As hepatites virais voltam ao centro do debate em julho, mês dedicado à conscientização e ao combate dessas infecções silenciosas. Dados recentes do Ministério da Saúde revelam uma tendência inesperada: enquanto os casos de hepatites B e C seguem em queda no país, a hepatite A registrou um expressivo aumento no estado de São Paulo em 2023, reacendendo o alerta para a importância da prevenção e da vigilância ativa.
Já na capital paulista, os registros de hepatite A saltaram de 143 em 2022 para 399 em 2023 — quase o triplo em apenas um ano. A taxa de incidência passou de 1,2 para 3,2 casos por 100 mil habitantes. No estado, os números subiram de 276 para 892, elevando a taxa de 0,6 para 1,9 por 100 mil habitantes. Os dados se referem a 2023, último ano com informações consolidadas; os números de 2024 ainda são preliminares e não permitem comparações confiáveis
De acordo com o infectologista Renato Grinbaum, professor do curso de medicina da Unicid, o cenário exige atenção redobrada. “No passado, a hepatite A era mais comum na infância, sendo transmitida principalmente por água e alimentos contaminados ou pela falta de higienização das mãos. Com a introdução da vacina, os casos diminuíram drasticamente. Contudo, recentemente, observamos um aumento significativo — com uma mudança importante na via de transmissão. Hoje, a forma predominante é a sexual, especialmente em práticas desprotegidas”, explica
A identificação de surtos e a resposta institucional seguem protocolos rigorosos. “Os alertas coletivos são emitidos pela vigilância sanitária com base nas notificações compulsórias. O monitoramento contínuo é essencial para conter avanços e orientar estratégias de saúde pública”, afirma Renato.
Hepatites B e C em queda
Se, por um lado, a hepatite A cresce, por outro as hepatites B e C apresentam uma tendência de queda nos últimos anos, conforme dados disponíveis no Painel de Indicadores de Hepatites Virais do Ministério da Saúde. A explicação está principalmente na vacinação em massa e nos avanços no tratamento.
“A vacina contra a hepatite B está presente no calendário vacinal há décadas, o que reduziu de forma significativa os casos. Já a hepatite C, que não tem vacina, passou a ser tratada com medicamentos altamente eficazes. Com a cura de milhares de portadores crônicos, reduziu-se também o número de transmissores da doença”, afirma o professor. Ele destaca ainda o papel do controle rigoroso em bancos de sangue e a redução do uso de drogas injetáveis como fatores decisivos.
Alerta global: mais de 1,3 milhão de mortes por ano
Apesar dos avanços, as hepatites virais ainda representam uma ameaça significativa à saúde pública global. Segundo o Relatório Global sobre Hepatites de 2024, publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), essas infecções são responsáveis por mais de 3 mil mortes por dia, totalizando 1,3 milhão de óbitos por ano no mundo.
Por isso, a recomendação para o mês de conscientização é clara: manter a vacinação em dia, praticar sexo seguro, evitar o compartilhamento de objetos cortantes e realizar testagens periódicas. “Julho Amarelo é um convite à responsabilidade coletiva. Testar, prevenir e tratar salva vidas e pode mudar o curso de uma epidemia silenciosa que ainda persiste”, diz.