A Maersk, uma das maiores armadoras do mundo, está testando o uso de etanol misturado ao metanol nos tanques de navios com motores a metanol, e vai agora começar a testar o uso de etanol nos navios convencionais, misturado ao diesel marítimo (bunker). Em seus primeiros testes nos navios a metanol, os resultados têm sido positivos, segundo Danilo Veras, vice-presidente de políticas regulatórias da Maersk Latam.
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“O comportamento do combustível tem sido muito bom”, afirmou. Segundo ele, os testes estão verificando a adaptação técnica do etanol, como a lubricidade dos motores, o nível de emissões de poluentes, o comportamento da corrosão dentro do maquinário, entre outros. “Dentro do que a literatura previa, os resultados têm sido mais positivos”, disse Veras.
Os testes estão sendo feitos apesar do adiamento de uma definição da Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês) sobre o uso do etanol no transporte marítimo, que era esperada para a reunião anual da entidade na semana passada. Com o adiamento, a IMO se debruçará por mais um ano sobre as discussões a respeito da adoção do etanol como uma alternativa de combustível sustentável.
A mistura testada pela Maersk é de 10% de etanol ao metanol, mas Morten Christiansen, vice-presidente sênior da Maersk e líder de descarbonização da companhia, afirmou que o motor a metanol tem possiblidade de ser totalmente flex, ou seja, pode ser abastecido apenas com etanol, de acordo com relatos da literatura e testes. Os testes da Maersk começaram em 23 de setembro e devem ser concluídos no próximo dia 23, quinta-feira. Antes, a Everland, fornecedora do motor a metanol, já havia concluído seus próprios testes de adição de etanol, que também foram considerados satisfatórios.
Assim que os testes forem concluídos, a Maersk dará início às negociações comerciais com fornecedores de etanol brasileiros. As tratativas deverão envolver questões de sustentabilidade do biocombustível do Brasil, que possui uma pegada de carbono menor do que outros globalmente, como o etanol americano. Em paralelo, a companhia também começará a testar a adição de etanol nos motores convencionais, movidos a bunker.
A perspectiva é que a validação técnica do etanol em motores de navios abra um mercado potencial de 50 bilhões de litros ao ano, um volume próximo a toda a produção de etanol dos Estados Unidos, ou 150% maior do que a produção do Brasil. Segundo Veras, o etanol brasileiro deve sair na frente, já que, na saída das usinas o produto do Brasil tem uma pegada de carbono 80% menor que o bunker de origem fóssil, considerando-se desde o início da produção, enquanto o etanol americano tem uma capacidade de redução de emissões de 55% a 60%. “O etanol brasileiro é mais competitivo do ponto de vista de sustentabilidade, é altamente escalável e é competitivo em custo”, defendeu.
A Maersk tem como meta de descarbonização alcançar a neutralidade de emissões de carbono até 2040. Segundo Veras, para isso, será preciso utilizar diversas soluções disponíveis, entre elas o metanol de origem vegetal, os combustíveis sintéticos e o biodiesel – este de viabilidade ainda não provada nos navios. Outra alternativa que vem sendo mais adotada é o gás natural liquefeito, ressaltou Jens Hüren, diretor da Everllence Brasil, unidade brasileira da maior fabricante de motores para navios do mundo.
No entanto, tanto Veras quanto Hüren acreditam que o etanol seja a melhor solução disponível no momento, ainda que tenha entrado na “corrida” pela descarbonização do transporte marítimo por último.
Atualmente, a Maersk tem 15% do mercado global de transporte marítimo, e já encomendou 25 motores a metanol da Everllence, dos quais já recebeu 17. Os números ainda são modestos, já que a frota total de navios cargueiros movidos a bunker de origem fóssil seja de 120 mil. Segundo Veras, a Maersk ainda não definiu quanto usará de etanol em seus motores e em que ritmo se dará essa adoção. Para o mercado em geral, a Everllence, que tem 80% de participação no mercado de motores de navios, já acertou a venda de mais de 200 motores a metanol.