O manejo de animais no Rio Grande Sul, que sofre com chuvas e alagamentos desde o final do mês de abril, tem sido um grande desafio para produtores e especialistas na área. De acordo com Mauro Moreira, presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul (CRMV-RS), neste momento, o principal problema são as carcaças dos animais de produção que morreram devido à enchente.
“O ideal seria a incineração, mas não temos pessoal para realizar esses serviços. Além disso, as estradas estão trancadas. Com isso, os municípios estão tendo que tomar as decisões dentro de suas possibilidades”, afirma Moreira.
A grande preocupação é com a contaminação do lençol freático, bem como com a transmissão de doenças dentro de uma mesma região e entre localidades diferentes.
No dia 14 de maio, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente publicou uma instrução normativa autorizando, “enquanto durar o estado de calamidade, que os cadáveres de animais sejam destinados para composteiras, centrais de compostagens, pátios de compostagens e centrais de tratamento de dejetos orgânicos”.
O texto também autoriza que possam ser enterrados em valas, desde que em ponto elevado do terreno com lençol freático a pelo menos dois metros de profundidade, afastado 30 metros de residências, e em fundo impermeabilizado.
“Apesar da tentativa de se planejar uma solução logística, neste momento não existe um comando oficial sobre o que fazer e ainda não temos dados oficiais sobre a morte de animais”, lamenta o presidente do CRMV-RS. Isso se deve ao fato de o programa do Estado que atualiza os dados sobre animais mortos estar fora do ar.
“Temos relatos de locais onde os animais foram dizimados, de criatórios de aves e de suínos, mas oficialmente não temos estatísticas sobre animais de produção. Sabemos que equinos foram resgatados, como o caso do cavalo Caramelo, que uma granja de suínos com 400 animais, perdeu 300 cabeças e que os bovinos também foram muito afetados”, relata.
Algumas propriedades registraram quase 100% de morte dos animais. Outras regiões, que não sofreram com enchentes mas tiveram chuvas, também estão sendo afetadas porque o gado emagreceu a campo, como por exemplo, na Fronteira Oeste.
Dificuldades com rebanhos
De acordo com o informativo da Emater/RS publicado nesta quinta-feira (16/05), os rebanhos estão sofrendo estresse em razão da umidade e da queda nas temperaturas, além da escassez prolongada de forragem.
O documento relata ainda que o manejo dos animais está mais difícil, especialmente por causa do encharcamento das áreas de pastagens e da necessidade de realocação para áreas mais altas em algumas propriedades.
Além disso, entraves logísticos e sanitários prejudicam a comercialização e o fornecimento de insumos essenciais, agravando ainda mais a situação para os pecuaristas.
As estradas intransitáveis estão provocando também interrupções na coleta do leite, levando à necessidade de utilização de geradores para ordenha e resfriamento e, consequentemente, aumentando os custos operacionais para os produtores. Além disso, a baixa oferta de alimentos e da qualidade do pastoreio causaram redução da produção de leite em diversas propriedades.
Moreira conta ainda que um instituto de pesquisa que usava bovinos para pesquisa no município de Eldorado do Sul perdeu os 40 animais. “Estamos ainda vivendo o caos e tentando socorrer”.
Nas regiões de enchente, a maioria dos animais de criação morreu e os que não morreram, como os equinos, começaram a apresentar doenças, como pneumonia e doenças de pele. Em um abrigo em Porto Alegre estão 18 equinos.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), publicados pela ONG Mercy For Animals (MFA), no Rio Grande do Sul são criados 178,7 milhões de galinhas e frangos 11,9 milhões de bois e vacas, 6,1 milhões de porcos, 3,3 milhões de ovelhas, 619 mil codornas, 59,9 mil bodes e cabras, além 49,4 mil búfalos.
Para Cristina Mendonça, diretora executiva da MFA, os animais em fazendas são vítimas invisíveis das inundações no Grande do Sul. “São vidas sensíveis, capazes de sentir dor, medo, angústia e abandono e também demonstram gratidão, alívio e alegria ao serem resgatados. No entanto, têm sido frequentemente reduzidos a prejuízos econômicos”.
Resgates
Segundo informações da Defesa Civil, mais de 12 mil animais já foram resgatados vítimas da enchente no Rio Grande do Sul.
Mauro Moreira explica que o Conselho de Medicina Veterinária está buscando criar um fundo especial, nos moldes dos fundos de produção rural, para levantar recursos para a causa animal. Todos os abrigos construídos até agora foram erguidos pela iniciativa dos voluntários. Em galpões que foram construídos em anexos à Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), em Canoas, foram abrigados 2.500 pets.
“Conseguimos com o Estado de São Paulo um hospital veterinário de campanha que está funcionando e temos voluntários de todo o Brasil trabalhando lá, mas pela nossa experiência os voluntários atuam por 15 dias, depois eles têm que voltar a trabalhar. Não sabemos quem vai continuar”.
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