A formação de geadas em áreas produtoras de café arábica do Brasil fez os preços futuros da commodity fecharem com forte alta ontem na bolsa de Nova York. Como o Brasil é o maior produtor mundial de arábica, o risco de as lavouras serem prejudicadas pelas geadas estressou o mercado, o que levou os contratos com vencimento em dezembro, os mais negociados atualmente, a subiram 3,60%, para US$ 2,3855 a libra-peso.
As baixas temperaturas da madrugada de domingo e de segunda-feira atingiram regiões cafeeiras importantes, segundo relatos de produtores. Houve formação de geadas no Cerrado Mineiro e na Alta Mogiana paulista.
Em Pedregulho (SP), município que faz parte da Alta Mogiana, áreas do cafezal do produtor Marco Pagliaroni foram afetadas pelas geadas. “Só com o tempo para avaliarmos quanto teremos que sacrificar das lavouras, depois de uma forte seca e um susto de geada”, disse à reportagem.
De acordo com Pagliaroni, é difícil estimar perdas, mas ele calcula que cerca de 50 hectares de café foram afetados com queima das folhagens, condição que pode causar a morte da planta e a consequente perda de produção na próxima safra, a 2025/26.
“Esses hectares que sofreram com a geada da madrugada eram os mesmos que passaram pela última [geada] de 2021 e que tínhamos acabado de recuperar. Em dez anos, houve três geadas que afetaram a mesma área. Isso faz com que repensemos se vamos continuar plantando café naquele lugar ou não”, afirmou.
Vicente Zotti, analista do mercado de café da Pine Agronegócios, afirmou que as geadas dos últimos dias afetaram especialmente as áreas de baixada, que são as mais suscetíveis ao fenômeno climático.
“Não dá para falar que a geada atingiu 1% do parque cafeeiro, mas para quem teve a área afetada o cenário atual é péssimo”, afirmou Zotti, acrescentando que a última vez que o frio extremo atingiu os cafezais em agosto foi em 1978, ano em que o fenômeno ficou conhecido como ‘geada negra’ e dizimou plantas em áreas do Paraná.
O diretor executivo da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, Juliano Tarabal, confirmou a ocorrência de geada em áreas de baixada do Cerrado Mineiro. Ele disse que houve registro de geadas pontuais em municípios como Rio Paranaíba, Patrocínio, Araxá, Ibiá e Indianópolis. “Foram casos de geada na madrugada de sábado para domingo e de domingo para segunda-feira. Mas foram casos isolados, nada que assuste ou tenha proporção mais elevada”, afirmou Tarabal.
Segundo ele, embora não haja registro de folhagem queimada em cafeeiros, a geada pode ter impacto na formação dos botões florais. “É cedo ainda para calcular o impacto. A frente fria está projetada até terça-feira [hoje]. Temos mais uma noite para acompanhar”, afirmou.
A Rural Clima alerta para possíveis novas geadas em regiões cafeeiras do sul de Minas Gerais e de São Paulo. “O tempo está mais aberto e a perda de radiação solar está alta. Com isso, há possibilidade de geadas mais amplas amanhã [hoje]”, disse Marco Antônio Santos, da Rural Clima.
Na Cooperativa Regional dos Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), os técnicos agrícolas estão em campo no momento, levantando eventuais perdas, mas “em princípio não há nada que aponte alguma gravidade”, informou a cooperativa, em nota.
Em meio a um cenário de apreensão com o frio extremo em áreas cafeeiras, Vicente Zotti, da Pine, afirmou que o sul de Minas, principal região produtora de arábica do país, até o momento, não foi prejudicado pelas baixas temperaturas, conforme relatos colhidos por ele.
As previsões de frio são um combustível para novas altas do grão em Nova York, mas caso elas não se confirmem, o mercado pode tomar uma direção contrária, observou Zotti. “Se não tivermos formação de geada em áreas de baixada até sexta-feira [16] podemos ver em Nova York uma devolução dessa alta causada por todo esse prêmio de risco”.