O faturamento das cooperativas agropecuárias brasileiras recuou levemente em 2023, para R$ 423,1 bilhões, após dois anos de fortes altas. A retração é explicada pela acomodação dos preços das principais commodities agrícolas e dos insumos. Em 2021 e 2022, os ingressos — como são chamadas as receitas no segmento — haviam atingido R$ 358,4 bilhões e R$ 429,9 bilhões, respectivamente, no embalo dos recordes de safra e de cotações dos grãos durante a pandemia.
Com isso, os lucros (ou as sobras, no jargão cooperativista) caíram de R$ 22,5 bilhões em 2022 para R$ 20,4 bilhões em 2023.
Os dados fazem parte do Anuário do Cooperativismo 2024, que será divulgado nesta quarta-feira (31) pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). “A leve redução [do faturamento] não significa que o cooperativismo agropecuário teve um desempenho negativo em 2023, já que o importante de ser observado são as margens e sobras da atividade das cooperativas, assim como a capacidade de potencializar os negócios dos cooperados, gerar renda e prosperidade”, afirmou a OCB.
O anuário mostra que o país tinha, até dezembro de 2023, 4.509 cooperativas. Dessas, 1.179 eram do setor agropecuário, com mais de 1 milhão de cooperados e 257,1 mil empregos diretos gerados.
Minas Gerais é o Estado com o maior número de cooperativas agropecuárias (186). A região Sudeste concentra a maior parte das cooperativas do ramo (330) e o Sul tem mais cooperados (558,5 mil) e mais pessoas empregadas (201,5 mil). Foram quase R$ 11,7 bilhões aplicados em salários e benefícios aos empregados em todo o Brasil.
A maior parte das cooperativas atua no ramo de produtos não industrializados de origem vegetal, como a produção de grãos. São 684, ou 58% do total. Na sequência, estão as cooperativas de insumos (510), de produtos de origem animal não industrializados (395), de serviços (387), de produtos industrializados de origem vegetal (323), de bens de fornecimento (275), de produtos industrializados de origem animal (205) e de escolas técnicas de produção rural (26).
O anuário também mostra a intercooperação, ou seja, os negócios feitos entre diferentes segmentos do cooperativismo. As cooperativas agropecuárias negociaram, principalmente, com as cooperativas de crédito. O documento também mostra a relevância do segmento nas exportações. Só no agronegócio, que exportou US$ 166,4 bilhões em 2023, a fatia das cooperativas chega a 7,1%.
O presidente da OCB, Márcio Lopes de Freitas, disse que os resultados exigem do cooperativismo agropecuário gestão e governança em 2024, principalmente em relação às decisões financeiras e comerciais dos negócios, em meio ao ambiente de volatilidade dos preços e às adversidades climáticas e sanitárias.
“São variáveis que forçam o corpo diretivo das cooperativas agropecuárias a realizarem uma gestão ainda mais ativa e com tomada de decisão cada vez mais assertiva, fazendo diferença não somente no resultado do negócio coletivo, mas também na vida dos cooperados”, afirmou Freitas à reportagem.
Ele prega a necessidade de um olhar para as demandas dos produtores cooperados “antes da porteira” e “depois da porteira”, como a agregação de valor aos produtos e serviços. “Esses são diferenciais do cooperativismo que devem ser potencializados para que os riscos das atividades produtivas do agronegócio sejam diluídos entre os elos da cadeia e possibilitem um escudo aos riscos e rentabilidade aos negócios”, completou.
Em 2023, o cooperativismo brasileiro em geral gerou R$ 692 bilhões em faturamento. O valor representa um crescimento de 5,5% em relação aos R$ 655,8 bilhões de 2022. O resultado é o somatório dos setores agropecuário, de transportes, crédito, saúde, infraestrutura, trabalho, produção de bens e serviços e consumo. A distribuição de sobras chegou a R$ 38,9 bilhões aos cooperados, que já somam 23,45 milhões de pessoas, mais de 11,5% da população.
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