A cantora Marina Lima, 69, recordou a morte assistida de seu irmão, Antonio Cícero, aos 79 anos, em Zurique, na Suiça, em outubro de 2024, após receber o diagnóstico de Alzheimer.Play Video
Durante sua participação no Conversa com Bial, da TV Globo, na noite da última segunda-feira (14), a artista detalhou sua relação com o poeta e escritor e a admiração mútua que nutriam.
“A morte dele faz parte da obra dele. Isso é incrível, tenho um orgulho danado disso. porque o Cícero não deixou barato em nenhum momento. É um orgulho danado. Fez todo mundo pensar de novo sobre isso, sobre eutanásia, sobre permissão. Por que tem ir para o exterior fazer isso? Como várias coisas no Brasil, devia ser permitido no Brasil também”, disse.
Marina também lembrou que o irmão não quis compartilhar a decisão do procedimento e optou pelo sigilo para que ninguém tentasse interferir. “Ele não conversou com ninguém sobre isso, porque acho que ele tinha medo que alguém interferisse. Jamais iria interferir porque conheço ele desde que nasci. Sei como ele é, sei como ele era racional e decidido em relação a tudo. Ele conversou com o Marcelo, marido dele de mais de 40 anos”, contou.
Segundo a artista, mesmo com o segredo, notou uma presença frequente de Antonio em seus shows durante o período. Embora não soubesse o que estava prestes a acontecer, sentiu vontade de homenageá-lo – quase uma despedida.
“Não percebi porque ele começou a aparecer em todos os shows. Os shows que eu estava fazendo naquele período, que era o lançamento do ‘Rota 69’, ele assistiu a uns quatro. Estava feliz, em todo show eu o homenageava. Falava dele e ele era ovacionado. Não percebi que ele iria fazer isso”, entregou.
“Ele me ligou na véspera, na noite anterior”, conta Marina Lima
Na véspera de sua morte, Antonio procurou por Marina. O contato foi via telefone, quando ele já estava na Suíça. Ali, ele revelou a decisão de forma direta e com muito sentido, especialmente para aqueles que o conheciam bem e respeitavam a forma como o poeta encarava a vida.
“Ele me ligou na véspera, na noite anterior. Tinha estado com ele uma semana antes, na casa dele. E ele falou: ‘Estou na Suíça’. Quando ele falou, já entendi. Porque, na realidade, o Cícero sempre foi ateu, nunca acreditou em nada, mas viveu até a última gota. Ele adorava a vida. Era um aventureiro, poeta e filósofo. Adorava o que ele fazia, o ofício. E dono de uma inteligência impressionante”, acrescentou.
Lima disse que o diagnóstico de Alzheimer o afetou completamente. A doença, segundo ela, trouxe desconforto para uma pessoa que dava muito valor a lucidez e a própria autonomia.
“Na hora que ele soube do diagnóstico com Alzheimer, ele ficou grilado. A nossa família era todo mundo alegre. Um coisa de família, do pai, da mãe. A gente ria muito, muito encontro semanal, muita risada, muita brincadeira. E eu comecei a perceber o Cícero chateado com o diagnóstico, muito aborrecido. Ele não estava acostumado a se sentir sem está completamente dono da vida e da cabeça dele”, concluiu.