A chegada da primavera sinaliza o início de um período crucial para a produção de maçãs: a floração das macieiras. O processo, que normalmente se inicia em meados de setembro e se estende até a primeira semana de outubro, este ano dura um pouco mais, e deve se encerrar nos próximos dias.
A safra 2024/25 está apenas começando nas principais regiões produtoras do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, mas as expectativas da Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM) são otimistas. A estimativa é de que a produção supere a safra anterior, que registrou a colheita de 832 mil toneladas em fevereiro.
A Rasip, uma das maiores companhias do setor, sediada em Vacaria (RS), também tem boas expectativas para a colheita, de um incremento de aproximadamente 20% em comparação ao ciclo anterior. “Ano passado tivemos problemas com fixação de frutas em razão do excesso de chuvas, aliado ao estresse das plantas que ocasionaram em maçãs de menor tamanho e peso. Para 2025 a previsão é de condições normais, por isso o aumento da safra e a expectativa de colher em torno de 60 mil toneladas”, informa Celso Zancan, diretor da Rasip.
Há um ano, no entanto, entre setembro e outubro, chuvas atingiram a região Sul do Brasil, maior produtora da fruta, afetando a temporada de florada. “Na época, tivemos 500 milímetros de chuva por mês, o que afetou o pegamento das flores, além de gerar doenças”, lembra Zancan, que também é diretor comercial e logística de mercado externo da ABPM. “Com o inverno um pouco irregular, a florada está um pouco mais estendida, e ainda temos alguns botões”, conta.
Para a safra 2024/25, o Brasil tem potencial produtivo de até 1,1 milhão de toneladas de maçã por safra, com uma expectativa de crescimento nesta safra de 15 a 20% em comparação ao último ciclo, avalia Zancan.
“O inverno deste ano é mais favorável do que o de 2023 e não devemos enfrentar um ciclo de chuvas excessivas como o da última safra. Acreditamos em uma recuperação significativa no volume de produção”, destaca Moisés Lopes de Albuquerque, diretor-executivo da ABPM.
A colheita da última safra foi finalizada em fevereiro e, por esse motivo, não chegou a ser afetada pelas chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul durante o mês de maio. Apesar disso, alguns efeitos foram sentidos. “Com o solo encharcado por muito tempo, a raiz não conseguia respirar, se perdeu algumas mudas e tivemos uma brotação um pouco irregular, mas nada grave dentro da situação”, avaliou Zancan.
Perdas devido ao clima
Segundo a pesquisadora de fisiologia vegetal e fruticultura da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) Mariuccia De Martin, a florada deste ano foi prejudicada em algumas localidades, reflexo do clima adverso do último ciclo, com períodos de temperaturas muito elevadas e excesso de chuvas. As condições afetaram a formação de flores. Além disso, algumas produções tiveram desfolha precoce.
O excesso de chuvas, como vivido na safra 2023/24, provoca diferentes efeitos na produção. “Em quase todo o ciclo, [a chuva] dificulta a entrada nos pomares para tratamentos fitossanitários, além de tratamentos, raleio manual, entre outros”, explica a pesquisadora.
As fortes precipitações ainda podem provocar a lixiviação de nutrientes do solo, influenciar na incidência de doenças e no aumento de aplicações para tratá-las. Além disso, o excesso de chuvas em qualquer momento do ciclo diminui a fotossíntese, o que pode impactar o tamanho e qualidade de frutos, sabor, coloração e outros aspectos.
Mariuccia explica que são muitas as variáveis para garantir uma boa produção, como um bom inverno, tempo aberto para a polinização ter sucesso, raleio e cuidados adequados do produtor, além de boas condições climáticas até o momento da colheita, em fevereiro. Assim, segundo a pesquisadora, ainda é muito cedo para afirmar como será a safra 2024/25 da maçã.
Na região produtora de São Joaquim, em Santa Catarina, o acúmulo de horas de frio e luminosidade no inverno foram na média. No entanto, outras regiões tiveram invernos piores, o que influencia na formação de flores para a próxima safra.
“O que preocupa bastante é que vamos ter os próximos dias com o tempo bem fechado. Agora é importante que, mesmo assim, os produtores consigam ser efetivos nas práticas de raleio”, diz. Ela espera que as condições chuvosas não se prolonguem tanto, especialmente em razão dos tratos importantes para a época, que regulam o crescimento.
“As condições na pré-colheita não podem ter falta de chuva ou excesso, e uma coisa que é interessante ter é bastante luz e tempo aberto para a fruta ganhar bastante cor, mas sem temperaturas mais altas, especialmente à noite”.
Segundo Zancan, mesmo com as variáveis do clima, a temperatura atual na região produtora está propícia para o trabalho das abelhas, que não gostam nem de muito frio e nem de muito calor. A temperatura acima de 14 graus é a condição ideal para esse momento da cultura.
Para garantir seu sucesso, a polinização por abelhas deve acontecer para a fecundação das flores. Segundo a ABPM, mais de 7,5 bilhões de abelhas atuam nos pomares, promovendo a polinização cruzada que garante a qualidade e volume de produtividade da fruta.
“Quanto mais eficiente for a polinização, maior será a quantidade de sementes que produzem hormônios vegetais, resultando em frutas com formato e qualidade superiores”, afirma Celso Zancan, diretor Para atender à demanda, entre 100 e 150 mil colmeias devem ser distribuídas nas regiões produtoras, como Vacaria e Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, e São Joaquim e Fraiburgo, em Santa Catarina, estima a Associação.