Um novo estudo liderado por pesquisadores americanos e publicado na revista Current Biology na última segunda-feira (20/10) investigou até que ponto o corpo humano consegue sustentar altos níveis de gasto energético ao longo do tempo — e descobriu que existe, sim, um teto metabólico.
Para entender o fenômeno, os cientistas recrutaram 14 atletas de ultrarresistência — corredores de ultramaratona, ciclistas e triatletas de ponta — e acompanharam seu gasto energético em eventos extremos de curta e longa duração, durante semanas e até meses de treinamento e competição.
Durante os momentos mais intensos (corridas muito longas, vários dias), alguns atingiram taxas de gasto de seis a sete vezes sua taxa metabólica basal (TMB, ou BMR) — ou seja, queimando aproximadamente 7 mil a 8 mil calorias por dia.
No entanto, quando o período de observação se estendeu para 30 a 52 semanas, os valores médios se estabilizaram em cerca de 2,4 vezes a TMB. Esse parece ser o limite que o corpo humano pode sustentar por longos períodos.
O gasto energético basal, ou TMB, refere-se à quantidade mínima de energia que o organismo consome para manter funções vitais em repouso — como respirar, manter a temperatura corporal e o funcionamento dos órgãos.
O estudo sugere que, sim, nós podemos “acelerar” esse gasto — por exemplo, com treinos extremos — mas o corpo tem mecanismos de compensação que impedem que o gasto suba indefinidamente ou permaneça em níveis altíssimos por muito tempo.
Entre esses mecanismos estão reduções automáticas em outras formas de gasto energético que não estão diretamente ligadas ao exercício intenso — por exemplo, diminuir movimentos involuntários, dormir mais, reduzir atividade espontânea ou pequenas tarefas físicas.
Os pesquisadores observaram que, à medida que os atletas dedicavam mais energia ao exercício, seu corpo inconscientemente economizava energia em outras áreas. Ou seja: se uma pessoa perder muitas calorias com treino extremo, o corpo pode desligar gastos menores em outras áreas para compensar — e isso limita a média que se pode manter.
O estudo tem uma amostra pequena (14 atletas), todos de nível extremamente alto — o que significa que os resultados podem não se aplicar integralmente à população geral. É possível também que existam indivíduos excepcionais que consigam manter gastos um pouco maiores, ou que mecanismos ainda desconhecidos permitam “esticar” esse teto.
O estudo indica que o corpo humano tem um limite de gasto energético sustentável ao longo do tempo — cerca de 2,4 vezes a taxa metabólica basal para os atletas mais bem condicionados.
Apesar de momentos de “explosão” nos treinos serem possíveis, manter esse nível por semanas ou meses parece inviável biologicamente sem que o corpo pague um preço em termos de recuperação ou outras funções.
Para praticantes ocasionais de atividades físicas, isso reforça que constância, progressão e recuperação são tão importantes quanto intensidade.