“Sem sementes não se faz lavoura.” A frase do professor Tiago Zanatta Aumonde, coordenador adjunto do Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Sementes da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), reflete a importância do setor para a agricultura. Com base nessa premissa, a Associação Brasileira de Tecnologia de Sementes (Abrates) demonstra preocupação com a escassez de mão de obra qualificada e defende o investimento em cursos voltados a capacitar profissionais para a área.
“É algo que não está no radar e que a gente precisa realmente ter um investimento”, afirma Fernando Henning, presidente da Abrates, em entrevista à Globo Rural. Henning é pesquisador da Embrapa Soja e também presidiu o Congresso Brasileiro de Sementes (CBSementes), realizado no mês de setembro em Foz do Iguaçu (PR).
Em levantamento enviado à Globo Rural pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação, o total de programas de pós-graduação no país com o termo ‘sementes’ em linhas e em projetos de pesquisa, entre 2013 e 2023, se manteve estável.
Foram entre 14 a 16 linhas de pesquisa com o termo ‘sementes’ a cada ano, em programas de pós-graduação, e oscilaram entre 221 e 264 projetos de pesquisa, com o termo, desenvolvidos no período. O órgão não especificou a quais instituições de ensino as linhas de pesquisa e projetos estavam ligados.
O presidente da Abrates chama a atenção para a necessidade de um ensino de qualidade, bem como da oferta de disciplinas e cursos voltados ao setor sementeiro. O incentivo à pesquisa no setor público – em órgãos especializados e universidades -, segundo ele, também deve ser impulsionado. “Estou me referindo principalmente à questão orçamentária. Cada vez mais precisamos de especialistas. A descontinuidade de linhas de pesquisa em órgãos que classicamente vinham contribuindo muito nos preocupa”, resume.
Programa
De acordo com o professor Zanatta, o programa de pós-graduação da UFPel é o único do Brasil que forma especificamente em Ciência e Tecnologia de Sementes em níveis de mestrado profissional, mestrado acadêmico e doutorado.
“Temos várias linhas de pesquisa, a gente trabalha com todos os elos da cadeia do negócio de sementes, desde a parte de campo, de pós-coleta até a distribuição”, explica. Por ser o único programa com essa especialidade, a instituição recebe alunos de todo o Brasil, incluindo técnicos e líderes de multinacionais, cooperativas e sementeiras.
Aos 26 anos, o agrônomo Benhur Schwartz Barbosa é aluno do 2º ano do Doutorado em Ciência e Tecnologia de Sementes na UFPel. Ele conta que a meta é seguir a carreira acadêmica, como professor universitário.
“A especialização na área é muito necessária, principalmente tendo em vista a evolução do agronegócio”, considera. Benhur comenta ainda que a pós-graduação é um passo importante para complementar a formação em Agronomia quando se pretende atuar no setor de sementes. “As práticas e as tecnologias se atualizam constantemente, por isso a gente tem que evoluir também e buscar esse conhecimento mais aprofundado”, acrescenta.
Interessado no segmento sementeiro desde a faculdade, o foco da tese do doutorando engloba a utilização de sementes de qualidade na produção de cevada. Por aliar teoria e prática, ele acredita que o programa traz uma visão completa ao aluno e ainda observa a abertura do mercado: “a área emprega muito bem”.
Alavancar a agricultura
Para o professor Zanatta, profissionais capacitados inseridos no setor de sementes podem alavancar ainda mais a produtividade da agricultura brasileira. “Temos potencial para crescer e um grande mercado para atingir. E a educação e a pesquisa nessa área possibilitam recursos e a transmissão não só de ciência, mas de tecnologia de ponta para as empresas e para o produtor, impulsionando o desenvolvimento do país”, avalia.
A fim de atender a demanda e de levar o ensino especializado no setor a mais regiões do Brasil, a UFPel iniciou em 2024 a turma do mestrado profissional em Ciência e Tecnologia de Sementes em Rondonópolis (MT), em convênio com a faculdade IBG. Em 2023, foi concluída a turma em Luís Eduardo Magalhães (BA), por meio de convênio com a Associação dos Produtores de Sementes dos Estados do Matopiba (Aprosem).
O objetivo, segundo Zanatta, é estar próximo às principais regiões produtoras do país. Ele ainda ressalta a importância do setor, que está à frente de várias commodities. “Além do carro-chefe do agronegócio brasileiro, que é a soja, as demais culturas como milho, trigo e arroz são multiplicadas via semente”, enumera.
Para melhores resultados no campo, a qualidade da semente se soma a um conjunto de fatores – lembra o professor -, entre eles tecnologia, manejo adequado e profissionais bem preparados. Ele completa que os grandes players do setor têm isso em mente e investem em pesquisa: “a semente de qualidade é considerada uma estratégia para a alta produtividade no campo”.
*A jornalista viajou a convite da Associação Brasileira de Tecnologia de Sementes (Abrates)