Pouco mais de uma hora após o anúncio do fechamento do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, o Greenpeace Brasil criticou acerto entre os dois blocos.
“O acordo estimula a importação de itens altamente poluentes e prejudiciais à saúde que não serão mais vendidos no mercado europeu no futuro próximo. Na prática, resultará em uma pressão pelo aumento do desmatamento, pois trocaremos commodities, muitas vezes advindas de áreas desmatadas, inclusive na Amazônia, pela importação de agrotóxicos, automóveis, motores a combustão e plásticos”, disse a especialista em Política Internacional do Greenpeace Brasil, Camila Jardim.
Ela afirmou ainda que o acordo “também afetará fortemente a industrialização e geração de empregos qualificados no Brasil e em todo o Mercosul, e poderá nos distanciar da promessa do próprio governo federal de alcançar o desmatamento zero brasileiro”.
Jardim diz que o prejuízo poderá ser bilionário ao Brasil.
“Os possíveis ganhos dos grandes agropecuaristas não serão recompensados à altura da devastação e desequilíbrio dos nossos ecossistemas. Como sabemos, o agro será o primeiro e maior setor econômico impactado por eventos climáticos extremos, que já são sentidos no campo com a alteração no regime de chuvas. O prejuízo poderá chegar a bilhões de dólares. Não podemos deixar a falta de visão de longo prazo seguir drenando a nossa economia e o meio ambiente”, afirmou.Play Video
O Greenpeace Brasil também criticou o impacto do acordo na Lei anti-desmatamento da União Europeia.
“É preocupante que negociações do acordo com o Mercosul tenham contribuído para adiar a aprovação da Lei Anti-desmatamento da União Europeia, lei que pode ser mecanismo importante para regulamentar o comércio e garantir que a produção de commodities não se dê às custas de desmatamento”, disse a porta-voz de Florestas do Greenpeace Brasil, Thais Bannwart.
Ela afirma que é importante alinhar a produção agropecuária ao desmatamento zero para garantir a manutenção e ampliação de mercados consumidores.
“Garantir produção com desmatamento zero será tendência nos mercados consumidores. Já existem iniciativas do Agro brasileiro que o posicionam como pioneiro na rastreabilidade da cadeia de produção e no desmatamento zero da Amazônia, à exemplo da Moratória da Soja — bem sucedida em eliminar o desmatamento na produção da soja na Amazônia —, mas que, atualmente, também está sob ataque. Portanto, não há porque o setor agropecuário e o próprio governo brasileiro pressionarem pelo afrouxamento de requisitos ambientais que já possuem capacidade de atender.”