O mercado de fertilizantes no Brasil atravessa um momento de incerteza, com sinais de desaceleração das importações no segundo semestre de 2025 e pressão altista sobre os preços, especialmente da ureia.
Entre janeiro e maio de 2025, o Brasil importou 14,4 milhões de toneladas de fertilizantes, um aumento de 14% em relação ao mesmo período do ano anterior. Esse avanço, no entanto, é atribuído a uma antecipação das compras por parte das misturadoras, aproveitando preços mais baixos no início do ano, aponta o Itaú BBA em relatório.
Apesar desse ritmo acelerado nos primeiros meses, a projeção é de desaceleração. O banco estima que o país fechará 2025 com 40,6 milhões de toneladas importadas, uma queda de 1,8% em comparação a 2024. Um dos motivos é o elevado nível de estoques, tanto na indústria, quanto na revenda.
“Desde 2021, os estoques vêm se acumulando e, no início de 2025, ficaram bem acima da média histórica. Essa situação pressiona as margens das revendas e reduz o ímpeto por novas compras, mesmo diante da proximidade da safra de verão”, aponta.
A demanda interna, no entanto, segue firme. Dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA) mostram que as entregas aos produtores cresceram 9,1% no primeiro trimestre deste ano, totalizando 9,6 milhões de toneladas.
Ainda assim, o Itaú BBA prevê que esse ritmo deve perder força nos próximos meses, influenciado por uma piora nas relações de troca e encarecimento dos insumos. A projeção é de crescimento de 6% nas entregas totais em 2025, com destaque para o segundo semestre, período de maior demanda por fertilizantes no país.
Enquanto isso, os preços da ureia voltaram a subir no Brasil. De acordo com relatório da consultoria StoneX, o movimento é reflexo de um mercado internacional mais apertado, impulsionado principalmente por uma forte demanda da Índia e por restrições de exportação da China.
“O fato que deflagrou esse movimento de alta no preço da ureia no Brasil foi o anúncio de novas informações sobre uma licitação de compra em andamento na Índia”, explica Tomás Pernías, analista de Inteligência de Mercado da empresa.
Segundo ele, os preços da ureia nos portos brasileiros subiram até US$ 30 por tonelada em apenas uma semana. “Atualmente, uma importadora indiana busca cargas de ureia no mercado internacional e, durante essa negociação, os fornecedores demonstraram estar pouco dispostos a vender ureia por preços relativamente baixos, o que sinaliza que esse mercado está mais apertado do que se imaginava”, completa Pernías.
Além do cenário asiático, o mercado ainda sente os efeitos da interrupção da produção em países como Irã e Egito, afetados por tensões no Oriente Médio. “Diante disso, o anúncio das intenções de venda por parte dos fornecedores de ureia que participam da licitação indiana impulsionou os preços em um momento delicado: a China, grande exportadora de ureia, atualmente limita suas exportações do produto, contribuindo para a sustentação dos preços no mercado externo”, analisa o especialista.
Essa combinação de fatores pode dificultar a vida dos produtores brasileiros, especialmente os que ainda não adquiriram os insumos para a safrinha de milho 2025/26. De acordo com Pernías, os importadores e os agricultores do Brasil costumam aumentar suas aquisições de ureia ao longo do segundo semestre e, especialmente para aqueles que ainda precisam adquirir nitrogenados para a safrinha de milho 2025/26, essa situação pode agravar as relações de troca em um momento estratégico para o mercado doméstico.
“Os agricultores brasileiros já enfrentam, no mercado dos fosfatados, uma situação de relações de troca pouco atrativas, o que tende a reduzir as margens dos produtores que convivem com um cenário adverso em relação aos custos de produção rural”, finaliza Pernías.
Outro ponto de atenção no mercado é o câmbio. O relatório do Itaú BBA ressalta que as tarifas comerciais anunciadas pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump podem afetar o real. “A depender da condução das negociações, o real tende a se enfraquecer, o que eleva o custo do dólar e pressiona os gastos com produção agrícola”, observa o banco.
Com a maior parte dos fertilizantes sendo importada, o encarecimento do dólar pode agravar ainda mais a situação, elevando os custos de produção e afetando a rentabilidade do campo em um momento crucial para o planejamento da próxima safra.