Mortes registradas após o consumo de bebida alcoólica adulterada em cidades do estado de São Paulo fizeram muita gente se perguntar: afinal, qual a diferença entre etanol e metanol?
É IMPOSSÍVEL NOTAR A DIFERENÇA entre metanol e etanol sem testes de laboratório. O consumidor não conseguirá perceber, apenas analisando a bebida no copo, se ela está adulterada. Tanto o etanol quanto o metanol são incolores, inflamáveis e têm cheiros semelhantes.
As bebidas alcoólicas contêm etanol e esse é o mesmo álcool encontrado, em concentrações diferentes, em produtos de uso doméstico, combustível e antissépticos. O metanol também é um álcool, com características bem parecidas. Mas a estrutura química deles é diferente, e ela faz com que o metanol seja extremamente impróprio para consumo.
O metanol já foi chamado de “álcool da madeira”, porque era obtido pela destilação de toras. Hoje, sua produção industrial é feita principalmente a partir do gás natural.
Fórmulas químicas do etanol e metanol
Os dois álcoois possuem as seguintes fórmulas químicas:
- Etanol: C₂H₆O
- Metanol: CH₃OH
Enquanto o etanol tem dois átomos de carbono, o metanol possui apenas um. Esse único átomo de carbono faz toda a diferença e transforma o metanol no “álcool do mal” quando ingerido.
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— Foto: Arte g1
Como metanol e etanol são utilizados
Apesar de não ser seguro para consumo humano, o metanol tem diversas aplicações legítimas na indústria.
Ele é usado na fabricação de formaldeído (o famoso formol), ácido acético, tintas, solventes e plásticos, e está presente em produtos como anticongelantes, limpa-vidros e removedores de tinta.
Também já foi utilizado como combustível em carros de corrida e pequenos motores, mas em condições seguras e controladas.
No Brasil, uma das principais funções do metanol é servir de matéria-prima para a produção de biodiesel, em um processo químico chamado de transesterificação.
Fora disso, ele não deve ser comercializado diretamente para consumo humano ou adicionado em grande escala a combustíveis comuns.
O etanol também é muito versátil, o que lhe permite aplicações diversas de acordo com as variações de concentração.
- <20% → bebidas leves (vinhos e cervejas).
- 20% a 50% → bebidas fortes (destilados, licores), cosméticos (perfumes, tônicos).
- 70% → antissépticos de pele e superfícies.
- 95% a 99% → combustível, usos laboratoriais e de indústria.
Como o metanol e o etanol são metabolizados no corpo
O que torna o metanol tóxico é a maneira que ele é metabolizado, ou decomposto, em nossos corpos.
O etanol é metabolizado em um composto químico chamado acetaldeído. O acetaldeído é tóxico, mas é rapidamente convertido em acetato (também conhecido como ácido acético, encontrado no vinagre). Gerar um ácido pode parecer ruim, mas o acetato, na verdade, produz energia e cria moléculas importantes no corpo.
Em contrapartida, o metanol é metabolizado em formaldeído, um produto químico utilizado em colas industriais e para embalsamar cadáveres, por exemplo. E, em seguida, em ácido fórmico – o produto químico presente em algumas picadas de formiga que causa tanta dor.
Ao contrário do acetato, que o corpo utiliza, o ácido fórmico envenena as mitocôndrias, que são as centrais energéticas das células.
Como resultado, uma pessoa exposta ao metanol pode entrar em acidose metabólica grave, que é quando há acúmulo excessivo de ácido no corpo.
O envenenamento por metanol pode causar náuseas, vômitos e dor abdominal. A acidose causa então depressão do sistema nervoso central, o que pode fazer com que as pessoas com envenenamento por metanol fiquem inconscientes e entrem em coma, além de causar danos à retina, levando à perda da visão. Isso ocorre porque as retinas são repletas de mitocôndrias ativas e sensíveis a danos.
A morte não é inevitável se apenas uma pequena quantidade de metanol tiver sido consumida, e o tratamento rápido reduzirá significativamente os danos.
No entanto, podem ocorrer danos permanentes à visão mesmo em doses não letais se o tratamento não for administrado rapidamente.
O que envolve o tratamento?
O tratamento consiste principalmente em cuidados de suporte, como intubação e ventilação mecânica para ajudar o paciente a respirar.
Mas também pode envolver medicamentos como o fomepizol (que inibe a geração de ácido fórmico tóxico) e diálise para remover o metanol e seus metabólitos do corpo.