Em busca de alternativas mais saudáveis e que não tragam prejuízos ligados ao álcool, muitas pessoas escolhem bebidas não alcoólicas para o consumo. Embora creditadas assim, isso não significa ausência total da substância — para ser considerada não alcoólica, no Brasil, o produto pode conter até 0,5% de álcool em sua composição. A classificação é determinada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Já versões rotuladas como 0,0% realmente são livres da substância.
A promessa é manter o sabor e a experiência social de beber, mas sem os riscos ligados ao consumo excessivo do álcool, como danos ao fígado e aumento do risco de câncer. De modo geral, as versões não alcoólicas são consideradas seguras para a maioria das pessoas. O rito de brindar permanece, a sensação de pertencimento ao ambiente aumenta e os problemas relacionados ao álcool são minimizados.
No entanto, a ideia de que são opções menos prejudiciais para quem busca uma vida mais saudável deve ser vista com cautela. O consumidor precisa de atenção na hora da escolha.
“O ‘saudável’ depende do produto. Alguns têm açúcar ou adoçantes em excesso, o que pode prejudicar o metabolismo, sobretudo para quem está em controle do peso ou da diabetes”, explica o médico nutrólogo Leandro Marques, do Hospital Brasília Águas Claras.
Cuidados com as bebidas não alcoólicas
Muitas das bebidas não alcoólicas passam por processos industriais parecidos aos de suas versões alcoólicas, com a retirada ou redução do álcool em etapas finais de fabricação. Isso faz com que sejam mantidas características sensoriais muito próximas, como sabor e aroma, mas também explica por que ainda podem carregar traços do álcool.Play Video
A semelhança com o original pode ser prejudicial em alguns casos. Pessoas em tratamento contra o alcoolismo devem evitar esse tipo de bebida. O sabor e o ritual de abrir a embalagem podem servir como gatilho, reativando o desejo e dificultando a recuperação.
Segundo Marques, pessoas com doenças no fígado, como hepatite, esteatose e cirrose, também precisam tomar cuidado. Para esses indivíduos, qualquer contato com o álcool, ainda que mínimo, pode ser prejudicial.
Mesmo não provocando efeitos da embriaguez, a ingestão por crianças e adolescentes não é recomendada em nenhum cenário. “O ato não traz nenhum benefício para essas faixas etárias e ainda pode normalizar o hábito de beber precocemente”, alerta o profissional.
Grávidas também devem evitar
Estudos mostram que não existe quantidade segura de álcool durante a gravidez, mesmo em doses muito pequenas. Por algumas bebidas não alcoólicas terem até 0,5% de álcool, o Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia – órgão norte-americano referência no assunto – não recomenda o consumo desses tipos de bebida durante a gestação.
A médica ginecologista Michele Egidio explica que a ingestão pode levar a um quadro chamado de transtorno do espectro alcoólico fetal, um conjunto de condições que afetam o bebê, causando alterações físicas, dificuldades cognitivas e problemas de comportamento que podem durar toda a vida. Mesmo após o nascimento da criança, os cuidados devem permanecer e a orientação de profissionais é fundamental.
“Alguns estudos já detectaram álcool no leite materno após a ingestão de bebidas não alcoólicas. Mesmo amamentando, a paciente deve perguntar ao pediatra se pode consumir esse tipo de produto”, orienta a médica ginecologista Michele Egidio, do Hospital Santa Lúcia, em Brasília.