Enquanto o vírus da febre aftosa continua endêmico na Europa, África, Ásia e partes da América do Sul, o Brasil será reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) como área livre da doença sem vacinação. O país não registra um caso da doença desde 2006.
O certificado deve ser entregue em evento previsto para o mês de maio, seguido por uma celebração em Paris, em junho, revelou Carlos Fávaro, ministro da Agricultura e Pecuária, durante audiência pública no Senado Federal em 19 de março.
O reconhecimento, além de destacar o sucesso do trabalho sanitário no Brasil, deve abrir mercados e viabilizar o acesso da carne bovina a países exigentes ao escolher a origem da proteína.
O que é a febre aftosa?
A doença infecciosa aguda é causada por um vírus do gênero Aphtovirus que possui seis sorotipos endêmicos – A, O, SAT1, SAT2, SAT3 e Asia1 – e atinge bovinos, búfalos, caprinos, ovinos, suínos, além de animais silvestres, como javalis, capivaras, cervídeos, bisão, elefantes, girafas, lhamas, alpacas e camelos bactrianos.
Nos bovinos, o principal sinal é a presença de vesículas (bolhas, úlceras ou cicatrizes) nas mucosas nasal e oral (gengivas, pulvino dental, palato e língua), focinho, banda coronária, espaço interdigital e glândula mamária. No entanto, há outros sintomas:
- Febre alta;
- Perda de peso;
- Enfraquecimento;
- Sialorreia (excesso de saliva);
- Descarga nasal;
- Claudicação (corpo inclinado para um lado);
- Prostração (cansaço);
- Diminuição na produção de leite;
- Malformações do casco;
- Mastite.
Como o vírus é transmitido?
Quando um animal está contaminado, é comum que os demais que ficam no mesmo espaço também adoeçam. O contágio ocorre de forma direta, pelo contato entre eles, ou indireta, como água, alimentos, trânsito de pessoas, equipamentos, materiais, veículos e vestuários.
Qual a situação no Brasil atualmente?
Em abril de 2024, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou que 16 Estados, mais o Distrito Federal, estavam livres da febre aftosa sem vacinação: Amapá, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Piauí, Rio de Janeiro, Roraima, São Paulo, Sergipe e Tocantins.
O anúncio abriu as portas para que o país buscasse a aprovação da Organização Mundial de Saúde Animal, órgão que exige a suspensão da vacinação contra a doença e a proibição do ingresso de animais vacinados por, no mínimo, um ano.
Até então, o reconhecimento internacional de zona livre de febre aftosa sem vacinação foi dado apenas a Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Acre, Rondônia e partes do Amazonas e de Mato Grosso.
Abertura de mercados
Livre do vírus e prestes a receber o reconhecimento internacional da OMSA, o Brasil se prepara para expandir a venda de carne bovina a outras nações. Um dos alvos é o Japão, que importa 700 mil toneladas por ano. Por enquanto, a origem principal da proteína consumida é dos Estados Unidos e da Austrália.
Uma das ações para atingir o objetivo foi a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país asiático nesta semana. Entre os assuntos debatidos com o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, esteve a segurança sanitária.
“A carne brasileira tem muita qualidade. Hoje, a carne brasileira compete com qualquer carne de qualquer país do mundo. E temos uma carne livre de febre aftosa. O Brasil está pronto. O que ouvi do primeiro-ministro é que ele vai, o mais rápido possível, mandar especialistas para analisar os rebanhos brasileiros e depois vamos ver se eles vão tomar a decisão. Eu acredito que ainda este ano a gente vai ter uma solução nessa questão da carne”, disse Lula.