Nesta nesta terça-feira (28/10), duas organizações não governamentais lançam estudos sobre a Mata Atlântica. Os levantamentos apontam motivos para celebrar, como a regeneração de 4,9 milhões de hectares (ha), mas também indicam sinais de preocupação como o desmatamento de parte da área recuperada (22%). Outra questão negativa é que grande parte do desmatamento ocorrido está em florestas maduras, ou seja, com mais de 40 anos de formação.
Conforme a SOS Mata Atlântica, de 1993 a 2022, 4,9 milhões de hectares, uma área maior do que a do estado do Rio de Janeiro, entraram em processo de regeneração no bioma. Apesar disto, 1,1 milhão de hectares (22%) voltaram a ser desmatados.
O estudo da SOS Mata Atlântica afirma que grande parte da regeneração ocorreu em terras privadas, sobretudo, em pequenos produtores rurais, que seriam responsáveis por 45% da área total recuperada. Os especialistas consideram que a restauração, em muitos casos, se materializa de forma natural ou por meio de plantios. O crescimento da vegetação acontece nas bordas das lavouras, margens dos rios e encostas íngremes, onde o uso agrícola é limitado.
“É nas pequenas propriedades que a regeneração tem mostrado maior força e persistência, com papel essencial na recuperação de nascentes, na reconexão dos fragmentos florestais da Mata Atlântica e na retenção de carbono”, ressalta o diretor executivo da SOS Mata Atlântica e coautor do estudo, Luís Fernando Guedes Pinto.
Estados com mais regenerações e perdas
O estudo também detalha onde a regeneração e a perda de áreas recuperadas ocorrem com mais ênfase. Os estados de Minas Gerais e Paraná lideram tanto a regeneração persistente – áreas que não são desmatadas novamente, com mais de 900 mil hectares cada -, quanto a efêmera, com 263 mil hectares e 192 mil hectares, respectivamente. A recuperação efêmera é aquela em que a área que voltou a ser floresta acaba sendo desmatada novamente.Play Video
Os estados que mais desmatam a Mata Atlântica também são Minas Gerais e Paraná. Na sequência aparecem São Paulo (479 mil ha), Santa Catarina (362 mil ha), Rio Grande do Sul e Bahia.
O estudo completo, batizado de “Onde a floresta retorna e persiste: a recuperação da Mata Atlântica começa nas pequenas propriedades” será lançado nesta terça, às 14h30, em transmissão ao vivo no YouTube e Facebook da Fundação SOS Mata Atlântica.
1985 – 2024
O outro estudo lançado nesta terça é da iniciativa multi-institucional MapBiomas e avalia o período de 1985 a 2024. Em 1985, conforme o levantamento, o bioma tinha apenas 27% da área de floresta original. A área de floresta possui diferentes características, como formação florestal, formação savânica, mangue e restinga arbórea.
“De lá (1985) para cá, o ritmo de desmatamento foi diferente em cada uma das quatro décadas até 2024. Depois da promulgação da Lei da Mata Atlântica é possível notar, inclusive, um ligeiro aumento na área florestada do bioma”, diz Natalia Crusco, da equipe Mata Atlântica do MapBiomas.
O “ligeiro aumento na área florestada do bioma” após a aplicação da Lei da Mata Atlântica, em 2006, pode ser visualizado no gráfico a seguir. A área de floresta aumenta, tendo pico por volta de 2015 a 2018, mas volta a reduzir na sequência.
Em relação à área de formação florestal do bioma, houve uma redução de 26,85% para 24,67%, o equivalente a 2,4 milhões de hectares (8,1% do total), no período estudado por meio de imagens de satélite. Para efeito de comparação, é um espaço superior à área do estado de Sergipe ou 20 vezes a área da cidade do Rio de Janeiro.
O estudo aponta também que cerca de metade do desmatamento registrado em 2024 se dá em florestas maduras, ou seja, aquelas com mais de 40 anos.
Agricultura
A MapBiomas lembra que a Mata Atlântica concentra um terço (33%) da agricultura do Brasil. A área ocupada pela atividade cresceu 96% desde 1985, ganhando 10 milhões de hectares do bioma em 40 anos. As imagens de satélite revelam que a expansão ocorreu, principalmente, sobre áreas de pastagem, que perderam 8,5 milhões de hectares de área no período.
O avanço da agricultura sobre o bioma foi mais discreto: cerca de 10% das áreas agrícolas hoje eram áreas naturais em 1985.







