Isabella Silveira Albuquerque Caetano tinha apenas 12 anos quando recebeu um diagnóstico que mudaria sua vida e definiria seu futuro: astrocitoma pilocítico juvenil, um tipo raro de tumor cerebral que se desenvolve de forma lenta e afeta, principalmente, crianças e jovens adultos. Mas até chegar à confirmação de seu quadro, foi um longo período de exames e consultas médicas.
“Eu tive uma fase na minha infância em que sentia muita dor de cabeça, mas os médicos não acharam que era algo grave. Então, em 2013, eu comecei a me sentir muito enjoada e ter muita dor abdominal. Mas muitos médicos não reconheciam aquilo como algo neurológico”, relembra Isabella em entrevista à CNN. Hoje, a jovem está com 24 anos.
Além das atividades curriculares em sua escola, Isabella também praticava aulas de dança e, ao fazer movimentos com a cabeça, sentia fortes tonturas, além do enjoo. Ao procurar um pediatra, acompanhada de sua mãe, chegou a ouvir que seus sintomas eram “frescuras”. Encaminhada para um gastroenterologista e, posteriormente, para um otorrinolaringologista, foi diagnosticada com intolerância à lactose, mas o tratamento não surtiu efeito nos sintomas.
“Chegou em um momento em que eu não conseguia mais frequentar a escola. Eu ficava na minha cama remoendo de dor”, relata. Foi então que Isabella e sua mãe decidiram buscar um neurologista, que a encaminhou para fazer uma ressonância magnética. O exame detectou o tumor no cérebro em dimensões grandes, o que causava pressão intracraniana e os sintomas na jovem. A solução era realizar uma cirurgia para removê-lo.
“Foi tudo muito rápido. Em uma semana, eu fui internada e operada. Foram 11 horas de cirurgia. Minha família ficou muito angustiada, mas eu tinha uma confiança muito grande de que ficaria tudo bem”, afirma.
O que é astrocitoma?
O astrocitoma pilocítico juvenil é um tumor raro na infância e que, geralmente, é benigno e de crescimento lento. Os sintomas variam dependendo do tamanho e da localização do tumor, podendo incluir dor de cabeça, náuseas, vômitos, problemas de equilíbrio e anormalidades na visão.
De acordo com a Organização Nacional para Doenças Raras (NORD, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, o tumor se desenvolve a partir de certas células cerebrais em forma de estrela, chamadas astrócitos. Elas são responsáveis por formar o tecido que envolve e protege outras células nervosas presentes no cérebro e na medula espinhal.
Coletivamente, essas células são conhecidas como células gliais, e o tecido que elas formam é conhecido como tecido glial. Tumores que surgem do tecido glial, incluindo astrocitomas, são chamados coletivamente de gliomas.
Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou um medicamento para pacientes adultos e adolescentes a partir de 12 anos diagnosticados com astrocitoma e oligodendroglioma, submetidos à cirurgia prévia. Em estudo clínico, o medicamento levou a uma redução de 61% no risco de avanço da doença, além de atraso no crescimento tumoral e redução do volume do tumor.
Medicina integrativa ajudou em seu tratamento
Após a cirurgia, Isabella passou alguns dias internada em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e mais algumas semanas no quarto do hospital. Com a visão parcialmente prejudicada devido ao procedimento e com dores, a jovem era alimentada por sonda nasal e recebia medicamentos para o tratamento do tumor, além de fisioterapia para recuperar os movimentos do corpo e terapia ocupacional e psicológica.
“Foi um período muito complicado. Eu me sentia segura, porque meus pais estavam sempre comigo, mas eu também sentia muito medo”, relata. “Eu não conseguia entender direito o que estava acontecendo, mas, por um lado, eu também sabia que eu tinha que dar força para minha família, porque eu via todo mundo muito preocupado”, afirma.
Além do tratamento físico e mental que estava recebendo, Isabella também apoiou na saúde integrativa. “Em um ponto mais espiritual, teve o reiki, mas minha mãe sempre cuidava de mim com homeopatia também”, conta. “Desde o meu diagnóstico, sou acompanhada por profissionais de saúde integrativa e ela faz parte da minha rotina. Eu adoro fazer ioga, por exemplo, que me ajudou muito na minha recuperação e fez muita diferença para mim.”
De acordo com o Ministério da Saúde, as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) são abordagens terapêuticas cujo objetivo é prevenir agravos e promover a recuperação da saúde. Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece, de forma integral e gratuita, 29 procedimentos de saúde integrativa à população, entre eles a aromaterapia, cromoterapia, homeopatia, meditação, musicoterapia, osteopatia, reiki, quiropraxia, ioga e terapia de florais.
“As práticas são precisamente integrativas e complementares porque não substituem necessariamente um tratamento, mas podem aprimorá-lo significativamente ou, digamos, aumentar o cuidado de uma pessoa, incluindo a tolerância e a melhor aceitação do tratamento médico convencional”, explica Andrea Bottoni, Coordenador do Curso de Especialização em Saúde Integrativa da Faculdade do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, à CNN. “Portanto, ela pode ser aplicada em diversas situações, embora, obviamente, exija um profissional treinado em uma dessas práticas.”
História de vida transformada em missão
A experiência da Isabella com o tumor cerebral e sua relação com práticas integrativas a inspiraram a transformar sua história em missão de vida.
“Eu não queria que ninguém passasse pelo que passei. Então, decidi entrar no curso de Farmácia para entender como tudo age dentro do nosso corpo”, conta. Atualmente, Isabella estuda na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e, ao longo de sua graduação, fez parte de grupos de pesquisa, incluindo uma liga acadêmica de práticas integrativas e complementares.
Ao estudar mais a fundo o conceito de práticas integrativas, Isabella decidiu dar um passo além: fundou uma startup de saúde integrativa, chamada VH Saúde Integrativa Health. Nela, ela oferece, junto a uma equipe especializada, um sistema de gestão de cuidados integrativos.
“Nós trazemos esses cuidados integrativos, tanto puxando questões de alimentação e suplementação, quanto as terapias integrativas, que, às vezes, as pessoas não conhecem, mas que já existem diretrizes específicas para isso. São práticas regulamentadas pelo Ministério da Saúde”, afirma. “Baseados nessas diretrizes, nós oferecemos ao paciente exatamente o que ele precisa para complementar seu tratamento”, completa.
O desejo de Isabella, agora, é conseguir fazer com que a startup consiga atuar, também, na rotina prevenção de doenças dos pacientes. “É preciso uma maior conscientização e união de esforços para mostrar que as práticas integrativas podem trazer resultados muito positivos”, finaliza.
