O Ministério da Agricultura confirmou ontem o primeiro foco de monilíase — doença que já dizimou plantações de cacau em países como Equador e Peru — em uma área de produção comercial no Brasil. O foco, encontrado no município de Urucurituba, no Amazonas, já passou por ações de controle, segundo o ministério.
A existência do foco em Urucurituba já havia sido divulgada pela Pasta em junho de 2024, mas na ocasião o ministério não informou que a ocorrência era em uma produção comercial de cacau. De acordo com Sivandro Campos, gerente de Defesa Vegetal da Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Amazonas (ADAF/AM), trata-se do mesmo foco alvo das ações de controle. A região é próxima ao Estado do Pará, maior produtor da amêndoa do Brasil ao lado da Bahia.
Segundo o Ministério da Agricultura informou em nota, a operação de controle incluiu redução de copas, remoção de frutos e aplicação de ureia nas árvores infectadas. Além disso, foram realizados levantamentos para a delimitação do alcance da praga em nove municípios próximos à divisa entre os Estados do Amazonas e Pará.
A monilíase é causada pelo fungo Moniliophthora roreri, que produz esporos que permanecem ativos por meses. A doença ataca o cacaueiro e cupuaçuzeiro em qualquer fase de desenvolvimento e, por isso, tem maior potencial de destruição que a vassoura-de-bruxa, responsável pela devastação da cacauicultura brasileira na década de 1980, mas que atinge somente frutos jovens, segundo o Ministério da Agricultura.
O primeiro foco da doença no Brasil foi identificado em julho de 2021 em árvore de cupuaçu em área urbana no município de Cruzeiro do Sul, no Acre. Em 2022, um segundo foco foi confirmado no município de Tabatinga, no Amazonas, em comunidades rurais ribeirinhas, também em cupuaçuzeiro. Neste ano, no mês de junho, a doença chegou a Urucurituba.
Segundo Campos, a operação de controle realizada nos últimos meses não constatou novos focos da doença em áreas próximas ao município. Questionado sobre a proximidade com o Pará, ele disse que a “notícia de que o foco de monilíase foi suprimido” é tranquilizadora. Campos participou ontem de reunião com representantes do Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas (DSV), vinculado ao Ministério da Agricultura.
Os próximos passos, afirmou o gerente de Defesa Vegetal, é continuar com os trabalhos de controle para conter o avanço da doença. “Todos os trabalhos seguem sendo feitos por levantamento de detecção da praga e controle de trânsito no porto de Tabatinga”, disse.
Para Ricardo Gomes, agrônomo e gerente de Desenvolvimento Territorial do Instituto Arapyaú, a incidência no Amazonas gera uma “preocupação gigantesca”. Ele destacou o cuidado das autoridades para retardar o máximo possível a entrada do fungo em regiões produtoras, como o Pará. “Todo mundo sabe que isso vai acontecer em algum momento, mas até lá precisamos saber como podemos nos preparar com melhoramento genético e combate mais eficaz da doença”.
Segundo o pesquisador Silvino Kruschewsky, da SK Agro, a situação “preocupa porque deu um ‘pulo’ para mais próximo ao Pará”. O especialista dá consultoria agrícola sobre o convívio com a monilíase em países da América Central desde 2012. “Como os países vizinhos têm monilíase, sabemos que uma hora ela vai chegar” às regiões produtoras, afirmou. Na América do Sul, a enfermidade está presente no Equador, Colômbia, Venezuela, Bolívia e Peru.
A operação em Urucurituba contou com equipes de auditores fiscais da Superintendência de Agricultura e Pecuária do Estado do Amazonas (SFA/AM), operadores de campo da Prefeitura de Urucurituba, fiscais estaduais da ADAF e técnicos e motoristas de barco do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (IDAM).
Os levantamentos de delimitação tiveram a participação de barcos e fiscais estaduais da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará).
Procurado para comentar o foco, o Ministério da Agricultura não se manifestou.