No início deste mês, os produtores americanos deram início ao plantio da safra de grãos para o ciclo 2025/26. Nesta temporada, o cenário para a expansão do cultivo de milho nos EUA — o maior produtor do mundo — melhorou, em decorrência da combinação de questões mercadológicas, geopolíticas e de clima. Como consequência, a soja perdeu espaço.
As últimas projeções do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) indicam que a área com milho no país deve alcançar 38,57 milhões de hectares na safra 2025/26, aumento de 5,2% em relação ao ciclo passado. Esse percentual pode ser ainda maior, segundo analistas, já que a área de soja nos EUA, estimada pelo USDA em 33,79 milhões de hectares (queda de 4,1%), ainda pode ser ocupada por sementes de milho.
De acordo com Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, a área de milho pode crescer em detrimento da de soja nos EUA em consequência da guerra tarifária, que já reduziu a procura chinesa pela oleaginosa produzida pelos americanos.
“O próprio USDA já confirmou que houve diminuição das importações chinesas. Na semana passada foram 67 mil toneladas adquiridas, muito abaixo das 622 mil toneladas um mês antes. Como essas vendas estão desacelerando, a tendência é que os produtores optem pelo milho, que num patamar de US$ 4,50 o bushel é mais vantajoso que a soja se for negociada a US$ 10,50”, afirma.
Ainda segundo o consultor, os dados de plantio do cereal, combinados com bons prognósticos meteorológicos, alimentam a expectativa positiva com a safra. O levantamento mais recente do USDA, do dia 20, apontou que 12% da área esperada foi semeada. Nessa mesma época do ano passado, o cultivo atingia 11%, e a média dos últimos cinco anos é de 10%.
“As próximas duas semanas indicam uma condição de clima muito boa para o milho, com temperaturas que variam com mínimas de 7 °C e máximas de 26 °C, sem indicativo de geada. Isso deve acelerar o plantio, que deve ter grande parte de sua área cultivada dentro de uma janela ideal no país, até 20 de maio”, diz Brandalizze.
Para Ênio Fernandes, analista da Terra Agronegócios, a guerra comercial somou-se a outros elementos que já indicavam a preferência do agricultor americano pelo milho na temporada 2025/26.
“Se você desconsiderar o impacto da guerra comercial, o mercado de milho é mais robusto nos EUA se comparado com o da soja. O produtor local vive momento de boa demanda por rações, com o preço da proteína animal elevado, além de uma ponta exportadora forte. Isso naturalmente já o motivaria a investir no milho, e esse quadro de incerteza geopolítica com a China amplia a vantagem do cereal”.
Brandalizze acrescenta que a guerra de tarifas iniciada por Washington não deve afetar o comércio de milho do país, ainda que os principais importadores do cereal americano, México, Japão e Coreia do Sul tenham caído no tarifaço de Donald Trump.
“Não há outro fornecedor que possa atender a demanda desses países importadores, portanto é um mercado garantido para os EUA, muito diferente da soja, que passa por um momento de incerteza”, avalia.
Ao traçar uma perspectiva de longo prazo para as cotações do milho, Brandalizze vê espaço para uma alta no mercado internacional. Segundo ele, isso deve ocorrer mesmo com a previsão de safra recorde americana na nova temporada.
“O clima regular até o início da colheita pode propiciar uma safra superior a 400 milhões de toneladas. Mesmo assim, teremos um déficit na oferta em 2026, pois a demanda está muito elevada”, destaca o consultor.