-x para medir as concentrações de açúcar, proteína, fenólicos, flavonoides, vitaminas e antioxidantes.
Resultados preliminares deste projeto sugerem que níveis elevados de CO₂ atmosférico podem ajudar as plantações a crescerem mais rápido e em maior quantidade, mas não de forma mais saudável. “Após algum tempo, as plantações apresentaram uma redução em minerais essenciais, como cálcio e certos compostos antioxidantes”, afirma Ekele.
Esse desequilíbrio nutricional traz sérias implicações para a saúde da humanidade. Embora níveis mais altos de CO₂ possam aumentar a concentração de açúcares nas plantações, também podem diluir proteínas, minerais e antioxidantes essenciais. “Esse desequilíbrio pode contribuir para dietas mais calóricas, mas com menor valor nutricional”, afirma Ekele.
“O aumento do teor de açúcar nas plantações, especialmente em frutas e vegetais, pode levar a maiores riscos de obesidade e diabetes tipo 2 — principalmente em populações que já lutam contra doenças crônicas não transmissíveis”, completa. Além disso, o baixo teor nutricional também pode levar à deficiência em proteínas e vitaminas vitais, comprometendo o sistema imunológico e agravando problemas de saúde.
Embora a pesquisa simule as mudanças climáticas projetadas para o Reino Unido, as implicações são globais, segundo Ekele.
“Os sistemas alimentares no Norte Global já estão sendo desafiados por mudanças nos padrões climáticos, estações de cultivo imprevisíveis e ondas de calor mais frequentes”, analisa a pesquisadora. “Em regiões tropicais e subtropicais, essas áreas também enfrentam estressores sobrepostos, como seca, pragas e degradação do solo — e abrigam milhões de pessoas que dependem diretamente da agricultura para alimentação e renda”, afirma.