Pesquisadores do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da Universidade São Paulo (USP) criaram um fertilizante de vidro que oferece uma alternativa inovadora para o manejo do solo e o meio ambiente. A novo fertilizante foi desenvolvido em parceria com a Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) e com o apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
O produto atua liberando nutrientes de forma gradual, ao longo do tempo, reduzindo a necessidade de reaplicações frequentes, como ocorre com os fertilizantes convencionais do tipo NPK.
“Nosso fertilizante é um material no estado vítreo, que foi sintetizado com concentrações adequadas de fósforo, silício e potássio, combinadas com outros compostos em menores concentrações, como molibdênio, magnésio, boro e cálcio. Esses compostos apresentam solubilidade em água e no solo.”, explica o professor Danilo Manzani do IQSC, que é um dos responsáveis pelo estudo.
Outro diferencial do fertilizante vítreo é a possibilidade de formulação de composições personalizadas para culturas específicas, com diferentes combinações de macro e micronutrientes. “Os vidros desenvolvidos funcionam como uma matriz altamente versátil, permitindo a inserção de diversos elementos químicos e abrindo espaço para adaptações sob medida”, explica.
Os experimentos iniciais foram realizados com capim piatã, uma forrageira da família das braquiárias. De acordo com José Hermeson da Silva Soares, doutorando do IQSC e um dos autores do estudo, os testes mostraram que a eficiência agronômica foi maior em solo de textura média, onde a retenção de nutrientes ocorre de forma mais equilibrada.
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Pesquisas de campo
Com os resultados positivos obtidos de testes em ambiente controlado, a próxima etapa da pesquisa será a realização de testes em campo, previstos para o segundo semestre de 2025, em parceria com a Embrapa Pecuária Sudeste, localizada em São Carlos (SP).
Nessa fase, os pesquisadores vão testar tanto os grânulos vítreos tradicionais quanto uma nova versão encapsulada com biopolímeros contendo nitrogênio. De acordo com Manzani, a encapsulação, além de proteger o material, permite contornar uma limitação técnica: o fato de o nitrogênio não poder ser incorporado diretamente ao vidro devido às altas temperaturas de produção, que podem ultrapassar 1000 °C.
Ainda não há previsão para a chegada do produto ao mercado, mas os pesquisadores já estão em processo de obtenção de patente das composições desenvolvidas. “A longo prazo, a ideia é que a tecnologia permita a produção em escala de fertilizantes vítreos ajustados à necessidade de cada cultura, o que traria ganhos significativos em eficiência agronômica, redução de impactos ambientais e otimização de recursos naturais”, diz o pesquisador.
O grande diferencial da tecnologia é a natureza do vidro como material. Por ser um líquido super-resfriado em estado sólido, o vidro permite uma flexibilidade única de composições, funcionando como um veículo ideal para a liberação planejada de nutrientes em formas realmente absorvíveis pelas plantas.
“Ao contrário de fertilizantes minerais comuns, que nem sempre têm seus nutrientes aproveitados pelas raízes — com absorção estimada em apenas 15% a 20%, o fertilizante vítreo pode atingir taxas bastante superiores de aproveitamento, além de evitar a contaminações”, observa o pesquisador.