Um volume de 1,826 milhão de sacas de café, correspondente a 5.534 contêineres, ficaram armazenadas nos principais portos brasileiros sem conseguir embarque em 2024, conforme levantamento realizado pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) com empresas associadas.
“O motivo desses não embarques foram os elevados e constantes atrasos e alterações de escala de navios para exportação, além de frequentes rolagens de cargas”, explicou,em nota, o diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron.
Segundo ele, esses entraves na logística nos portos brasileiros causaram um “prejuízo portuário” de R$ 9,208 milhões aos exportadores de café em dezembro, devido a custos extras com armazenagens adicionais, detentions, pré-stacking e antecipação de gates. De junho – quando o Cecafé iniciou o levantamento – a dezembro de 2024, o prejuízo acumulado dos exportadores somou R$ 51,54 milhões.
Levando em consideração um preço médio Free on Board (FOB) de exportação de US$ 304,25 por saca (café verde) e a média de R$ 6,0964 do dólar em dezembro, o não embarque desse café implica que o Brasil deixou de receber, nos 12 meses do ano passado, US$ 555,62 milhões, ou R$ 3,387 bilhões, como receita cambial.
De acordo com Heron, os gargalos logísticos também trazem prejuízos aos produtores brasileiros de café, que, em sua maioria, são da agricultura familiar. “O Brasil é o país que mais transfere o preço FOB da exportação a seus cafeicultores e o não embarque do produto, por limitações de infraestrutura portuárias, reduz o repasse de capital a eles”, detalhou.
O dirigente do Cecafé defendeu investimentos nas estruturas de escoamento como forma de amenizar o atraso nos embarques do grão.
“Os imbróglios na logística e os prejuízos que nossos exportadores acumulam demonstram um esgotamento da estrutura portuária e que se fazem cada vez mais urgentes investimentos para ampliar capacidade de pátio e berço, melhorar as condições de rodovias, ferrovias e hidrovias e aprofundar o calado para o recebimento de embarcações maiores”, analisou.
Atrasos
Conforme o Boletim Detention Zero (DTZ), elaborado pela startup ElloX Digital, 71% dos navios, ou 206 de um total de 290 porta-contêineres, tiveram atrasos ou alteração de escalas que impactaram o resultado das exportações de café, nos principais portos do Brasil, em dezembro do ano passado.
O tempo mais longo de espera no mês retrasado foi de 56 dias, registrado no maior porto do Hemisfério Sul, em Santos (SP). Além disso, 40 navios sequer tiveram abertura de gate no cais santista.
De acordo com os dados do Boletim DTZ, o Porto de Santos, que respondeu por 68% dos embarques de café no acumulado de 2024, registrou um índice de 84% de atraso ou alteração de escalas de navios em dezembro, o que envolveu 132 do total de 157 embarcações.
Ainda no mês retrasado, apenas 9% dos procedimentos de embarque tiveram prazo maior do que quatro dias de gate aberto por navios no embarcadouro santista. Outros 36% possuíram entre três e quatro dias e 54% tiveram menos de dois dias.
Exportações recordes
A despeito do atraso para o embarque de café nos portos, o Brasil obteve resultados expressivos nas vendas externas do grão. Foram mais de 50,4 milhões de sacas negociadas com o exterior, um volume recorde e que foi 28,5% maior do que o de 2023, segundo o Cecafé.
A entidade lembrou que não fossem os problemas de embarques nos portos, o resultado seria ainda maior.