Diante do tarifaço de 50% a produtos brasileiros imposto por Donald Trump e de um duelo com a oposição, governistas buscam recuperar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e apoios políticos que, de certa maneira, estavam ficando para trás.
Desde as primeiras horas do anúncio do tarifaço, que começa a valer a partir de 1º de agosto, ministros e aliados de Lula reforçaram a soberania brasileira e argumentaram que a família Bolsonaro age em causa própria.
Apostam que podem tentar recuperar uma parte da popularidade de Lula como aconteceu com políticos em outros países em que Trump também investiu contra, rompendo a bolha da esquerda.
Um trabalho intenso foi feito nas redes sociais, onde a oposição costuma se sobressair.
Levantamento da consultoria Nexus mostra que o governo tem se saído melhor nesse campo, por exemplo. A decisão de Trump mobilizou um sentimento nacionalista, com mais expressões em defesa do Brasil do que críticas à gestão petista, aponta.
Um dos principais motes dos governistas têm sido que, enquanto o projeto do presidente Lula é “taxar os super-ricos”, enquanto o do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) seria “taxar o Brasil”.
Ministros também encamparam as críticas à família Bolsonaro em entrevistas e eventos dos quais participaram.
“Esse clã, mesmo fora do governo, continua trabalhando contra o interesse do povo brasileiro. Antes era atentado à democracia, e agora à economia, prejudicando empregos e empresas. É uma ação contra o interesse do povo brasileiro”, declarou o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.
“A única explicação plausível para o que foi feito é porque a família Bolsonaro urdiu esse ataque ao Brasil. Com um objetivo específico: escapar do processo judicial que está em curso. A única explicação é de caráter político envolvendo a família Bolsonaro”, disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Nesta quinta (10), inclusive, por conta do tarifaço, Haddad teve um embate direto com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), um dos principais nomes do bolsonarismo para concorrer contra Lula ao Planalto em 2026.
Na carta com o aviso do tarifaço, Trump defende Jair Bolsonaro, diz ser uma “vergonha internacional” como o Brasil trata o ex-presidente.
Chamou de “caça às bruxas” o julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) e saiu em defesa das plataformas de redes sociais, as big techs. O Supremo informou que não vai se manifestar.
Em reunião na Câmara dos Deputados, líderes partidários cobraram um posicionamento institucional do Congresso – o que foi feito.
Em nota, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e Hugo Motta (Republicanos-PB) evitaram tomar lado, lembraram a lei da reciprocidade econômica e disseram que o Congresso vai agir com equilíbrio e firmeza em defesa dos empregos dos brasileiros.
Se parlamentares do PL entraram no duelo com o governo, integrantes do Centrão não querem escalar a briga, especialmente os ligados ao agronegócio.
Com cerca de 350 deputados, grande parte da bancada ruralista vinha se descolando cada vez mais dos governistas. No entanto, a defesa do agro e empresariado brasileiro diante do tarifaço pode ser um raro ponto de convergência nesses últimos meses.
De início, a oposição enxergou o tarifaço como uma vitória, mas, nos bastidores, o sentimento foi se esvaindo ao longo desta quinta.
Parlamentares aliados a Bolsonaro se preocupam com um efeito bumerangue: temem que os elogios a Trump e a articulação de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos se voltem contra o grupo, sob a alegação de que são traidores, atuando contra o interesse nacional.
Não caiu bem a todos na oposição Eduardo Bolsonaro ir às redes pedir que a população agradecesse ao presidente americano depois da taxação.
Agora, o grupo busca atribuir a decisão de Trump à atuação do STF e a falas de Lula durante a cúpula do Brics, até numa tentativa de blindar a família Bolsonaro. A esquerda fala em cassação e prisão do filho do ex-presidente.
Nesta quinta, o PL se viu mais isolado dentro da Câmara, segundo parlamentares da direita.
Qualquer possibilidade de votação do projeto da anistia na Casa antes do recesso parlamentar, como queriam, deve ficar mais distante, apurou a CNN.
Na saída da reunião de líderes, o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ) disse não ser mais um debate de esquerda e direita, mas “um debate do país”.