Enzo Maresca considera que a maior conquista para o Chelsea nesta temporada será que “todos falem sobre a forma como joga e vence o time inglês”. Mesmo com o título da inédita Copa do Mundo de Clubes tão perto. O técnico italiano é de fato um personagem — de alguns livros — com muitas peculiaridades, para além do universo da tática no futebol.
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A campanha do Chelsea nesta Copa do Mundo trouxe ainda mais holofotes para Maresca, que chamou atenção nas últimas semanas por suas declarações sem parcimônias. Ele reclamou do “estádio vazio” na estreia contra o Los Angeles FC, do calor nos Estados Unidos — “É quase impossível treinar” —, das paralisações por alertas climáticos, da quantidade de jogos em relação ao Fluminense…
Eu assisti ao jogo, mas pela televisão. A temperatura estava fantástica no meu hotel”.
— Enzo Maresca, sobre ter visto Real Madrid x Borussia Dortmund
O italiano, aliás, deu uma cutucada nos jornalistas brasileiros durante a entrevista coletiva antes do jogo contra o Paris Saint-Germain, por causa sa polêmica do calendário: “Têm dificuldade de entender”. Ele também provocou um britânico sobre o Chelsea precisar se preparar para sofrer sem a bola diante do PSG: “Quem disse isso? Veremos em dois dias”.
Esse lado “afrontoso” do treinador não é exatamente uma novidade. Quem acompanhou o Chelsea no último ano se acostumou com isso. Lembremos do “Podem ter 20 anos de contrato, eu não ligo”, quando questionado em agosto sobre saídas no elenco inchado, ou do “não é do tipo de ponta que eu gosto”, sobre o atacante Sterling.
Enzo Maresca não tem papas na língua. Por outro lado…
Hoje com 45 anos, o italiano chegou a Londres em junho do ano passado. O Chelsea pagou 10 milhões de libras (cerca de 66 milhões de reais na época) como compensação para tirá-lo do Leicester. Contrato até junho de 2029. Maresca tinha como maior credencial o título da Championship 2023/24, em seu terceiro trabalho como técnico principal.
A primeira experiência no futebol profissional havia sido no Parma, entre 2021 e 2022. Ele durou apenas 15 jogos, diante da campanha ruim na Série B da Itália. Antes disso, comandou a equipe sub-23 do Manchester City na temporada 2020/21, seu primeiro passo como treinador principal. O time conquistou naquele ano a Premier League 2 pela primeira vez.
Parênteses aqui sobre a relação de Maresca com o City. Ele fez parte da comissão técnica de Pep Guardiola e foi auxiliar na histórica temporada 2022/23, quando o time inglês conquistou a Tríplice Coroa: Copa da Inglaterra, Premier League e Champions League.
— Reconheci o Chelsea dele desde o primeiro dia, até quando nos enfrentamos na pré-temporada. Eu tive muita sorte de trabalhar com eles nos últimos anos — comentou Guardiola, em janeiro.
Números de Enzo Maresca como técnico no futebol profissional
| Equipe | Vitórias | Empates | Derrotas |
| Chelsea | 40 | 9 | 14 |
| Leicester | 36 | 4 | 13 |
| Parma | 4 | 5 | 6 |
Fonte: ogol
Enzo também trabalhou como auxiliar no West Ham, por só um ano, brevemente no Ascoli, da Itália, e em 2017/18 no Sevilla. Foi no clube espanhol que ele viveu seu auge nos tempos de jogador. Atuou como meia, volante, zagueiro, o que precisasse.
Maresca conquistou duas Copas da Uefa pelo Sevilla (2005/06 e 2006/07), seguidas, mais uma Supercopa da Europa, uma Copa do Rei e uma Supercopa da Espanha. Ele defendeu o clube espanhol em 141 jogos, de um total de 491 como jogador profissional.
Também vestiu as camisas de Juventus (atuou ao lado de Zidane), Fiorentina e Olympiacos, entre outros clubes. Ele foi “tutelado” na Grécia por um dos maiores nomes do futebol mundial.
— Eu tive muita sorte de jogar com o Zico. Primeiro, ele é uma grande pessoa, e foi uma ótima experiência com um dos maiores jogadores de todos os tempos. Falando com ele, você percebe como um jogador diferente vê o futebol — contou Maresca, em entrevista no passado ao site oficial do Manchester City.
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Apesar da carreira bem-sucedida em clubes de diferentes países da Europa e das passagens por seleções de base, Enzo Maresca nunca foi convocado para a equipe principal da Itália. Ele pendurou as chuteiras em 2017. Dali foi pouco tempo até se reunir no West Ham com Manuel Pellegrini, um de seus antigos treinadores. Uma lista que também conta com os pesos-pesados Marcello Lippi e Carlo Ancelotti, hoje comandante da seleção brasileira.
Ter sido treinado por alguns dos melhores técnicos da Europa nas últimas décadas, com perfis tão diferentes, enriqueceu a bagagem do ex-volante, que se formou no Centro Técnico da Federação Italiana de Futebol, em Coverciano. Também chamado de “Universidade do Futebol”.
O italiano não tem nem 10 anos como treinador profissional, mas já virou tema de livros. São pelo menos três, em inglês, que abordam a sua carreira como atleta, as suas inovações táticas, processos de tomadas de decisão e perfil de liderança. Mas o aspecto mais curioso nessa área seja a tese que ele mesmo escreveu comparando futebol ao xadrez, com mais de 7 mil palavras. Enzo acredita que o jogo de tabuleiro pode desenvolver a mente de um técnico de futebol.
— Gosto muito de xadrez, vejo muitas similaridades com o futebol. A nível tático, cada jogo tem movimentos que considero importantes. Ação e reação. Gosta do xadrez, mas principalmente do pensamento dos jogadores de xadrez — comentou Maresca, nesta sexta-feira.
