A guerra comercial estabelecida entre Estados Unidos e China já eleva a demanda chinesa por soja do Brasil, e deve comprimir as margens da indústria nacional esmagadora do grão ao longo deste ano, estima André Nassar, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).
Após a eleição do presidente americano, Donald Trump, as processadoras anteciparam compras de soja e fixaram o que foi possível de preços, mas não conseguem adquirir toda a necessidade anual. Então, as margens menores se aplicam à parcela da safra que ainda não foi adquirida, entre 30% e 40%.
“O que está acontecendo agora é um pouco parecido com o que aconteceu em 2018, quando a China fechou a importação de soja americana e comprou mais do Brasil. Isso gera uma valorização da soja brasileira”, lembrou Nassar.
“Olhando o preço no porto, já vemos há uma semana ou dez dias o prêmio subindo, ele sinaliza que a soja está sendo valorizada. Essa soja que ainda não foi comprada vai ficar mais cara para a indústria, não acho que vá ter impacto grande (no volume) de esmagamento, mas isso reduz a margem da indústria”, acrescentou.
A perspectiva de que o custo estará maior, mas que os volumes de processamento devem se manter, tem como base os cenários positivos para os mercados de óleo de farelo de soja no país.
No caso do óleo, Nassar ressalta que há uma sustentação de demanda vinda dos mandatos de mistura do biodiesel ao diesel. O óleo de soja é a principal matéria-prima do biodiesel no Brasil.
Já para o farelo de soja, a expectativa é promissora porque o insumo é utilizado como ração animal e a produção brasileira de carnes é crescente, com recordes de exportação e consumo interno aquecido.
A projeção mais recente da Abiove, divulgada no mês passado, indicava o esmagamento neste ano em 57,5 milhões de toneladas. A perspectiva para a produção de farelo e óleo de soja permaneceu estável, na variação mensal, em 44,1 milhões de toneladas e 11,4 milhões de toneladas, respectivamente.
A produção de soja foi estimada em 170,9 milhões de toneladas, levemente abaixo dos 171,7 milhões de toneladas projetados em fevereiro, mas ainda uma safra cheia.
“Essa foi uma safra com muita compra antecipada, a maior em compras antecipadas comparada há duas ou três safras anteriores, mas a indústria não consegue adquirir uma safra de 170 milhões de toneladas”, enfatizou Nassar.
Compras da China
O dirigente acredita que, na ponta da demanda, a China pode estar tentando antecipar o máximo que consegue em compras de soja na América do Sul, com Brasil e Argentina como fornecedores, mas no segundo semestre “haverá um incentivo muito grande para EUA e China conversarem, por preocupação de abastecimento da China”.
Isso significa que as tendências de retração nas margens da indústria nacional são efeitos de curto prazo, enquanto não houver nenhuma mudança na conjuntura envolvendo Washington e Pequim.
Outro efeito de curto prazo que também contribui para a compressão das margens das processadoras é o andamento dos preços do óleo de soja.
“Faz três meses que o óleo de soja só cai na prateleira do supermercado. Não vejo a indústria com espaço para fazer o (preço) subir, o varejo quer o preço baixo para não afetar a demanda”, afirmou Nassar.
“Vejo a margem da indústria podendo se comprimir um pouco por conta disso, em cima das novas compras de soja que serão feitas para essa finalidade”, completou.