Com a taxa de juros básica da economia brasileira, a Selic, em 13,25% ao ano, e perspectiva de chegar a 15% até o fim de 2025, os produtores rurais têm evitado assumir novos financiamentos, reduzindo as expectativas de bancos e cooperativas em relação à demanda por crédito.
“Eu percebo basicamente que há um bom humor pela safra recorde a ser colhida, mas ainda não é aquela empolgação que nós víamos nos anos anteriores”, afirma o diretor de agronegócios do Santander, Carlos Aguiar. “Juros de dois dígitos e agronegócio não combinam”, avalia Aguiar.
Depois de passar pela Show Rural Coopavel, feira de tecnologia agropecuária que abre o calendário de eventos desse tipo no Brasil, ele afirma que a expectativa do banco é de estabilidade no volume de concessão de crédito. “Estamos otimistas, mas cautelosos”, resume o executivo.
A cautela também se expressa no Sicredi. Após crescer 11% no volume de crédito concedido entre julho e dezembro de 2024 comparado ao mesmo período do ano anterior, totalizando R$ 41 bilhões, a cooperativa espera uma estabilidade na segunda metade do ano-safra 2024/25, período que vai de janeiro a julho deste ano.
“Muitos projetos que até então davam viabilidade numa taxa no patamar de 12% a 13%, agora perdem viabilidade quando essa taxa sobe acima de 13% e chega a 14% ou 15%”, diz o diretor-executivo de Negócios, Crédito e Produtos do Sicredi, Gustavo Freitas.
Além da alta de juros, as boas perspectivas para a produção deste ciclo após o mau resultado da safra anterior corroboram para uma menor demanda por crédito este ano.
“O produtor está produzindo bem, com uma margem razoável, mas vindo de uma crise no ano anterior e só vai financiar a não ser que necessite muito de algum maquinário. Se ele puder postergar, vai postergar o investimento”, afirma Freitas.
Com a demanda mais conservadora por crédito, algumas instituições financeiras ainda contam com recursos do Plano Safra disponíveis, com taxas de juros abaixo da Selic. É o caso da Cresol, cuja perspectiva é protocolar cerca de R$ 300 milhões em propostas de crédito na feira paranaense – volume estável na comparação com o ano anterior.
“Em um ano comum, já nos primeiros meses do ano-safra, até dezembro, os recursos de Plano Safra terminam, mas este ano eles ainda estão disponíveis”, compara o diretor superintendente da Cresol, Rafael Luiz Junges. Dentre as razões para o conservadorismo, ele menciona, além da alta dos juros, a queda no preço da soja. “Também tem regiões colhendo um pouco abaixo da expectativa, e isso faz o produtor ficar mais retraído em suas aquisições”, observa Junges.
Na Sicoob, os recursos do Plano Safra também estão disponíveis, mas o diretor de mercado da cooperativa, Carlos Schlick, ressalta que o volume é pequeno e tem sido oferecido preferencialmente a pequenos e médios produtores. “O grande produtor, precisa de um volume muito grande de recurso e não há recurso para atender, o governo não consegue subsidiar todos os níveis”, afirma Schlick.
Com taxas pré-fixadas que chegam a 20% ao ano, as quatro instituições financeiras esperam crescimento de dois dígitos na contratação de consórcios este ano. Na Cresol, o volume deve passar de R$ 80 milhões para R$ 100 milhões, aumento de 25% em relação ao ano passado. Na Sicredi, a expansão esperada é de 35% e no Santander cerca de 20%.
“A atual taxa de juro do mercado, favorece muito o consórcio. É possível adquirir um consórcio para maquinário pagando 6% para todo do período, uma taxa simbólica se comparada a uma taxa de juros comercial. Por isso o produtor está aderindo, aderindo”, completa Junges.