O CEO da JBS, Gilberto Tomazoni, afirmou que uma missão chinesa deve vir ao Brasil ainda em setembro para tratar da possível reabertura do mercado chinês à importação de carne de frango brasileira. A visita ocorre após a suspensão temporária das exportações devido a um caso de gripe aviária registrado no mês de maio em uma granja comercial no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul.
Segundo Tomazoni, a delegação chinesa deve realizar visitas in loco, incluindo uma passagem pelo Estado do Rio Grande do Sul. Ele destacou que a missão é considerada uma etapa importante no processo de retomada das exportações ao país asiático.
“Está vindo uma missão chinesa para o Brasil, que irá até o Rio Grande do Sul, in loco, o que seria uma das etapas importantes. A expectativa é que venha ainda neste mês”, disse.
Tomazoni ressaltou a atuação da indústria brasileira e do governo em relação aos casos registrados no país. “Os investimentos em biossegurança têm funcionado. Houve apenas um caso em granja comercial. O que vemos são casos em aves silvestres e domésticas. Isso mostra que o vírus circula, mas não entrou na produção comercial”, afirmou.
Segundo ele, a liberação de exportações para alguns países agora depende mais de acordos políticos e técnicos do que de barreiras sanitárias propriamente ditas.
O executivo afirmou que o que pode ser feito em relação ao futuro é a melhora de protocolos, “embora já tenham evoluído bastante”, o que poderia minimizar possíveis efeitos comerciais diante de novos casos.
Tarifaço e oportunidades para o Brasil
O CEO da JBS avaliou que o crescimento da população mundial e a elevação da renda média devem impulsionar a demanda por proteínas nos próximos anos, abrindo uma janela de oportunidades para o Brasil no mercado internacional, que não deve incluir apenas a China. Tomazoni lembrou a projeção de que a população global alcance 9,8 bilhões de pessoas até 2050.
Com esse aumento, espera-se uma melhora na qualidade da dieta em diversos países, com maior presença de proteínas no consumo diário. Esse cenário abre espaço para a ampliação das exportações brasileiras.
“A carne bovina, por exemplo, ainda tem um consumo per capita baixo em vários mercados. Em alguns lugares, como na Ásia, a carne vermelha é considerada um alimento aspiracional — à medida que a renda cresce, cresce também o desejo por cortes de maior qualidade”, afirmou.
A China, maior produtor mundial de carne suína, já reduziu significativamente suas importações dessa proteína do Brasil. No entanto, ainda há espaço para produtos específicos, como as patas de frango, que têm forte aceitação no mercado chinês.
Contudo, o executivo pontua que o país asiático não deve reduzir suas importações de carne bovina tão cedo. Segundo ele, o consumo per capita de carne bovina é de cerca de 8,9 quilos, oferecendo espaço para crescimento.
Embora a China continue sendo um destino relevante, Tomazoni destacou que há uma diversificação geográfica em curso nas exportações brasileiras de proteína. Outros mercados emergentes entram no radar.
“Indonésia abriu recentemente, temos Filipinas, Vietnã. São países com potencial de crescimento onde o Brasil pode ampliar sua presença. Se conseguirmos acessar mercados como Japão e Coreia do Sul com carne bovina, estaremos lidando com produtos de alto valor agregado. O Brasil tem condições de atender essa demanda e ganhar espaço nesses segmentos premium”, disse.
Outro ponto levantado por Tomazoni foi o papel do Brasil na segurança alimentar global, especialmente em regiões como África Subsaariana e Índia, que devem registrar um forte crescimento no consumo nos próximos anos.
De acordo com o CEO, o Brasil pode não apenas fornecer alimentos, mas também participar do desenvolvimento local por meio de parcerias estratégicas, investimentos diretos e transferência de tecnologia. “Não vejo a busca desses países pela autossuficiência como ameaça. Pelo contrário: o Brasil tem uma vantagem comparativa relevante e pode contribuir com valor agregado”, avaliou.
A tendência, segundo o executivo, é que o Brasil avance para além da exportação de commodities, com maior foco em produtos processados, marcas fortes e boas práticas sustentáveis. “A cadeia de valor brasileira tem potencial para continuar evoluindo e se posicionar com protagonismo no mercado global de alimentos”, disse.
Sobre a tarifa recentemente anunciada pelos Estados Unidos sobre a importação de produtos brasileiros, Tomazoni afirmou que é cedo para medir os impactos. “Para a JBS como grupo global, não é algo material. Para algumas unidades específicas da Friboi, que estavam direcionadas ao mercado americano, pode haver impacto nas margens, mas o Brasil tem outros mercados para onde redirecionar essa produção”, explicou.