A dor era tão intensa que Chris Williams decidiu ir ao hospital. Foi em uma noite de terça-feira, em setembro de 2021, que Williams começou a sentir uma dor abdominal latejante e náusea. Na manhã seguinte, a situação havia piorado.
“Eu tive que ir para o pronto-socorro”, conta Williams, que mora no Brooklyn. No hospital, ele foi diagnosticado com apendicite e teve o apêndice removido cirurgicamente. Cerca de uma semana depois, ele se encontrou com sua equipe médica para retirar os pontos e discutir os próximos passos – e foi quando recebeu uma notícia chocante.
“Eles encontraram um tumor no meu apêndice, e fizeram uma biópsia desse tumor e determinaram que era câncer”, relembra Williams, que tinha 48 anos na época.
“Na verdade, foi uma bênção”, afirma. “Isso foi realmente um presente de Deus, aos meus olhos, e uma bênção para mim, detectar o tumor – o fato de o tumor ter feito meu apêndice quase romper e assim terem conseguido encontrá-lo – porque, mais tarde, descobriram que era um câncer em estágio III. Se tivesse ficado em mim por mais tempo, teria sido um estágio IV”, que é o estágio mais avançado do câncer e mais difícil de tratar.
Williams, que agora está livre do câncer após concluir o tratamento em novembro de 2022, faz parte de um grupo crescente de pacientes com câncer de apêndice nos Estados Unidos que foram diagnosticados em idade jovem.
“Alarmante e preocupante”
O apêndice, que desempenha um papel no apoio ao sistema imunológico, é um pequeno órgão em forma de bolsa que está ligado ao intestino grosso no lado inferior direito do abdômen.
Embora o câncer de apêndice seja raro – estima-se que afete cerca de 1 ou 2 pessoas a cada 1 milhão por ano nos Estados Unidos – os diagnósticos estão aumentando rapidamente entre a Geração X e os millennials, de acordo com um novo estudo.
Comparado com pessoas nascidas entre 1941 e 1949, as taxas de incidência de câncer de apêndice mais que triplicaram entre as pessoas nascidas entre 1976 e 1984 e mais que quadruplicaram entre as nascidas entre 1981 e 1989, segundo pesquisa publicada nesta semana na revista Annals of Internal Medicine. Esses aumentos ocorreram entre 1975 e 2019.
“É algo alarmante de modo geral”, afirma Andreana Holowatyj, autora principal do estudo e professora assistente de hematologia e oncologia no Vanderbilt University Medical Center e no Vanderbilt-Ingram Cancer Center.
“Estamos observando alguns desses efeitos geracionais em cânceres do cólon, reto, estômago, e foi por isso que ficamos curiosos em explorar também os cânceres raros do apêndice. Mesmo assim, as taxas e tendências que observamos foram alarmantes e preocupantes”, diz.
Os pesquisadores do novo estudo – das universidades Vanderbilt, West Virginia e Texas Health Science Center – analisaram dados de 4.858 pessoas nos Estados Unidos, com 20 anos ou mais, diagnosticadas com câncer de apêndice entre 1975 e 2019. Os dados vieram do banco de dados Surveillance, Epidemiology, and End Results Program do Instituto Nacional do Câncer.
Os dados foram divididos em faixas etárias de cinco anos e mostraram taxas crescentes de incidência de câncer de apêndice por coorte de nascimento, especialmente entre pessoas nascidas após 1945, escreveram os pesquisadores.
Embora o novo estudo não tenha investigado especificamente por que essa incidência está aumentando, os pesquisadores dizem que é “improvável” que isso se deva a avanços em exames de rastreamento ou ferramentas de diagnóstico.
“Não existem técnicas padronizadas de rastreamento para cânceres do apêndice. Muitos são encontrados incidentalmente após uma apresentação como apendicite aguda”, diz Holowatyj.
Em vez disso, a tendência pode estar relacionada a “exposições ambientais que podem aumentar o risco para gerações que agora estão entrando na meia-idade”, escreveram os pesquisadores. Tendências semelhantes “também foram relatadas para cânceres de cólon, reto e estômago”, sugerindo que fatores de risco semelhantes podem contribuir para cânceres gastrointestinais em geral.
Por exemplo, a obesidade foi identificada como fator de risco para diagnósticos de câncer de apêndice e é reconhecida como fator de risco para câncer de cólon, segundo Holowatyj, acrescentando que identificar quais fatores de risco podem estar impulsionando essas tendências pode ajudar a revelar formas de prevenir a doença.
“O fato de estarmos vendo essas tendências paralelas em outros cânceres do trato gastrointestinal nos diz, ou sugere, que pode haver fatores de risco tanto compartilhados quanto distintos que contribuem para o desenvolvimento de câncer entre gerações mais jovens”, afirma Holowatyj.
“Será importante entender – quais são esses fatores compartilhados ou como esses fatores de risco diferem, tanto em magnitude quanto em risco absoluto, entre esses tipos de câncer gastrointestinal – para nos ajudar a desenvolver estratégias eficazes de prevenção e, em última instância, reduzir esse fardo ou reverter essas tendências”, completa.
Não há recomendações específicas de rastreamento para cânceres do apêndice, mas os sintomas da doença geralmente incluem dor abdominal ou pélvica, inchaço, náusea e vômito – que muitas vezes podem imitar os sintomas da apendicite. O câncer de apêndice pode ser tratado com cirurgia, na qual o apêndice é removido. Se o câncer se espalhou, os pacientes geralmente recebem quimioterapia.
“Essa é uma doença em que, se não for detectada antes do rompimento do apêndice, as células tumorais geralmente se dispersam por toda a cavidade abdominal”, diz Holowatyj. “Por isso, até 1 em cada 2 pacientes é diagnosticado com doença metastática”, ou seja, câncer que se espalhou.
Aumento de câncer em adultos jovens
O estudo que mostra um aumento na incidência de câncer de apêndice entre adultos jovens não surpreende Andrea Cercek, codiretora do Center for Early Onset Colorectal and GI Cancers do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, que tratou Williams.
“Sabemos que o câncer de apêndice de início precoce faz parte da história maior dos cânceres gastrointestinais de início precoce, incluindo o câncer colorretal”, afirma Cercek, que não esteve envolvida na nova pesquisa.
Ela observou essa tendência pessoalmente entre seus próprios pacientes – mas ainda não está claro quais fatores específicos estão impulsionando esses aumentos.
“Há muitos suspeitos, incluindo mudanças no estilo de vida, na dieta. Fala-se de obesidade, menos atividade física. Mas nada se encaixa perfeitamente em todos os casos. E há também mudanças ambientais”, diz Cercek. “Acho que provavelmente é algum tipo de combinação, algo multifatorial, mas ainda não o identificamos. Felizmente, agora há muito trabalho, muita pesquisa sendo feita sobre isso.”
Apesar da crescente incidência, Cercek enfatizou que o câncer de apêndice continua sendo incomum.
“É muito raro, mesmo com o aumento”, afirma. “No entanto, é uma parte importante dessa história maior sobre o aumento do câncer em adultos jovens.”
“Tenho tudo para agradecer”
A jornada de Williams após o diagnóstico de câncer não foi fácil, mas continua grato à sua equipe médica. Após o diagnóstico, procurou tratamento no Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em Nova York, onde passou por outra cirurgia e recebeu quimioterapia.
“Para mim, eu poderia ver isso de várias maneiras. Poderia lamentar. Poderia reclamar. Poderia dizer: ‘Coitado de mim.’ Ou poderia ser grato por isso ter sido descoberto e haver um tratamento”, diz Williams. “Poderia ter sido algo que me matasse e, como não foi, sinto que tenho tudo para agradecer.”
Antes do diagnóstico de câncer, Williams achava que estava fazendo tudo certo. Tinha uma alimentação majoritariamente saudável e praticava exercícios regularmente, mas, como gerente de projetos para o estado de Nova York na época, também enfrentava muito estresse.
Aos 42 anos, teve seu primeiro ataque cardíaco, contou. Teve um segundo ataque cardíaco poucas semanas após o diagnóstico de câncer de apêndice. Depois, um terceiro logo após a cirurgia no Memorial Sloan Kettering Cancer Center. E, no ano passado, Williams teve um quarto ataque cardíaco. Bloqueios foram encontrados em seu coração, e ele foi tratado com a colocação de stents, em que um tubo flexível é inserido nas artérias para aumentar o fluxo sanguíneo ao coração.
“Muito do que vivi foi devido ao estresse”, conta Williams.
“Minha personalidade sempre foi a de internalizar muito. Especialmente entre os homens, tendemos a internalizar muito porque sentimos que temos que carregar o peso do mundo nas costas”, afirma. “Mas ao fazer isso, ao internalizar, você está adoecendo. Essa internalização leva ao estresse, e isso pode levar a doenças cardíacas, a AVCs, a câncer.”
Inspirado por seus próprios desafios de saúde, Williams lançou a organização sem fins lucrativos Heart, Body & Soul, com sede no Brooklyn, para conectar comunidades negras e de baixa renda, especialmente homens negros, a ferramentas de saúde física e mental, além de aumentar o diálogo com os profissionais de saúde para melhorar a saúde geral.
“Também ensinamos a se defender, porque grande parte dos desafios enfrentados, especialmente em conversas com homens negros, é a preocupação de não serem vistos ou ouvidos quando chegam ao hospital”, diz Williams, acrescentando que enfatiza a importância de ouvir o próprio corpo e ter um médico de referência.
“Especialmente hoje, quando vemos pessoas sendo diagnosticadas cada vez mais cedo com diversas doenças, acho realmente importante começarmos a priorizar a formação de uma equipe de cuidados”, completa. “Precisamos adotar uma abordagem mais holística para como nos tratamos e cuidamos de nós mesmos.”