O Banco Central informou que a taxa de juros da nova modalidade de crédito consignado, ou seja, com desconto na folha de pagamentos do trabalhador, é mais cara do que os contratos que foram feitos no modelo antigo — nos quais as empresas precisam fechar convênios com as instituições financeiras.
Por meio do relatório de política monetária, divulgado na semana passada, o BC informou que as operações do novo consignado “se mostraram mais caras do que os empréstimos consignados dos convênios, porém bem mais baratas do que o crédito pessoal não consignado”.
“A diferença de taxa observada entre esses dois tipos de crédito consignado pode estar relacionada ao perfil do tomador do crédito, incluindo características da empresa em que ele trabalha”, diz o documento.
“Observa-se que o tomador médio do novo consignado, nesse período, trabalha em empresas de menor porte, tem menos tempo de vínculo com a empresa atual e recebe renda inferior à do tomador médio dos convênios”, informou o Banco Central.
Segundo a autoridade monetária:
- A taxa média do novo consignado atingiu 3,9% ao mês nas operações contratadas até o final de julho;
- Isso representa cerca de 60% da taxa de 6,2% ao mês cobrada em média no crédito pessoal não consignado;
- A taxa média do consignado baseado em convênios existentes antes de março era de 2,6% ao mês.
O BC informou, ainda, que nas concessões do novo consignado, as taxas foram mais altas para empregados nas menores empresas, decrescendo gradualmente até se estabilizarem a partir de empresas de porte mediano.
“Assim, os dados sugerem associação entre o porte do empregador e a percepção de risco do crédito pelas instituições financeiras, mas apenas para as faixas de porte mais baixas. Nas concessões do consignado por convênio, os resultados não indicam relação tão clara entre porte do empregador e taxa de juros”, concluiu a instituição.
Taxa ficou estável em agosto
Nesta segunda-feira (29), o Banco Central informou que a taxa média de juros do crédito consignado ao setor privado foi de 3,79% ao mês em agosto.
O resultado representa um leve aumento em relação a julho, quando a taxa era de 3,75% ao mês (valor revisado).
➡️O patamar ainda é o dobro da taxa de juros registrada no crédito com desconto em folha para aposentados (1,81% ao mês) e servidores públicos (1,86% ao mês) no mesmo período.
Veja as taxas médias de juros de outras linhas de crédito em agosto:
- ➡️ Crédito pessoal não consignado: 6,12% ao mês;
- ➡️ Cheque especial das pessoas físicas: 7,49% ao mês;
- ➡️ Cartão de crédito rotativo: 15,29% ao mês.
Ranking do Banco Central
O Banco Central também divulgou um ranking com as taxas de juros praticadas pelos bancos entre os dias 9 e 15 de setembro. As taxas variam de 1,47% a 6,1% ao mês.
➡️ As taxas médias divulgadas pelo BC não garantem que esse será o juro final para os trabalhadores.
O valor efetivo dependerá da análise de risco feita pelas instituições financeiras, considerando fatores como garantia oferecida, tempo de trabalho e histórico de crédito.
➡️ Especialistas recomendam que os trabalhadores pesquisem amplamente no aplicativo da Carteira de Trabalho Digital, incentivando a concorrência entre os bancos antes de contratar um empréstimo.
Sem teto no consignado ao setor privado
Até o momento, não há teto nos juros da nova linha de crédito do consignado ao setor privado. As taxas cobradas são definidas livremente pelas instituições financeiras com base no perfil de cada cliente.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) tem defendido que não é necessário fixar um teto para os juros, pois as taxas cobradas, segundo a entidade, serão mais baixas com a garantia dos recursos do FGTS.
No lançamento da nova modalidade de crédito, em cerimônia no Palácio do Planalto na semana passada, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, afirmou que, caso seja “observado que o sistema financeiro esteja abusando, o governo poderá estabelecer teto de juros no futuro”.
Em março, o governo publicou um decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) determinando que o Comitê Gestor das Operações de Crédito Consignado será responsável por definir os parâmetros, termos e condições dos contratos para empréstimos garantidos com recursos do FGTS.
Nova linha de crédito
A nova modalidade de crédito, com garantia do FGTS, foi lançada oficialmente em 21 de março, por meio de plataforma disponibilizada pelo governo.
🔎 As regras incluem o uso de até 10% do saldo do FGTS como garantia e, também, 100% da multa rescisória na demissão sem justa causa (que equivale a 40% do valor do saldo). As garantias, porém, ainda não foram regulamentadas.
💲 Nesta linha de crédito, as parcelas são quitadas com desconto no contracheque, ou seja, no salário do funcionário que pega um empréstimo em uma instituição financeira.
💲 O consignado ao setor privado já existia, mas, com as regras antigas, havia uma exigência de um acordo entre as empresas e os bancos — o que travava a liberação dos recursos.
💲 Desde 21 de março, a busca pelo crédito pode ser feita pelos trabalhadores diretamente por meio do aplicativo da Carteira de Trabalho Digital (CTPS Digital), sem a necessidade de acordo com os empregadores.
💲Desde 25 de abril, os trabalhadores podem contratar o empréstimo também por meio dos canais eletrônicos dos bancos habilitados.
💲De 6 de junho em diante, foi autorizada a portabilidade interbancária, possibilitando a troca de contratos antigos por outro em condições melhores em instituição financeira diferente.