O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, afirmou nesta terça-feira (21/1) que a inflação dos alimentos é o “calcanhar de Aquiles” do governo neste momento e alertou que o tema foi responsável por derrotas eleitorais da esquerda na Europa e nos Estados Unidos, em um claro sinal da preocupação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de olho em 2026.
No Ministério da Agricultura, o tema ainda não chegou ao nível técnico, o que sinaliza que nenhuma medida estrutural está em elaboração neste momento. Consultada, a Pasta não respondeu aos questionamentos da reportagem.
Uma fonte do ministério admitiu “não saber o que fazer” para baixar os preços dos alimentos, já que a formação dos índices das principais commodities produzidas no país, como soja e milho, que refletem nos custos de produção da pecuária nacional e no valor pago nas gôndolas de supermercados nas carnes, depende de bolsas internacionais, como Chicago.
Mas não há solução mágica para a questão. Teixeira ressaltou que o dólar e o clima interferiram nos preços das commodities agrícolas e, consequentemente, dos alimentos que vão à mesa dos brasileiros, como as carnes. Em entrevista à Revista Fórum, o ministro alegou que o ciclo pecuário, com menos oferta de animais para o abate em 2024, influenciou na alta dos valores pagos pela carne de gado e que a “economia aquecida” no Brasil aumentou o consumo, o que também sustentou as cotações em patamares mais elevados.
O argumento é parecido com o apresentado pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, recentemente. No mês passado, ele disse que a inflação brasileira, puxada pela alta nos preços dos alimentos, era causada pela desconfiança dos investidores. “Com o dólar a R$ 6 gera inflação de alimentos, e é nitidamente uma especulação do mercado financeiro”, disse em entrevista à GloboNews na época.
A equipe técnica que assessora Fávaro reforça que alguns movimentos de preços são sazonais e que o início da colheita de grãos, a partir deste mês, deve ajudar a arrefecer alguns índices. Ainda há reflexos dos eventos climáticos de 2024 sobre alguns produtos, mas não existe qualquer risco de desabastecimento de alimentos.
Novas medidas
Questionado sobre novas medidas para forçar o barateamento dos alimentos, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, disse que pedirá aumento de recursos orçamentários para a política de assistência técnica e extensão rural, sem detalhar como isso pode, no curto prazo, influenciar nos índices verificados nas gôndolas pelos consumidores.
“A primeira que já estamos adotando é o aumento de crédito, temos o maior Plano Safra e o mais subsidiado, para a produção de alimentos que vão para a mesa do brasileiro. A segunda medida, que vou levar para o governo, é aumentar recursos para assistência técnica e extensão rural”, disse na entrevista transmitida pelas redes sociais. “A agricultura, em função das mudanças climáticas e tecnológicas, requer mais assistência. Muitos agricultores demandam e não têm”, completou.
Paulo Teixeira disse ainda que vai manter o monitoramento dos preços dos alimentos, em especial do arroz, tema que gerou polêmica em 2024. Após a tragédia climática do Rio Grande do Sul, Estado que produz mais de 70% do cereal nacional, o governo decidiu liberar R$ 7,2 bilhões para comprar arroz importado da Ásia e repassá-lo a preços subsidiados aos consumidores finais. A justificativa era que poderia faltar produto no país, o que elevaria os preços, o que não ocorreu.
Após suspeitas de irregularidades no leilão para comercialização do arroz importado e críticas do setor produtivo gaúcho, o governo desistiu da medida. O episódio resultou ainda na demissão do secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura na época, Neri Geller.
“O arroz terá aumento de 1 milhão de toneladas em 2025. Tem uma redução de custo prevista para março com o aumento da produção de arroz no Centro-Oeste. Vai aumentar a produção de arroz e o preço do arroz vai cair”, disse o ministro na entrevista.
“Entendemos que se conseguirmos implementar todas as políticas juntas, podemos ter diminuição do preço e controlar a inflação de alimentos, que foi bem pontuada pelo presidente Lula. Essa inflação foi responsável pela derrota da esquerda na Europa e dos democratas nos EUA”, completou Teixeira.
Na semana passada, entidades que representam os produtores de arroz do Rio Grande do Sul criticaram os dados de estimativa de safra e de consumo do cereal divulgados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), empresa vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).
A estatal estima produção de 11,98 milhões de toneladas e consumo de 10,5 milhões de toneladas. O setor produtivo gaúcho disse que os dados divulgados pela estatal estão “equivocados” e acusou o governo de superestimar a produção nacional “com o intuito claro de intervir nos preços do cereal, o que pode causar mais problemas para produtores, indústrias, varejistas e, principalmente, consumidores”.
O Valor fez pedido de entrevista ao ministro Paulo Teixeira e ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, mas ainda não teve retorno.
Ferramentas disponíveis
Os instrumentos que o governo tem para intervir no mercado agrícola, como os previstos na Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), não miram o bolso do consumidor na ponta.
As ferramentas são utilizadas para socorrer os produtores em momentos de cotações em baixa.
É nessas horas que os ministérios podem agir para comprar parte da produção e formar estoques, com o intuito de enxugar a oferta momentaneamente e gerar reação nos preços aos agricultores.
Outra alternativa é incentivar o aumento da produção, o que eleva a oferta doméstica e reduz os preços dos produtos.
O governo criou linhas de crédito com juros mais baratos, de 3% ao ano, para quem quiser plantar arroz, feijão, mandioca, frutas, verduras e leite.
Os valores contratados aumentaram, disse o Ministério do Desenvolvimento Agrário em balanço apresentado em dezembro, mas os resultados ainda não foram percebidos.
No fim de 2024, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) tentou estimular a produção de arroz fora do Rio Grande do Sul, principal produtor nacional, com o lançamento de contratos de opções de venda pública.
Ou seja, a estatal se propôs a garantir a compra do cereal para formar estoques públicos a um determinado preço como forma de dar segurança aos agricultores que quisessem investir na cultura.
A medida, porém, teve baixa adesão. Foram negociados pouco mais de 3,3 mil contratos e 91,7 mil toneladas do cereal, com gastos previstos de R$ 162,2 milhões caso os produtores optem por vender o produto para a Conab.
Inicialmente, a companhia tinha R$ 1 bilhão para comprar até 500 mil toneladas de arroz. A produção nacional é estimada em quase 12 milhões de toneladas na safra 2024/25.