Uma fazenda de 60 hectares localizada no distrito de Banco do Pedro, no município de Ilhéus, tornou-se o maior centro de multiplicação de mudas de cacau do mundo, com o objetivo de distribuí-las para agricultores familiares da região. No século passado, o terreno pertenceu a um coronel do cacau.
Hoje, o chamado Instituto Biofábrica da Bahia (IBB) abastece quintais produtivos com mudas de diversos cultivos, permitindo que pequenos agricultores se sustentem do que plantam e adquiram conhecimento agronômico. É o que destaca Valdemir dos Santos, diretor-presidente da instituição, que foi comprada pelo governo da Bahia em 1997, mas é gerenciada por uma organização social.
“A biofábrica foi pensada em um momento de crise da gestão cacaueira. Em 1989, com a chegada da vassoura-de-bruxa, um grupo de produtores, cooperativas e associados idealizou uma estrutura para a produção de mudas em grande escala, com uma demanda semelhante à de uma fábrica. Por isso, chamamos de biofábrica”, explica Santos.
Na época, não havia clones ou material genético de cacau resistente à doença, o que motivou a criação de um espaço para o estudo desses materiais. Com o passar dos anos, a multiplicação de mudas expandiu-se para outras culturas, como mandioca e abacaxi, além de mudas florestais destinadas à recomposição das áreas de plantio da região.
Em 2019, a Biofábrica já mantinha dez variedades de mudas frutíferas, 12 clones de cacau, 14 variedades de essências florestais e mais de 100 variedades de mandioca, além de orquídeas. Recentemente, foi implantado o Kit SAF – Sistemas Agroflorestais, que reúne mudas de cacau, açaí, graviola, abacaxi, urucum, goiaba, banana, mandioca, ipê, leucena, pau-cigarra, pau-brasil, olho-de-pavão, entre outras.
Hoje, o Instituto é a maior unidade mundial voltada para a produção contínua e em escala industrial de genótipos de cacaueiros selecionados, resistentes a doenças, às mudanças climáticas e de alta produtividade. O local também abriga a maior área de viveiro em campo aberto do mundo, com 40 mil metros quadrados, 20 viveiros e capacidade para armazenar até 4,8 milhões de plantas.
Além disso, conta com um dos mais avançados laboratórios de micropropagação do Brasil, empregando a comunidade local. São gerados mais de 100 empregos formais. Santos ressalta que a unidade é um polo de pesquisa, o que incentivou muitas mulheres a trabalhar com cacau, resultando na criação de um projeto voltado à participação feminina na agricultura regional.
É o caso de Simone Dantas, que trabalha com a técnica de enraizamento, que consiste em replantar hastes de cacau, que foram cortadas de forma específica para poderem gerar mudas em quatro meses. Antes da biofábrica, Simone era trabalhadora rural e atuava na enxertia do cacau, mas só conquistou independência financeira ao ser contratada pelo IBB.
“Sei de ponta a ponta o que o cacau precisa junto com minhas colegas, porque aqui é a mulherada que comanda. Não me vejo fora do campo e tenho esperança de que eu e meus vizinhos vamos agregando conhecimento e ensinando nossos filhos a permanecerem trabalhando na terra”, conta.
O objetivo é que o Instituto se torne a principal fonte de renda para as quase 200 famílias de Banco do Pedro, garantindo, sobretudo, a permanência das novas gerações na zona rural. O acesso ao distrito se dá por uma estrada vicinal de terra, no caminho entre Ilhéus e Itabuna.
Para Sidney Alves, supervisora de produção do IBB e moradora de Banco do Pedro, a biofábrica transformou a região e foi essencial para salvar a cultura cacaueira. Ela começou na instituição realizando serviços gerais e, atualmente, trabalha ao lado de sete mulheres, ensinando como replicar mudas.
“A biofábrica é muito importante na minha vida, porque sou mãe de três filhos e foi daqui que tirei o sustento e a educação deles, assim como acontece com muitas outras famílias”, relata Sidney.