O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, somado a instabilidade no cenário internacional devem gerar mais pressão sobre o Banco Central (BC) para conter a inflação e trazê-la para a meta de 3%. A avaliação foi feita por economistas ouvidos pela CNN.
“A resiliência do consumo e do investimento reforça a percepção de que a economia está crescendo acima de seu potencial, com um hiato do produto positivo. O Banco Central enfrenta o desafio de ajustar a taxa de juros reais de forma a alinhar o ritmo de crescimento econômico à meta de inflação de 3,0%, em um contexto de expectativas desancoradas e significativa depreciação cambial”, avalia Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo.
Além do alerta, o aperto da política monetária pode esbarrar nas perspectivas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nos próximos trimestres, na avaliação dos economistas.
Os setores de Serviços (0,9%) e Indústria (0,6%) foram destaques, enquanto o consumo da família foi pelo lado da demanda, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça (3).
Na contramão, a Agropecuária recuou 0,9% no período. Em valores correntes, foram gerados R$ 3,0 trilhões.
Para Claudio Considera, pesquisador associado da FGV/Ibre, em entrevista ao CNN Money disse que resultados desta terça são positivos para a economia, indicando um crescimento estável.
“A perspectiva é que a economia [para próximos trimestre] continue crescendo, terminando este ano em 3,5%. A queda na desocupação, aumento de renda médio e aumento no consumo, com crescimento positivo em diversos setores”, explica.
Neste trimestre, o Consumo das Famílias cresceu 1,5%, décimo quarto trimestre de alta consecutiva. Expansão foi influenciada principalmente por programas governamentais e melhora no mercado de trabalho.
O pesquisador retoma a preocupação e pontua que esse aquecimento da economia deve levar o Banco Central (BC) a sustentar o atual aperto da política monetária para frear a inflação.
“Há uma queda na inflação, o que pode amenizar a necessidade de aumentar a taxa de juros novamente. Espero que o BC dose um pouco essa questão do controle da inflação devido ao crescimento”, ressalta.
Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, ressalta que dados indicam um crescimento geral disseminado, tanto pela oferta quanto pela demanda, e com recuo da agropecuária.
“Por outro lado, essa força da atividade reforça o desafio para o BC, que deve manter a parte curta da curva de juros pressionada”, ressalta.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), em nota, afirma que a indústria teve bom desempenho puxado por crescimento contínuo de subsetores industriais.
“A indústria de transformação continuou apresentando desempenho positivo, ao crescer 1,3% no 3º trimestre. Com este resultado, o segmento registra o quinto trimestre consecutivo sem quedas, favorecido pelo bom desempenho da categoria de bens de capital e bens de consumo duráveis”, diz o comunicado.
No entanto, indica que o cenário positivo pode passar por desafios no próximo ano.
“O cenário atual aponta para uma desaceleração do ritmo de crescimento da economia brasileira em 2025. O maior aperto das condições financeiras somado ao menor impulso fiscal à frente e ao cenário externo mais desafiador tende a limitar o ritmo de expansão da atividade, sobretudo dos setores mais cíclicos.”
Recuo da Agropecuária
No terceiro trimestre, a Agropecuária recuou 0,9% em relação ao trimestre anterior. Queda é puxada pela perda de produtividade da safra deste ano, como cana (-1,2%), milho (-11,9%) e laranja (-14,9%).
Esses recuos suplantaram o bom desempenho de culturas como algodão (14,5%), trigo (5,3%) e café (0,3%), que também possuem safras relevantes no período.
Felippe Serigatti, pesquisador do Centro de Agronegócios da FGV Agro, explica que setor possivelmente não irá reverter quedas neste ano.
“O resultado do PIB do 4° trimestre, não faz muita diferença se agro terá crescimento ou contração, pois a quase totalidade da produção agropecuária do ano já foi realizada nos três primeiros trimestres”, explica.
Para o pesquisador, em termos de volume de produção, as perspectivas são favoráveis para o próximo ano.
“Apesar do atraso no plantio da safra de verão devido à La Niña, as chuvas estão se normalizando e devemos operar em clima neutro a partir do final do 1° trimestre. Deve ser um cenário positivo para a atual safra especialmente”.